Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/03/2014 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
PlayArte |
Dirigido por Eugenio Mira. Com: Elijah Wood, John Cusack, Alex Winter, Kerry Bishé, Tamsin Egerton, Allen Leech, Don McManus, Dee Wallace.
Toque de Mestre é um filme incrivelmente estúpido que, apesar disso (ou exatamente por esta razão), é capaz de divertir pontualmente. Neste sentido, assistir a este longa é como ficar num elevador estragado com um amigo bêbado: embora ele possa até te fazer rir em função da embriaguez, a experiência perde a graça quando você se dá conta de que terá de passar os próximos 90 minutos preso ao seu lado.
Produção espanhola escrita por Damien Chazelle (O Último Exorcismo – Parte 2) e dirigida por Eugenio Mira, o projeto acompanha o pianista Tom Selznick (Wood), que, depois de cinco anos afastado dos palcos após interromper uma performance em função do nervosismo, retorna a Chicago para se apresentar num importante evento em homenagem ao seu antigo e falecido mestre e durante o qual usará seu famoso piano. Casado com uma atriz célebre (Bishé), o rapaz decide voltar aos palcos para agradá-la, mas a experiência logo se torna assustadora quando, no meio da apresentação, ele descobre estar sob o alvo de um atirador (Cusack) que ameaça matá-lo caso erre uma nota sequer.
Adotando uma estrutura narrativa parecida com a de obras como Por um Fio e Enterrado Vivo, que prendiam seus protagonistas a um único ambiente, Toque de Mestre basicamente mantém o personagem de Elijah Wood diante do piano enquanto conversa com seu algoz através de um pequeno rádio – e os imensos e amedrontados olhos do ator são o bastante para que percebamos seu pavor, ao passo que a voz sussurrada e impassível de John Cusack, mesmo não sendo tão poderosa quanto a de Kiefer Sutherland, é suficientemente fria para que alertar o espectador acerca de sua intenção de levar o plano até o fim. Esta ameaça, contudo, pouco representa diante das músicas pavorosas criadas pelo compositor Víctor Reyes para o concerto – e desconfio que, na vida real, o responsável por aquelas peças seria não homenageado, mas apedrejado em praça pública por ferir os ouvidos e a alma do público. (Aliás, considerando a reação da plateia diante das súbitas saídas de cena de Selznick e a maneira geral com que a performance é conduzida, eu não me espantaria caso descobrisse que o diretor deste filme jamais compareceu a um concerto.)
Prejudicado por um roteiro que beira o amadorismo em seus diálogos expositivos (“Esta é sua última chance de redenção.”, “Patrick Godureaux, o magnata da música excêntrico cuja fortuna familiar desapareceu...”) e na maneira absurda e óbvia com que planta pistas para o espectador (Selznick realmente não notou o imenso pacote que sua esposa colocou em sua bagagem de mão?), Toque de Mestre ainda se julga esperto ao trazer vários personagens desejando sorte ao pianista no linguajar típico dos artistas, repetindo um “Quebre a perna!” tão óbvio que praticamente obriga o espectador a aguardar o momento em que... bom... vocês sabem.
Enquanto isso, o diretor Eugenio Mira, sem querer que o roteirista roube seu posto de integrante mais incompetente da equipe, se esforça ao máximo para fazer jus ao título, criando uma mise-en-scène digna de alguém que jamais gritou um “Ação!” ou viu um ser humano de perto – e logo no início, quando vemos um fã de Emma Selznick gritar seu nome e esticar o braço para chamar sua atenção, não podemos deixar de perceber que não há ninguém impedindo que o sujeito se aproxime da atriz, o que torna seu gestual incompreensível. Da mesma maneira, é ridícula a maneira com que Mira movimenta a câmera enlouquecedoramente em torno de dois personagens que tentam atender um telefone, demonstrando uma falta de sutileza de linguagem que encontra eco nos planos inclinados e no uso excessivo do vermelho no cenário e na fotografia para indicar a situação de perigo vivida por seu herói.
Não que Toque de Mestre falhe completamente, já que inclui alguns momentos bastante interessantes como o raccord que liga os movimentos de um caco de vidro e do arco de um violoncelo e, claro, o instante surpreendente no qual subitamente percebemos que um plano que vínhamos acompanhando era, de fato, uma tela dividida (algo que só notamos quando uma das metades inclui um zoom). Além disso... hum... não, era só isso. O restante do filme é um embaraço completo, desde a cena na qual Emma, que se encontra no saguão do teatro, ouve um celular que toca no banheiro do andar superior do prédio e, claro, toda a sequência final, quando herói e vilão simplesmente decidem que agir como seres humanos racionais é algo superestimado.
Como apontei anteriormente, porém, o longa acaba divertindo pontualmente graças aos seus excessos, como ao trazer Tom enviando uma mensagem de celular enquanto toca uma difícil composição no piano e ao enfocar o músico transcrevendo uma música em uma partitura improvisada. Já a desculpa principal para que a história ocorra (os motivos do personagem de Cusack) é apenas decepcionante e tola, confundindo o conceito de McGuffin estabelecido por Hitchcock com o de “insulto ao espectador” (isto sem ignorarmos o fato de que, a partir do instante em que a motivação do vilão é revelada, percebemos que não perigo de o protagonista ser realmente morto por errar alguma nota como inicialmente prometido).
Sem se preocupar em fazer qualquer sentido (como o vilão pode ter “planejado tudo por três anos” se não poderia prever o retorno de Tom aos palcos?), Toque de Mestre é como um bêbado com o qual nos vemos presos num elevador – e se não me preocupei em encontrar uma nova analogia, apenas repetindo aquela usada no parágrafo inicial, é porque a preguiça narrativa do filme é terrivelmente contagiante.
20 de Março de 2014