Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/02/2013 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Universal |
Dirigido por Tom Hooper. Com: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne, Samantha Banks.
Os Miseráveis é o segundo filme consecutivo de Tom Hooper que aprecio moderadamente não por causa de seu diretor, mas apesar deste. Inexplicavelmente premiado por seu trabalho pavoroso em O Discurso do Rei, o “cineasta” aqui prova inequivocamente o erro cometido por aqueles que votaram em seu nome ao repetir exatamente as mesmas estratégias narrativas absurdas daquele longa, demonstrando não ter a menor ideia de como empregar a câmera e salvando-se apenas na direção de atores. A esperança é que, depois de Os Miseráveis, alguém tome seu megafone e o proíba de entrar em outro set de filmagem.
Inspirado no musical que, por sua vez, baseava-se no livro de Victor Hugo, o roteiro de William Nicholson conta a história do infeliz Jean Valjean (Jackman), que, depois de passar 19 anos na prisão por roubar um pedaço de pão, é solto e acaba infringindo a condicional. Ao longo dos anos seguintes, ele será perseguido pelo implacável – e infeliz - Javert (Crowe), conhecerá a infeliz prostituta Fantine (Hathaway) e passará a cuidar da filha desta, Cosette (Seyfried). Infelizes (eu já disse isso?), todos cantam músicas constantes sobre seu sofrimento enquanto a história atravessa a rebelião dos estudantes em junho de 1832 e a jovem Cosette se apaixona pelo revolucionário Marius (Redmayne).
Amplamente divulgado (pelo diretor e por seus atores) como o primeiro musical a registrar as interpretações musicais dos atores ao vivo, no set de filmagem (o que, diga-se de passagem, não é verdade), Os Miseráveis aparentemente aposta neste recurso como algo capaz de trazer “autenticidade” às performances – um conceito tolo desmantelado por oitenta anos de musicais marcados por atuações brilhantes. Na realidade, a ideia de Hooper soa apenas como um recurso para atrair atenção, já que, na prática, acaba comprometendo o filme ao obrigar atores musicalmente menos dotados a se entregarem ao embaraço (e Russell Crowe, particularmente, sofre visíveis dificuldades para alcançar certas notas e manter-se no ritmo das canções).
Quando não está sendo obrigado a cantar, porém, Crowe confere intensidade e frieza a Javert, ao passo que Hugh Jackman, um cantor um pouco mais dotado, se sai consideravelmente melhor – além, claro, de encarnar Valjean como a criatura desafortunada e sofrida que é de fato (e as rugas e linhas de expressão do ator contribuem para deixar o personagem mais fragilizado). E se Anne Hathaway vive Fantine num tom unidimensional de tragédia e dor, isto se deve mais ao roteiro do que à atriz, que, claro, faz um belíssimo trabalho em seu número principal, quando canta “I Dreamed a Dream” num longo take e rodado quase em primeiríssimo plano. Por outro lado, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter parecem ter saído de outro filme, já que o tom cômico de suas composições não se encaixa na atmosfera pesada do restante da narrativa, ao passo que Samantha Barks oferece talvez a melhor performance do longa com sua complexa Éponine – uma personagem fascinante que parece destinada a ser sempre ignorada por público e crítica. Para finalizar, Amanda Seyfried e Eddie Redmayne fazem o possível para tornar o romance entre Cosette e Marius envolvente, mas a verdade é que trata-se de uma subtrama formulaica, previsível e que empalidece diante do restante da história – que, como se não bastasse, acaba soando dispersa ao jamais estabelecer um personagem realmente central, insistindo em introduzir figuras importantes já na segunda metade da projeção.
Mas nada disso constitui um problema tão grande quanto a direção enlouquecedoramente estúpida de Tom Hooper, que, ao que parece, tem algum tipo de fetiche por grandes angulares e planos inclinados, empregando as lentes que deformam as laterais enquanto mantém o mundo sempre enviesado sabe-se lá por qual razão, já que estas decisões estéticas não contribuem em nada para a narrativa, são feias e deselegantes. Para piorar, o diretor insiste em manter a câmera grudada no rosto dos atores, saltando de um close para outro e desperdiçando o bom trabalho de design de produção enquanto resume sua mise-en-scène às caras gigantes de um elenco com tendência ao overacting. Aliás, Hooper é tão ignorante no que diz respeito à linguagem cinematográfica que chega a usar planos subjetivos sem qualquer motivo aparente, repetindo os mesmos equívocos colossais de O Discurso do Rei.
Artificial como o porto criado digitalmente e visto no início do longa, Os Miseráveis é um filme que não teme em mergulhar no melodrama, mas que envolve graças às boas atuações. Não deveria jamais ser citado como um dos melhores trabalhos de 2012, mas tampouco é um desastre.
Apesar de seu horroroso diretor.
01 de Fevereiro de 2013