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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
31/08/2012 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Paris Filmes
Duração do filme
101 minuto(s)

Procura-Se Um Amigo Para O Fim Do Mundo
Seeking A Friend For The End Of The World

Dirigido por Lorene Scafaria. Com: Steve Carell, Keira Knightley, Nancy Carell, Mark Moses, Rob Huebel, Adam Brody, Connie Britton, Rob Corddry, Paton Oswalt, Melanie Lynskey, William Petersen, T.J. Miller, Gillian Jacobs, Derek Luke e Martin Sheen.

Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (ou simplesmente Procura-se...) tenta realizar uma proeza difícil ao construir uma narrativa cujo tom deve equilibrar-se cuidadosamente entre o drama, o sentimento angustiante de uma tragédia que se aproxima e o humor de quem sabe não haver nada a fazer naquelas circunstâncias. Infelizmente, o longa escrito e dirigido por Lorene Scafaria acaba falhando em praticamente todos estes quesitos: em vez de dramático, soa aborrecido; no lugar da angústia, há no máximo certo grau de melancolia; e o humor, quando surge, parece desajeitado e artificial.

Buscando estabelecer a atmosfera do filme já na primeira cena, quando ouvimos um locutor de rádio anunciando o fracasso da última tentativa de destruir um meteoro que se aproxima da Terra apenas para seguir a notícia com a animação de um DJ incompetente, o roteiro logo nos apresenta ao triste protagonista, Dodge (Carell), que é imediatamente abandonado pela esposa. Solitário e deprimido, ele mantém a rotina em seu velho emprego como vendedor de seguros até que, certo dia, descobre que sua namorada da juventude, pela qual ainda se encontra apaixonado, lhe enviara uma carta três meses antes – uma correspondência que sua vizinha Penny (Knightley) havia guardado por engano. Decidido a encontrar a ex-namorada, Dodge parte numa jornada ao lado de Penny, que se sente culpada por ter atrapalhado a vida do sujeito e que espera também encontrar uma maneira de rever os pais antes do fim do mundo.

Como tantos filmes em busca de uma história inexistente, Procura-se... emprega a estrutura de road movie para despistar o fato de que não tem muito a dizer, investindo em várias pontas de rostos conhecidos (vejam os créditos no alto deste texto) que piscam na tela apenas para ajudarem os personagens principais em seu crescimento emocional: “Não há busca maior do que aquela pelo amor perdido”, diz um deles, aparentemente citando algo retirado de um livro barato de autoajuda – o mesmo livro que, suponho, a roteirista utilizou como fonte de todas as demais pérolas de sabedoria presentes na narrativa.

Sim, claro que, como seria de se esperar, aqui e ali a produção acaba criando (mesmo que por acidente) um ou outro momento mais eficaz – como a curiosa parada em um restaurante cujo tema reside no excesso de simpatia de seus garçons -, mas estes são breves e pontuais. Assim, se em uma cena vemos o casal feliz por escutarem uma canção evocativa (“Não acredito que quase não a ouvi outra vez”), em outra somos torturados por uma montagem alegrinha durante a qual o protagonista surge com um daqueles olhares pensativos e sorrisos de lado que querem dizer “a vida vale a pena, afinal de contas”.

Aliás, se há uma grande decepção em Procura-se..., esta reside na performance de Steve Carell, um ator cujo talento aprendi a admirar não só na série The Office, mas também em suas eficazes participações em filmes como Pequena Miss Sunshine, Amor a Toda Prova e O Âncora: preso a um personagem essencialmente entediante, Carell investe numa caracterização monocórdica, chegando a ser surpreendente que não tenha investido no clichê da barba por fazer que marca tantos comediantes em seus projetos “sérios” (Robin Williams em Gênio Indomável, Adam Sandler em Reine Sobre Mim, Steve Martin em Grand Canyon, o próprio Carell em Pequena Miss Sunshine). Seu Dodge é tão aborrecido, vale apontar, que  o longa se vê obrigado a presenteá-lo com um cãozinho a fim de torná-lo mais simpático, mas o fato do sujeito ser o único indivíduo realmente deprimido em toda a projeção acaba amarrando os pés e as mãos de seu intérprete. Enquanto isso, Keira Knightley fica presa a uma personagem nada convincente cujo principal traço reside em (juro) seu sono pesadíssimo – que o roteiro, claro, usará como conveniente ferramenta dramática no terceiro ato. Ainda assim, o que esperar de um filme que se baseia numa carta apaixonada enviada por uma pessoa que, mesmo esperando rever o antigo amor, deixa de colocar seu endereço apenas com o objetivo de criar um obstáculo?

Tolo e vazio como análise existencial, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo tem pretensões obviamente altas, mas o máximo que consegue é soar como uma versão de Melancolia para adolescentes.

30 de Agosto de 2012

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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