Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/12/2011 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
107 minuto(s) |
Dirigido por Lone Scherfig. Com: Jim Sturgess, Anne Hathaway, Jodie Whittaker, Romola Garai, Rafe Spall, Ken Stott e Patricia Clarkson.
Assim como o brasileiro Mais uma Vez Amor, dirigido por Rosane Svartman em 2005, e Harry Sally – Feitos um para o Outro, comandado por Rob Reiner em 1989, este Um Dia acompanha a trajetória de um casal através dos anos ao capturar momentos pontuais de suas existências – neste caso, ao revisitá-los sempre no dia 15 de julho, começando em 1988 até chegar ao presente. Com isso, o roteiro escrito por David Nicholls a partir de seu livro retrata os personagens em saltos ao apresentá-los não em instantes especialmente marcantes de suas vidas, mas agindo em função daquilo que se tornaram graças ao que vivenciaram nos 364 dias anteriores.
Marcando cada data através de letreiros que interagem de forma simpática com o ambiente e através da trilha incidental, que aposta de forma pragmática em canções marcantes de cada período (indo de Tracy Chapman a Fatboy Slim, passando por Elvis Costello e Tears for Fears), o filme ainda faz um eficiente trabalho de recriação de época mesmo tropeçando aqui e ali em função de anacronismos facilmente evitáveis (numa cena situada em 1994, por exemplo, Dexter, vivido por Sturgess, diz que irá à estreia de Parque dos Dinossauros, lançado em 93).
Dirigido com sensibilidade pela dinamarquesa Lone Scherfig (Educação), que constrói com delicadeza a fluida dinâmica entre Dexter e Emma (Hathaway), Um Dia é hábil ao estabelecer a passagem do tempo também com o auxílio de um impecável trabalho de maquiagem – e percebam como Sturgess, em especial, vai de um garoto de rosto liso e jovial a um homem de meia-idade cansado, com rugas e bolsas sob os olhos, enquanto Hathaway surge gordinha (mas sem exagero) depois de trabalhar dois anos como garçonete num restaurante mexicano, o que não deixa de ser um detalhe interessante.
Beneficiado por um elenco competente que cria personagens secundários igualmente complexos que ajudam a compor a jornada do casal principal (merecendo destaque Rafe Spall, filho de Timothy, que transforma o aspirante a comediante Ian em um homem simultaneamente patético e comovente), o filme peca aqui e ali ao investir em caracterizações estereotipadas, mas ainda assim evita que estas dominem a narrativa – e se o pai de Dexter surge como o típico “pai frio e crítico”, Ken Stott consegue torná-lo mais suave através de hesitações pontuais que apontam seu esforço interno para tentar aproximar-se do filho.
Da mesma forma, se os diálogos de Nicholls ocasionalmente são obrigados a apelar para a exposição a fim de esclarecerem o que ocorreu com os personagens no ano anterior, isto é equilibrado pela boa construção de tantas outras falas (especialmente aquelas ditas por Hathaway), que exibem a ironia fria típica do humor britânico (em certo momento, Emma descreve o restaurante no qual trabalha como um “cemitério de ambições”). Como se não bastasse, o roteiro ainda cria interações realmente sensíveis entre aquelas pessoas, destacando-se a breve e bela cena entre Dexter e a mãe, que, vivida por Patricia Clarkson, demonstra melancolia e amor ao dizer para o filho que, mesmo certa de que será um bom homem, percebe que ele “ainda não chegou lá”.
No entanto, é mesmo na construção de Dexter e Emma que Um Dia se mostra particularmente eficiente: enquanto o rapaz atinge o sucesso profissional rapidamente, a moça pena por anos ao tentar viabilizar suas aspirações artísticas – uma situação que gradualmente se inverte à medida que percebemos que falta ao primeiro o conteúdo intelectual, emocional e psicológico que sustente sua carreira, ao passo que Emma, crescendo a partir do sofrimento, da reflexão e da simples experiência de vida, vai se transformando aos poucos numa mulher madura e pronta para contornar os obstáculos que antes a impediam de caminhar (e Sturgess e Hathaway, talentosos e carismáticos, ilustram estas mudanças com segurança).
É uma pena, portanto, que Lone Scherfing repita o que fez em Educação e tropece mais uma vez no ato final, quando um incidente já naturalmente clichê e melodramático é encenado de forma óbvia e igualmente clichê, enfraquecendo a narrativa quando esta se encontrava justamente prestes a colher os frutos do relacionamento construído com tanta delicadeza nos 90 minutos anteriores.
Contando com uma bela trilha de Rachel Portman (que nem sempre acerta, mas que aqui se mostra controlada, evitando até mesmo carregar na melancolia), Um Dia é bem sucedido naquilo que mais importa, levando o espectador a se importar com seus personagens e a torcer para que num daqueles 15 de julho alcancem uma felicidade que consiga perdurar de forma intensa e inequívoca por todos os seguintes.
02 de Dezembro de 2011