Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/09/2014 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Paris Filmes |
Dirigido por Eli Roth. Roteiro de Eli Roth e Guillermo Amoedo. Com: Lorenza Izzo, Ariel Levy, Aaron Burns, Daryl Sabara, Sky Ferreira, Nicolás Martínez, Kirby Bliss Blanton, Magda Apanowicz, Matías Lopez.
O ciclo do canibalismo italiano, que conquistou fãs do horror e do gore nas décadas de 70 e 80 e atingiu seu auge com Cannibal Holocaust, de Ruggero Deodato (que vi – e curti - aos 15 anos de idade, mas jamais senti vontade de revisitar), não só é a inspiração óbvia de Eli Roth neste seu The Green Inferno como, se pensarmos um segundo sobre o assunto, é também uma influência inevitável na obra de um diretor cuja carreira se baseia quase toda em xenofobia e misoginia. Não é segredo, para quem acompanha meu trabalho há algum tempo, que nutro profundo desprezo por Roth, que sente um prazer inequívoco em submeter suas personagens femininas a todo tipo de humilhação imaginável e que enxerga o mundo fora dos Estados Unidos como uma selva repleta de criaturas monstruosas - mas, como crítico de Cinema, não posso negar que (predileções temáticas à parte) este é seu trabalho mais eficaz como realizador.
Roteirizado pelo diretor ao lado de Guillermo Amoedo, o filme gira em torno de um grupo de universitários norte-americanos que decide viajar para a Amazônia peruana com o objetivo de realizar um protesto contra uma construtora que está derrubando a floresta e destruindo uma tribo local. Ao retornarem da ação, porém, os jovens sofrem um acidente de avião e descobrem que a tal tribo não é particularmente boa em demonstrar gratidão, já que os nativos decidem... vocês já sabem.
Surpreendendo ao retratar a ação do grupo diante dos seguranças da construtora de forma tensa e ágil, Eli Roth também consegue conferir urgência e pavor à sequência que traz a queda do avião – e, mesmo não sendo tão fabulosos assim, estes dois momentos se encontram entre os melhores da carreira do medíocre diretor (e é sempre prazeroso ver um artista melhorando com o tempo, mesmo que este seja Eli Roth). Demonstrando um senso de humor negro eficiente que, de certa maneira, consegue aliviar o impacto gráfico da primeira execução por parte dos selvagens (quando a vítima é vista até mesmo com um legume na boca), Roth faz jus à natureza gore de suas principais influências ao incluir efeitos de maquiagem e próteses que transformam o desmembramento e o estripamento em um espetáculo à parte – e nem vou discutir a composição dos índios (que chamei de “selvagens” por serem assim retratados pelo longa), já que isto seria inevitável neste subgênero.
Por outro lado, se Roth descartou o principal elemento estrutural de Cannibal Holocaust (a narrativa construída a partir de imagens encontradas e que inspirou filmes como A Bruxa de Blair), poderia também ter ignorado seus elementos misóginos – mas, se o fizesse, não seria Eli Roth, não é mesmo? Assim, o diretor logo expõe seu machismo ao retratar duas garotas que se antipatizam por terem interesse pelo mesmo homem e em seguida acrescenta doses cavalares de misoginia ao criar, do nada, sequências que trazem três garotas sendo violadas pela líder da tribo, que, no clímax, volta a protagonizar uma sugestão gratuita de estupro.
Patético também nas tentativas do diretor de tentar fazer comentários políticos (a gag que encerra a projeção é ridícula e reacionária), The Green Inferno tropeça na obviedade do roteiro (a apresentação do colar da avó da protagonista é uma daquelas pistas que praticamente gritam por atenção) e pelo humor adolescente, já que, aos 41 anos, Roth já é bem velhinho para achar graça em uma garota sofrendo crise de diarreia explosiva no meio da selva. Por outro lado, a vilania de determinado personagem é tão absurda que acaba sendo empregada como piada recorrente, revelando novas dimensões a cada cena.
Povoado por atores pavorosos – o que talvez seja proposital, fazendo referência aos filmes originais -, The Green Inferno é um longa de extremo mau gosto, é verdade, mas também divertido por se reconhecer como tal. E caso Eli Roth faça terapia e aprenda a respeitar o sexo feminino, talvez até possa vir a realizar algo relativamente memorável algum dia.
Eu sei, sou um eterno otimista.
Observação: os créditos finais trazem as contas no Twitter de vários integrantes do elenco e da equipe técnica. Não sei se isto é algo inédito, mas é algo que me chamou a atenção e que tem potencial para se transformar em tendência.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2013.
11 de Outubro de 2013