Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
04/01/2013 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Esfera | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte. Com: Patrick Bruel, Valérie Benguigui, Charles Berling, Guillaume de Tonquedec, Judith El Zein e Françoise Fabian.
O franco-belga Qual é o Nome do Bebê? é o filme que Deus da Carnificina queria ter sido. Ambos inspirados em espetáculos teatrais e limitados a uma discussão em tempo real ocorrido em um único espaço, os longas partem de conflitos familiares pontuais para desenvolver análises sobre a natureza humana enquanto saltam das risadas às lágrimas. Porém, onde o filme de Roman Polanski afundava, raramente convencendo na dinâmica entre aqueles personagens (numa situação real, os personagens vividos por Christoph Waltz e Kate Winslet teriam deixado o apartamento dos Longstreet já nos primeiros minutos) ou no humor empregado, aqui os cineastas Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte (autor da peça original) alcançam um sucesso inquestionável, já que o longa provoca o riso do início ao fim e estabelece figuras críveis, complexas e humanas.
Apresentando rapidamente os personagens através de uma inspirada narração em off, a comédia logo estabelece a situação principal que moverá a história: o casal Pierre (Berling) e Élisabeth (Benguigui) está oferecendo um jantar em seu confortável apartamento para Claude (de Tonquedec, versão europeia e jovem de Jack Lemmon), Vincent (Bruel) e Anna (El Zein). Claude, melhor amigo de Élisabeth, é trombonista e aparentemente um solteirão convicto, ao passo que Vincent, bem sucedido agente imobiliário, está prestes a se tornar pai do filho de Anna, com quem mora há dois anos. É então que, indagado sobre o nome que dará à criança, o sujeito responde “Adolf” e os conflitos tomam conta da noite.
Repleto de diálogos divertidíssimos que extraem graça das mais simples argumentações, Qual é o Nome do Bebê? é dono de um senso de humor sofisticado, mas jamais inacessível. Sim, Pierre pode ser um acadêmico esnobe que apresenta todo tipo de argumento histórico (e mesmo literário) para protestar contra a escolha do cunhado, mas sua revolta é tão patente que se torna difícil não rir justamente de sua intelectualidade orgulhosa. Da mesma maneira, a irreverência de Vincent, que se recusa a levar qualquer coisa a sério, abre o caminho para que nos surpreendamos quando ele finalmente parece ser afetado por algo – o que se contrapõe à natureza generosa de sua irmã, que oscila entre as tentativas de contemporização e à frustração por jamais ser levada a sério pelos demais.
Conseguindo a proeza de manter um ritmo eficaz e de jamais soar excessivamente teatral mesmo dependendo exclusivamente dos diálogos para mover a narrativa, o filme é hábil ao saltar de uma discussão a outra de maneira fluida, respeitando a lógica dos personagens, mas também se preocupando em evitar a mesmice. Com isso, a lavação de roupa suja promovida por aquelas figuras se apresenta orgânica e jamais como uma imposição dramática do roteiro (algo que ocorria em Deus da Carnificina), levando a revelações que, por sua vez, inspiram novas confissões, novos conflitos e novas risadas.
Ao final, porém, o segredo da eficácia de Qual é o Nome do Bebê? reside no fato de que jamais duvidamos de que aqueles personagens se amam e se respeitam, o que torna os conflitos ainda mais importantes sem que, com isso, se tornem cruéis a ponto de afastar o público. Apesar do epílogo dispensável, esta é uma comédia que certamente enviará o espectador feliz para fora da sala de projeção.
6 de Outubro de 2012
Crítica originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2012.