Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/05/2014 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Warner |
Dirigido por Doug Liman. Roteiro de Christopher McQuarrie, Jez Butterworth e John-Henry Butterworth. Com: Tom Cruise, Emily Blunt, Brendan Gleeson, Bill Paxton, Jonas Armstrong, Kick Gurry, Charlotte Riley, Tony Way, Franz Drameh, Dragomir Mrsic, Noah Taylor.
No Limite do Amanhã é uma obra que pode ser encarada como uma curiosa mistura de Feitiço do Tempo, O Resgate do Soldado Ryan, Minority Report, Tropas Estelares, Aliens e Contra o Tempo. É, portanto, um filme intrigante com boas sequências de ação e uma trama suficientemente interessante para justificar todas as explosões – até que, no terceiro ato, abandona o conceito que o tornava interessante e se transforma em um longa corriqueiro e decepcionante, tropeçando ainda por se acovardar em seu desfecho.
Claro que, de um ponto de vista estrutural, é até fácil compreender por que os roteiristas Christopher McQuarrie, Jez Butterworth e John-Henry Butterworth descartam o elemento central da trama que conceberam a partir do livro de Hiroshi Sakurazaka – mas, para discutir isso, devo me deter primeiro em outros elementos da narrativa, que gira em torno de um assessor de imprensa do exército, Cage (Cruise), que é enviado a contragosto para uma batalha desesperadora contra uma raça alienígena que vem atacando o planeta. Covarde e despreparado, ele morre poucos minutos depois de iniciado o confronto, mas, em função de seu contato com as criaturas, acaba despertando novamente um dia antes de sua morte. Assim, ganhando a oportunidade de repetir infinitas vezes a ação, ele vai se desenvolvendo como soldado e estabelece uma aliança importante com a veterana Rita (Blunt), que conhece a natureza de seu “poder” e o ajuda a estabelecer um plano para derrotar os inimigos.
Não se trata, claro, de um ponto de partida particularmente original (basta ver as referências no início deste texto e às quais eu poderia acrescentar títulos como Triângulo do Medo, Crimes Temporais e Meia-Noite e Um), mas que é promissor por natureza e que sempre oferece a possibilidade de se criar um arco dramático eficaz ao permitir que um personagem amadureça ao ser obrigado a repetir suas ações ad aeternum. Com isso, aqui temos a oportunidade de ver um Tom Cruise atipicamente inseguro e vulnerável que, amedrontado e desajeitado, gradualmente se torna um sujeito capaz de autosacrifícios e um combatente admirável. Aliás, Cruise merece créditos não só por retratar bem esta evolução de seu personagem, mas por permitir que o espectador perceba quando está testemunhando um evento que ocorre pela primeira vez ou quando está diante de algo que se repete: ao gaguejar levemente ou ao exibir um olhar hesitante, o ator deixa claro que Cage está numa situação inédita e, em contrapartida, sugere o fato de estar num cenário já vivido ao assumir uma postura quase casual em sua segurança.
Vale dizer, a propósito, que um dos prazeres de se assistir a No Limite do Amanhã reside justamente nestas pequenas surpresas, quando percebemos que algo que aparece na tela pela primeira vez é algo que o herói já conhece profundamente, numa inversão eficiente de ironia dramática, considerando que tendemos a supor estarmos acompanhando as descobertas junto com o protagonista. Neste sentido, o diretor Doug Liman é hábil ao sugerir, através de sutis mudanças nos quadros, as alterações provocadas por Cage ao repetir cada dia. Além disso, o cineasta faz um belo trabalho ao retratar o caos durante a batalha inicial do longa sem, com isso, tornar a ação incompreensível – o que se mostra particularmente importante por permitir que, nas repetições daquele dia, percebamos exatamente o que mudou e possamos antecipar o que está por vir ao lado do herói. E se normalmente as elipses cômicas se mostram tão óbvias e... bom... sem graça, é preciso reconhecer que aqui o montador James Herbert consegue criar um exemplo excepcional do recurso ao cortar subitamente para a figura de Tom Cruise amordaçado em um avião.
Assim, não deixa de ser um desapontamento perceber como o filme despenca quando (e aqui devo sugerir que só leia o restante deste texto após assistir ao longa), ao final do segundo ato, o personagem de Tom Cruise perde seu poder de voltar no tempo. Claro que, como já apontei anteriormente, isto faz sentido como estrutura, já que logo no início a personagem de Emily Blunt aponta que isto poderia ocorrer (o que, em termos de roteiro, significa que vai ocorrer). Além disso, o fato de o herói não poder mais reviver aumenta a tensão e os riscos, funcionando também como ligação orgânica entre os segundo e o terceiro atos, que passa a se dedicar ao esforço final dos humanos para derrotar os alienígenas. O problema, portanto, não reside exatamente no fato de que Cage perde seu dom, mas sim na incapacidade do roteiro de manter o interesse da trama quando abre mão deste recurso, quando, então, se concentra numa sequência de ação burocrática e pouco imaginativa. Para piorar, os dois minutos finais da projeção revelam um esforço desesperado para evitar que o espectador saia deprimido do cinema, criando um desfecho artificial e covarde.
Ainda assim, estes tropeços finais, embora graves, não eliminam as muitas virtudes de No Limite do Amanhã, que evocam bem o cansaço gradual de um herói que, como num videogame com a valiosa opção de “save game”, descobre que, naquele contexto, talvez sua melhor saída diante de algum obstáculo seja mesmo morrer.
30 de Maio de 2014
Observação: caso queiram uma avaliação da versão em 3D do filme, sugiro que assistam a este videocast que gravei sobre o tema: