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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/07/2016 01/07/2016 1 / 5 4 / 5
Distribuidora
Disney
Duração do filme
115 minuto(s)

O Bom Gigante Amigo
The BFG

Dirigido por Steven Spielberg. Roteiro de Melissa Mathison. Com: Ruby Barnhill, Mark Rylance, Rebecca Hall, Bill Hader, Jemaine Clement, Penelope Wilton e Rafe Spall.

Ah, Spielberg, Spielberg, Spielberg.... Quando lembro que Caçadores da Arca Perdida e E.T. foram dois dos filmes que ajudaram a solidificar meu amor pelo Cinema e os comparo com os trabalhos que o cineasta vem fazendo nos últimos anos, a decepção só não é maior do que a tristeza. Porém, por mais que eu tenha considerado Indiana Jones e a Caveira de Cristal, Cavalo de Guerra e Lincoln fraquíssimos (Ponte dos Espiões é razoável), ao menos neste período o diretor comandou o excelente As Aventuras de Tintim – num indício de que ao menos seu talento para a fantasia e o lúdico persistia. Pois depois de assistir a O Bom Gigante Amigo, parece que nada sobrou do antigo autor.


Baseado no livro de Roald Dahl e roteirizado por Melissa Mathison (justamente a responsável por E.T.), o filme é uma fábula sobre a garotinha Sophie (a estreante Ruby Barnhill), que, órfã, certa madrugada surpreende um gigante (Rylance) caminhando pelas ruas de Londres e é sequestrada por este e levada para o País dos Gigantes. Aos poucos, os dois vão se tornando amigos e a menina descobre que o BGA (Bom Gigante Amigo) tem, como hobby, capturar sonhos e pesadelos e guardá-los em garrafas a fim de misturá-los e “implantá-los” durante o sono de outras pessoas quando necessário. Porém, quando os conterrâneos do personagem-título ameaçam devorar Sophie, a dupla decide encontrar uma solução para o problema.

Prejudicado já de imediato pela absoluta falta de estrutura do roteiro, que parece mais saltar bruscamente de um incidente a outro em vez de enxergar o arco geral da história, o longa é tão falho neste sentido que comete o erro básico de introduzir personagens importantes só a partir da segunda metade da projeção, tentando disfarçar o problema, por exemplo, ao buscar criar uma ligação imediata entre Sophie e Mary (Hall), que, minutos depois de se conhecerem, já aparecem trocando olhares cúmplices como se fossem velhas amigas. Além disso, a tentativa de criar conflitos dramáticos beira o desespero quando, em determinada sequência, o BGA decide devolver Sophie ao orfanato sob os protestos desta apenas para, segundos depois, ser levado a voltar atrás e expor a inutilidade de toda a passagem.

Aliás, O Bom Gigante Amigo é repleto de momentos como este – e quando duas luzes surgem “brigando” subitamente (uma representa um sonho; a outra, um pesadelo), o longa espera que sintamos alguma emoção qualquer (tensão? Encantamento? Surpresa? Divertimento?) como se aquilo representasse um ponto alto da narrativa – quando, de fato, soa simplesmente como uma bobagem sem propósito incluída apenas para inchar o tempo de projeção. O mesmo, vale apontar, pode ser dito sobre outra extensa cena que se concentra em mostrar o BGA sendo servido por vários humanos: durando longos minutos, o incidente obviamente julga divertidíssimo ver aquelas pessoas usando escadas para alcançar a mesa e empregando regadores como bules de café – e, como não poderia deixar de ser, Spielberg inclui vários closes nos quais vemos Sophie fazendo caretas diante das gafes do amigo ou sinalizando para que este se comporte apropriadamente, aparentemente não percebendo que estes planos de reação soam apenas tolos e sem graça. (E prefiro nem comentar o “clímax” da cena, que envolve uma bebida que provoca gases e... não; como falei, é melhor nem lembrar.)

Claro que tecnicamente o projeto impressiona: a fotografia de Janusz Kaminski carrega nas cores intensas que ressaltam a atmosfera fabulesca e o design do gigante e sua animação a partir do motion capture são irrepreensíveis (especialmente o olhar gentil da criatura – que, tenho certeza, traz elementos inspirados no de Robin Williams). Por outro lado, Spielberg exagera absurdamente na utilização de uma de suas marcas registradas, o travelling que se aproxima do rosto dos personagens enquanto estes trazem um facho de luz sobre os olhos – um exagero que só é superado pelo da trilha sonora de John Williams, que, praticamente ininterrupta, faz questão de pontuar cada ação e emoção da narrativa.

Surpreendendo negativamente pela falta de vida com que conta uma história que deveria ser repleta de alegria, O Bom Gigante Amigo não é apenas um desapontamento; é, também, um dos piores filmes da carreira de seu diretor.

Texto originalmente publicado durante a cobertura do Festival de Cannes 2016.

14 de Maio de 2016

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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