Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
26/05/2016 | 27/05/2016 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Disney | |||
Duração do filme | |||
113 minuto(s) |
Dirigido por James Bobin. Roteiro de Linda Woolverton. Com: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Rhys Ifans, Matt Lucas, Lindsay Duncan, Leo Bill, Geraldine James, Richard Armitage, Ed Speleers e as vozes de Timothy Spall, Stephen Fry, Michael Sheen e Alan Rickman.
Quando Tim Burton lançou sua versão de Alice no País das Maravilhas, há seis anos, apontei que o filme contava com o visual imaginativo que seus trabalhos costumavam trazer, mas carecia de uma energia que a história criada por Lewis Carroll não deveria encontrar dificuldades em alcançar. Pois mesmo que alguns dos problemas do original (se podemos considerar como “original” uma obra já adaptada algumas dezenas de vezes) se repetem nesta continuação, esta ao menos consegue oferecer um pouco mais de vitalidade, o que compensa a falta de novidades no restante da narrativa.
Mais uma vez – livremente - adaptado por Linda Woolverton, Alice Através do Espelho reencontra a personagem-título (Wasikowska) alguns anos depois de sua última aventura. Agora capitã do navio que pertenceu ao pai, ela já entra em cena comandando sua tripulação em uma arrojada fuga em alto-mar, mas, ao retornar de viagem, descobre que o ex-noivo Hamish (Bill), agora presidente da diretoria da companhia de navegação (devidamente composta apenas por homens), lhe tomará a embarcação. É então que a garota retorna inesperadamente ao País das Maravilhas, sendo informada de que o Chapeleiro Maluco (Depp) enlouqueceu de vez ao passar a acreditar que sua família se encontra viva em algum lugar. Para evitar que o amigo literalmente morra de tristeza, Alice decide voltar no tempo e salvar os Chapeleiros, usando para isto a Cronosfera que mantém o Relógio do Tempo em operação – Tempo este que, personificado por Sacha Baron Cohen, passa a persegui-la para recuperar o objeto.
Prejudicada por uma versão desinteressante e excessivamente passiva da protagonista concebida pelo roteiro do longa anterior, a talentosa Mia Wasikowska desta vez tem a oportunidade de encarná-la com um pouco mais de vida e determinação, já que a Alice desta sequência exibe uma personalidade bem mais forte, tomando a iniciativa sem depender do empurrão constante dos amigos (por outro lado, o diretor James Bobin repete a lógica criada por Burton ao soltar os cabelos da heroína assim que esta chega ao País das Maravilhas, simbolizando assim sua libertação completa das convenções da sociedade). Em contrapartida, seus amigos aqui se tornam quase figurantes: Absolem (voz de Alan Rickman, em seu derradeiro trabalho) tem três ou quatro falas, o gato de Cheshire (Fry) praticamente só exibe seu característico sorriso e a Rainha Branca (Hathaway) mal tem o que fazer além de atravessar a tela com seus maneirismos divertidamente afetados.
E se a Rainha de Copas (Bonham Carter) continua a se apresentar como a única figura com algum grau de complexidade (ainda que seu arco seja concluído de forma artificial), o Chapeleiro de Johnny Depp ao menos ganha uma função mais orgânica na narrativa em vez de soar novamente como mera imposição criada por um intérprete famoso. Ainda assim, o melhor elemento desta produção é também sua maior novidade: o Tempo. Encarnado por Cohen como um enigma no que diz respeito à sua função na narrativa, ele surge como vilão ou aliado dependendo da percepção que a protagonista tem a respeito do que ele representa, do que oferece e dos efeitos que provoca em sua vida. Com isso, acaba trazendo a Alice Através do Espelho algo que faltava ao seu antecessor: um tema desenvolvido com alguma complexidade, já que os simbolismos presentes no texto de Carroll haviam sido diluídos no “original” graças à decisão de converter os sonhos da personagem-título em realidade. Como se não bastasse, a sintonia entre Cohen e o diretor (com quem trabalhara na série Da Ali G Show) permite que o Tempo seja também responsável pela maior parte das boas piadas do filme.
Eficiente em seu inventivo design de produção, o longa impressiona na concepção visual dos cenários, desde a casa do Chapeleiro, apropriadamente construída em formato de cartola, até a fortaleza habitada pelo Tempo, com suas passarelas móveis que exercem também a função de ponteiros de um relógio, passando pelo castelo da Rainha de Copas, que parece um labirinto de galhos vermelhos que exibem a aparência sinistra de um coração espinhoso. Já os efeitos digitais se mostram irregulares, falhando especialmente nas interações envolvendo a vilã de Helena Bonham Carter, que constantemente parece estar em um plano diferente daquele ocupado por seus companheiros de cena (reparem, por exemplo, como a linha do olhar do Tempo frequentemente parece incongruente com a posição da personagem). Enquanto isso, os temas de Danny Elfman, ainda que belos, acabam irritando pela repetição excessiva e desnecessária.
Refletindo a capacidade de Carroll de evocar a versatilidade infantil na construção de soluções verbais para conceitos abstratos (“despossível”) e o sentimento de constante descoberta diante de um mundo cheio de novidades, Alice Através do Espelho pode ter um roteiro estruturalmente frágil, mas isto não o impede de ser divertido o suficiente para justificar o retorno ao já mais do que visitado País das Maravilhas.
28 de Maio de 2016