Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Arnold Antonin. Com: Ricardo Lefèvre, Réginald Lubine, Caroline Pierre.
Há uma velha fábula chinesa que aborda uma conversa entre uma minhoca e o peixe capturado depois de tentar abocanhá-la no anzol. Enquanto são içados pelo pescador rumo à superfície, a minhoca pergunta: “Mas você não viu o brilho metálico do anzol? Não sabe o que acontece com todos os seus parentes que tentam tirar a minha família destas armadilhas? Por que tentou me comer?” – ao que o peixe responde: “Eu não tentei comê-la. Eu queria apenas libertá-la”.
Estou certo de que muitos leitores, diante da breve narrativa descrita acima, sentirão a tentação de tecer teorias acerca da fala do peixe e seus significados – especialmente depois de serem informados de que se trata de uma “velha fábula oriental”. O fato, porém, é que a tal fábula acabou de ser criada com o único intuito de abrir este texto e foi improvisada em 30 segundos – e seu “significado” é apenas um: o de que sempre haverá alguém disposto a enxergar profundidade onde existe apenas o vazio.
O que nos traz a este Os Amores de um Zumbi, uma das maiores porcarias que já poluíram uma tela de cinema – e se eu não esperava um clássico inesquecível ao ler o título do projeto, tampouco poderia supor que a Mostra de São Paulo selecionaria para o evento uma produção provavelmente realizada por menos de 10 reais e que parece ter sido escrita, protagonizada, montada e dirigida por pessoas que jamais assistiram a um filme na vida.
Trazendo uma história imbecil que se torna ainda mais ofensiva graças aos diálogos que parecem ter sido (mal) improvisados no momento das filmagens, o longa exibe o rigor técnico de um vídeo caseiro do YouTube, permitindo que a câmera e a equipe sejam refletidas em todas as superfícies brilhantes vistas ao longo da projeção, expondo a máquina de gelo seco usada para esfumaçar o “set” (entre aspas mesmo) e escancarando até mesmo o fato de ter sido rodada usando o foco automático do equipamento.
Aliás, se há algum sinal de vida inteligente nesta empreitada, este diz respeito à certeza do diretor Arnold Antonin de que a precariedade (eufemismo) técnica de seu “filme” acabaria sendo interpretada por alguns como sendo algo proposital, um esforço metalingüístico ou satírico – e, para isso, ele solta aqui e ali alguma obviedade sobre como o protagonista é apenas mais um em um “país de zumbis” e inclui uma epígrafe assinada por Buñuel. Infelizmente, ser propositalmente trash já é algo que deixou de ser novidade há décadas, o que elimina até mesmo a possibilidade de que este lixo possa ser elogiado pela “irreverência”.
Sim, rir durante os 10 ou 20 primeiros minutos de projeção é natural e surge do mesmo impulso que nos leva a gargalhar diante da queda de alguém em uma videocassetada, por exemplo, mas, no final das contas, Os Amores de um Zumbi é tão ruim que se torna bom e volta a fechar o círculo ao se tornar pavoroso novamente, já que a piada se torna insuportável depois da meia hora inicial. Mas o fato de ter sido selecionado para um evento respeitável como a Mostra indica, infelizmente, que há quem tenha enxergado, nesta estupidez, um peixe tentando libertar uma minhoca.
25 de Outubro de 2010
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.
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