Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Anna Muylaert. Com: Bete Drogam, Pierre Santos, Cida Almeida, Maria Manoella, Tatiana Thomé, Lourenço Mutarelli.
Antes do início da sessão de Chamada a Cobrar no Festival do Rio de 2012, a diretora Anna Muylaert explicou, orgulhosa, que finalmente fizera aqui algo que gostaria de ter tentado há muito tempo: assinou o roteiro ao lado de seu elenco, que teve liberdade completa para improvisar todos os diálogos durante as filmagens. Infelizmente, a cineasta deveria ter se lembrado de que há um motivo muito bom para que filmes sejam realizados a partir de roteiros e para que atores se concentrem naquilo que fazem de melhor (atuar) em vez de na elaboração de suas próprias falas – e este motivo é a alta probabilidade de que o resultado final não seja dos melhores caso estes papéis sejam confundidos. Como acontece, claro, em Chamada a Cobrar.
Partindo de uma história “real” (basicamente, os falsos sequestros anunciados por telefone e que contam com o pânico momentâneo da pessoa do outro da linha para obrigá-la a comprar cartões telefônicos e a fornecer os dados de seus cartões de crédito para os “sequestradores”), o filme tem início acompanhando a manhã de Clara (Drogam), uma mulher de meia-idade que, gentil e carente da atenção das filhas, aparentemente depende da empregada (Almeida) para tudo. É então que ela recebe a ligação do título e, tola já ao fornecer todas as informações necessárias para a pessoa com quem conversa, é informada de que sua filha caçula encontra-se em poder de sequestradores.
O que vem a seguir incomoda pela estupidez: depois de atender a todas as exigências feitas pelo homem que ligou (Santos), Clara aceita se dirigir de São Paulo ao Rio de Janeiro em seu carro para levar dezenas de tênis e ursinhos de pelúcia para os “sequestradores” – e nem mesmo uma mensagem de texto enviada por uma de suas filhas a leva a duvidar de que esteja sendo vítima de um trote.
Há, claro, a possibilidade de que realmente existam pessoas estúpidas a este ponto na vida real – mas isto não quer dizer que algo assim funcionaria no Cinema, já que, em Chamada a Cobrar, a credulidade implausível de Clara soa apenas como recurso de um roteiro preguiçoso para permitir que a história caminhe. O resultado é que se torna difícil, para o espectador, sentir qualquer grau de simpatia ou identificação com relação à protagonista, o que basicamente nos obriga a dividir um carro por 72 minutos com uma figura insuportável.
Neste sentido, os diálogos improvisados não ajudam em nada. Sobrepondo-se confusamente uns aos outros à medida que os atores em cena tentam gritar suas falas, interrompendo-se mutuamente, faltam a eles qualquer estrutura, elegância, graça, peso ou mesmo a capacidade básica de moverem a trama e/ou desenvolverem os personagens. Em certos momentos, aliás, torna-se perfeitamente possível perceber o elenco tropeçando nas palavras enquanto busca formar as ideias que pretende vociferar – e a única exceção fica por conta da participação breve, mas hilária, de Lourenço Mutarelli como um delegado (e não creio ser coincidência o fato de Mutarelli ser escritor e roteirista).
Prejudicado por uma mixagem de som absolutamente atroz que não consegue sequer diferenciar a tonalidade da voz que sai do telefone, sugerindo a presença do “sequestrador” no mesmo ambiente no qual Clara se encontra*, Chamada a Cobrar é uma comédia sem graça, um drama sem peso e um road movie sem ponto de chegada. E se não se torna absolutamente descartável é apenas porque, tola como se revela, a personagem de Bete Drogam ao menos revela a doçura de uma mãe que, enquanto tiver as filhas por perto, estará satisfeita e feliz.
*Observação: como assisti a este filme durante o Festival do Rio, é possível que a mixagem tenha sido corrigida para a versão lançada comercialmente nos cinemas brasileiros. Espero que tenha, mas não estou disposto a assistir ao longa de novo para descobrir.
10 de Outubro de 2012