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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/06/2013 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Sony

Depois da Terra
After Earth

Dirigido por M. Night Shyamalan. Com: Will Smith, Jaden Smith, Sophie Okonedo, Zoë Kravitz, Glenn Morshower, David Denman, Jaden Martin.

Ah, M. Night Shyamalan. Lembro-me bem de quando escrevi, há 12 anos, que O Sexto Sentido não havia sido um mero golpe de sorte e que você viera “para ficar”. Hoje, mais de uma década depois, confesso já ter perdido as esperanças de voltar a encará-lo como o cineasta talentoso que quase revelou ser. Após comprovar que a fonte havia se esgotado para sua versão roteirista, por algum tempo conseguiu sustentar a promessa de manter-se como diretor eficiente – algo que, após A Dama na Água e Fim dos Tempos, você se encarregou de enterrar definitivamente. Agora torço apenas para que anuncie sua aposentadoria e, com isso, se poupe de mais embaraços e pare de destruir seu já frágil legado.


Despencando da posição de “autor” para a de “mão-de-obra contratada”, Shyamalan assume, em Depois da Terra, a tarefa de comandar um projeto encomendado por Will Smith para estabelecer seu filho Jaden como astro-mirim, o que já seria suficientemente embaraçoso caso houvesse resultado em um esforço bem-sucedido. No entanto, ao falhar mais uma vez, o cineasta apenas pavimenta seu caminho rumo às produções feitas diretamente para vídeo e às séries de TV, que ao menos envolvem menos riscos financeiros (embora eu tampouco nutra a expectativa de que ele criará algo fantástico como Breaking Bad ou Lost; seu talento o posiciona mais para algo como Heroes ou Dexter-pós quinta temporada).

Trabalhando a partir de um roteiro que escreveu ao lado de Gary Whitta (O Livro de Eli) a partir de argumento concebido por Will Smith, Shyamalan tenta contar a história do adolescente Kitai (Jaden Smith), que, num futuro distante, procura se estabelecer como um guerrilheiro capaz de seguir os lendários passos do pai, o general Cypher Raige (vivido por seu pai na vida real, o que já estabelece um paralelo revelador com a origem do projeto). Habitando um universo no qual a Terra foi destruída, obrigando a Humanidade a se mudar para um novo planeta, os personagens enfrentam as ameaçadoras Ursas, criadas por alienígenas para caçar terráqueos – e é durante uma viagem de treinamento que a nave dos heróis sofre um acidente e despenca na Terra, obrigando Kitai a iniciar uma longa jornada por aquele mundo a fim de recuperar um aparelho que trará a ajuda necessária para salvar a vida de seu pai.

Abrindo a narrativa com uma longa narração expositiva que busca situar o espectador da maneira mais artificial possível, Depois da Terra já abandona qualquer esforço de fazer sentido ao apresentar o conceito de uma raça alienígena que, mesmo capaz de desenvolver um monstro apenas para caçar seus inimigos, opta por criar um animal cego que rastreia os humanos apenas através do cheiro liberado em momentos de pânico. No entanto, se isto já soa absurdo, pior é perceber como a fauna que agora habita a Terra é descrita como tendo “evoluído para matar humanos” – o que é curioso, posto que estes deixaram de habitar o planeta há mil anos por vontade própria, indicando que ou Shyamalan não entende o conceito de Evolução ou não se importa com este. Por outro lado, por que ele deveria se importar com isto se nem ao menos se preocupa em criar uma justificativa para quando um dos predadores naturais resolve alterar seu comportamento e proteger o inimigo? Além disso, o roteiro já se compromete o bastante em sua estrutura artificial, que apresenta a necessidade do protagonista de chegar a zonas térmicas como uma espécie de ponto de “salvar jogo” que apenas salienta a natureza frágil da trama.

Construindo Cypher como uma espécie de Spock autista, Will Smith transforma o conceito de “controlar o medo” em uma composição rígida em todos os aspectos, aproveitando para tentar estabelecer um arco dramático convencional do homem que deve reaprender a exibir os próprios sentimentos a fim de recuperar o amor de quem ama. Enquanto isso, o jovem Jaden, incrivelmente parecido com o pai, faz o que pode para tentar carregar o filme nas costas, conseguindo comprovar apenas que carisma não é algo hereditário ao criar um personagem aborrecido e unidimensional.

Neste aspecto, aliás, o roteiro não ajuda o rapaz: sua relação com pai, retratada em uma dinâmica que substitui o carinho pela disciplina militar, é tão previsível que, quando a personagem de Sophie Okonedo diz para o marido que o filho “não precisa de um comandante”, o espectador imediatamente já sabe a fala que virá a seguir: “Ele precisa de um pai”. Para piorar, os dois roteiristas investem numa série de flashbacks absolutamente desnecessários que visam apenas aumentar a duração do longa, já que apenas repetem informações que já conhecemos acerca do trauma vivido pela família do protagonista (e uma determinada sequência de sonho ainda inclui um elemento metafísico que em nada combina com o tom do restante da narrativa).

Prejudicado ainda por um desenho de produção irregular que deixa clara a utilização abundante do greenscreen e que traz objetos de cena com aparência de plástico vagabundo, Depois da Terra comprova que a imaginação de Shyamalan como diretor também encontra-se esgotada – e, em certo momento, quando o jovem Kitai sai de seu esconderijo sob a terra, qualquer um que tenha visto meia dúzia de filmes já conseguiria prever o travelling seguinte feito pelo cineasta para revelar uma criatura deitada no chão.

Óbvio do início ao fim, Depois da Terra é o tipo de filme que ainda sente a necessidade de batizar cada personagem com um nome significativo: “Cypher”, claro, representa a natureza impassível do general de Will Smith, ao passo que uma rápida busca no Google revela “Kitai” como a palavra japonesa para “Esperança”, o que tampouco seria difícil de imaginar.

Falta incluir apenas “Shyamalan” no dicionário como um substantivo masculino que descreva um artista que, engolido pelo próprio ego, converteu sua carreira em um desapontamento constante.

10 de Junho de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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