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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/03/2012 01/01/1970 5 / 5 / 5
Distribuidora
Imovision
Duração do filme
106 minuto(s)

Direção

Wim Wenders

Roteiro

Wim Wenders

Produção

Wim Wenders

Fotografia

Hélène Louvart , Jörg Widmer

Música

Thom Hanreich

Montagem

Toni Froschhammer

Figurino

Rolf Börzik , Marion Cito

Direção de Arte

Péter Pabst

Pina
Pina

Dirigido por Wim Wenders.

Desenvolvida e empregada pelos estúdios norte-americanos como forma de combater a pirataria e de levar mais espectadores aos cinemas (e ainda pagando um valor mais alto pelos ingressos), a tecnologia 3D parecia ter se transformado em mero modismo mercadológico quando, no ano passado, cineastas veteranos e respeitados por sua ambição artística decidiram adotá-la em novos projetos: Scorsese em Hugo, Spielberg em TinTim e, ainda mais surpreendentemente, dois nomes que construíram suas carreiras a partir do Novo Cinema Alemão: Werner Herzog (com A Caverna dos Sonhos Perdidos) e Wim Wenders – que, com este Pina, conseguiu a proeza de realizar o melhor entre os longas concebidos por seus renomados colegas. Empregando o 3D de maneira incrivelmente orgânica e envolvente, Wenders cria, aqui, um de seus filmes mais líricos e sensíveis ao homenagear a dançarina e coreógrafa Pina Bausch, que, morta pouco antes do início das filmagens, está presente em cada quadro deste magnífico documentário.


Diretora de uma companhia de dança cujos integrantes se mostram ainda fiéis e reverentes à memória da antiga líder mesmo depois de décadas de convivência diária, Bausch é lembrada pelos artistas que inspirou quase como uma figura materna (“Ela me observou por 22 anos; mais tempo até do que meus pais”, lembra uma dançarina). Incluindo membros oriundos de diversos países e que aqui prestam suas homenagens em suas línguas natais (incluindo o Brasil e, claro, o português), o grupo construído por Pina é obviamente baseado numa incrível confiança mútua que pode ser resumida por várias de suas coreografias – desde a que envolve uma moça atirando-se de rosto no chão por saber que será “salva” por um companheiro até aquela que (reproduzida em Fale com Ela) traz dançarinas de olhos fechados tendo seus caminhos cuidadosamente desimpedidos por um colega.

Sem se preocupar com o processo criativo de Pina e preferindo enfocar os resultados deste, o longa combina os depoimentos dos dançarinos (ouvidos em off enquanto contemplamos seus rostos expressivos) e recriações de algumas das coreografias mais célebres de Bausch – que pode ser vista também em breves imagens de arquivo, sempre com um cigarro em mãos (numa lembrança dolorosa do câncer de pulmão que a mataria). Nestes instantes, aliás, Wenders usa máscaras laterais em formato de cortinas para completar a razão de aspecto dos antigos registros, transformando o 1.33:1 destes no 1.85:1 que empregou para criar suas próprias imagens – e embora soando relativamente amador e até mesmo cafona, este recurso não deixa de ser apropriado ao ilustrar a devoção de um artista diante de outro.

Porém, os momentos mais hipnóticos de Pina são mesmo aqueles nos quais vemos a antiga companhia da coreógrafa recriando suas danças para a câmera do cineasta, que, sem obrigar-se a manter o ponto de vista da plateia, mergulha em meio aos artistas, permitindo que nos tornemos parte daquelas performances (através de câmeras subjetivas) ou que simplesmente observemos detalhes viscerais da coreografia (como os duros golpes que os dançarinos desfecham com os cotovelos em seus próprios abdomens). Além disso, Wenders usa sua própria forma de expressão artística (o Cinema) para recriar e enriquecer a obra de Bausch – e a cena que traz os integrantes do grupo envelhecendo e rejuvenescendo através de belíssimos raccords é, talvez, a mais emocionante do documentário.

Demonstrando compreender perfeitamente o potencial do 3D em um projeto como este, Wenders também acerta ao manter uma grande profundidade de campo em praticamente todas as sequências – permitindo, com isso, que cada espectador decida quais detalhes das elaboradas coreografias pretende observar (e, neste aspecto, é impossível não pensar que Tempo de Diversão, de Jacques Tati, seria um grande candidato a uma conversão para o 3D). Além disso, o diretor é hábil ao enfocar as danças com paciência e carinho, investindo em planos longos que expõem cada delicado movimento que aqueles indivíduos realizam com seus corpos, transformando seus músculos e até mesmo seus longos cabelos em obras de arte. Da mesma maneira, as cenas que trazem intervenções em praças, rios, fábricas e ruas movimentadas escancaram o potencial da Arte para embelezar até mesmo o mais cinza e prosaico dos cenários.

Preservando a criação de Pina Bausch para a posteridade, já que, infelizmente, as coreografias não contam com partituras que as resguardem, Wim Wenders não apenas honra a memória da diva como também aplaude o trabalho de seus dançarinos – e se estes foram, por décadas, os pincéis e tintas de Bausch, agora se transformam também nas ferramentas artísticas de um cineasta veterano que demonstra sua jovialidade criativa ao se estabelecer como um dos melhores realizadores a empregar a moderna tecnologia do 3D.

Pois o bom artista não envelhece jamais.

05 de Abril de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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