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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
26/05/2016 19/05/2015 4 / 5 / 5
Distribuidora
Imovision
Duração do filme
91 minuto(s)

O Valor de um Homem
La loi du marché

Dirigido por Stéphane Brizé. Roteiro de Brizé e Olivier Gorce. Com: Vincent Lindon, Karine de Mirbeck, Matthieu Schaller.

Poucas coisas me fascinam mais no Cinema do que sua habilidade em nos colocar na perspectiva de outras pessoas – em outras palavras, sua capacidade de provocar empatia. Às vezes, isto é feito de maneira narrativamente violenta, como no húngaro O Filho de Saul; às vezes, de forma mais sutil apenas ao retratar a humanidade prosaica de seus personagens.


Este é o caso do ótimo O Valor de um Homem, que, roteirizado por Olivier Gorce e Stéphane Brizé, acompanha por alguns meses a vida de Thierry (Lindon), um homem comum que enfrenta o igualmente rotineiro – mas não menos dramático – problema do desemprego. Já mais próximo da aposentadoria do que da universidade, ele encontra dificuldades para encontrar um novo trabalho, o que compromete a (pouca) estabilidade que construíra ao lado da esposa. Preocupado também em oferecer condições de estudo ao filho, portador de deficiência mental, o sujeito salta de uma entrevista frustrada à outra até conseguir emprego como segurança de supermercado – o que lhe trará outras questões éticas para enfrentar.

Com uma abordagem narrativa que remete diretamente à filmografia dos irmãos Dardenne, este longa dirigido por Brizé assume uma estética mais próxima do documentário do que da ficção, investindo em longos planos que se preocupam em acompanhar não só as conversas mantidas, mas as mínimas reações dos personagens e o contexto no qual estas ocorrem. Assim, depois de vermos um vídeo com uma entrevista de emprego de Thierry, acompanhamos a sessão na qual seu desempenho é avaliado por um especialista e por outras pessoas em situação similar – e a chave da cena reside não no que é dito, mas no desconforto do pobre homem diante das observações feitas (e o rápido olhar de embaraço de Lindon ao redor da sala, assim que o vídeo chega ao fim, é um detalhe soberbo em sua composição).

Além disso, o diretor de fotografia Éric Dumont constantemente posiciona a câmera como se espionasse os personagens, encontrando-os no meio de vários figurantes e mantendo o quadro em movimento como se o operador estivesse buscando capturar um gesto ou palavra inesperados. Soma-se a isto o fato de o design de som empregar apenas ruídos e músicas diegéticas, o que busca descartar qualquer sinal de interferência externa à história (o que obviamente é uma ilusão, mas muito bem construída).

Ainda assim, não há como negar que O Valor de um Homem é um filme que depende pesadamente da força de seu ator central – e Vincent Lindon não desaponta. Concebendo sua performance mais através das reações de Thierry do que propriamente de suas ações, o ator traz a expressão constantemente tensa, com a boca encurvada para baixo e o olhar intenso que sugerem um turbilhão de sentimentos reprimidos. Por outro lado, justamente por se mostrar geralmente tão rígido é que percebemos seu amor pela família graças ao contraste de seu comportamento bem mais relaxado, carinhoso e sorridente quando ao lado da esposa e do filho.

Eficiente também graças à estrutura de seu roteiro, que investe pacientemente na tarefa de retratar sua luta para conseguir um emprego, sua situação financeira preocupante e, mais tarde, sua rotina de trabalho, o filme funciona precisamente por nos familiarizar com o sujeito, sua personalidade e dilemas – e é isto que torna seu desfecho tão problemático, já que, com o intuito de encontrar alguma forma de encerrar uma narrativa que se recusa a seguir um padrão clássico, o longa leva Thierry a tomar uma atitude que, em vez de soar forte, parece apenas incongruente com o que sabemos ao seu respeito.

E, assim, a maior virtude do filme – sua habilidade ao construir o protagonista – resulta também em seu maior problema.

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Cannes 2015.

18 de Maio de 2015

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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