Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/06/2012 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
California | |||
Duração do filme | |||
122 minuto(s) |
Dirigido por Paolo Virzi. Com: Valerio Mastandrea, Micaela Ramazzotti, Stefania Sandrelli, Claudia Pandolfi, Fabrizia Sacchi, Giacomo Bibbiani, Aurora Frasca, Paolo Ruffini.
Bruno Michelucci sempre foi uma criança séria. Surgindo com o rosto fechado em todas as fotos de família e se mostrando incapaz de sorrir mesmo quando a mãe é eleita a mulher mais bela de um evento, não é de surpreender que ele eventualmente se torne um adulto igualmente deprimido e pessimista. Dependente químico e incapaz de assumir a seriedade do relacionamento que mantém com a namorada, com quem divide o apartamento, ele finalmente é obrigado a fazer uma viagem de volta ao passado quando é informado de que a mãe, da qual se afastou há anos, está prestes a morrer.
Como podem notar, A Primeira Coisa Bela, candidato oficial da Itália ao Oscar 2011, poderia, numa análise superficial, formar uma sessão dupla perfeita com o sueco Beyond, com o qual divide a premissa básica – porém, enquanto o filme de Pernilla August se revelava angustiante e pesado, esta obra de Paolo Virzi investe numa atmosfera bem mais leve que aposta no humor como centro da narrativa ainda que, aqui e ali, flerte com momentos dramáticos mais intensos.
Infelizmente, porém, o roteiro de Virzi (co-escrito por Francesco Bruni e Francesco Piccolo), mesmo acompanhando várias décadas da vida da família Michelucci, se mostra incapaz de criar personagens com características suficientemente interessantes para merecer nossa atenção. Vivaz, otimista e extremamente bela, Anna (interpretada pela lindíssima esposa do diretor, Micaela Ramazzotti) é uma personagem que talvez funcionasse no papel, mas na tela surge apenas como uma criatura ambiciosa e egoísta que, não muito brilhante, acaba recorrendo aos atributos físicos para conseguir o que deseja – e mesmo em sua fase já idosa, quando passa a ser vivida pela veterana Stefania Sandrelli, a mulher pouco mais é do que uma caricatura, divertindo pela expansividade, mas jamais se tornando uma figura tridimensional. Da mesma maneira, Bruno é construído por Valerio Mastandrea (um Jason Statham deprimido) como um sujeito que traz sempre uma expressão de tédio e sofrimento estampada no rosto – e quando percebemos que esta mesma postura se encontrava presente em sua versão infantil, a constatação óbvia é a de que, embora o filme tente empurrar a responsabilidade da apatia do personagem para sua mãe, ele sempre foi infeliz e nada poderia mudar isso.
Fotografado por Nicola Pecorini com um curioso excesso de grandes angulares que constantemente deformam os ambientes nos freqüentes planos conjuntos sem que a narrativa ofereça alguma razão orgânica para esta abordagem, A Primeira Coisa Bela é prejudicado também por uma trilha incidental completamente equivocada que abraça sua natureza cafona sem qualquer pudor.
Uma cafonice que, aliás, impera no desfecho do longa, que se mostraria mais adequado em uma novela mexicana do que em um pré-candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra de São Paulo de 2010.
26 de Outubro de 2010