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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/07/2010 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora

Predadores
Predators

Dirigido por Nimród Antal. Com: Adrien Brody, Alice Braga, Topher Grace, Danny Trejo, Oleg Taktarov, Walton Goggins, Louis Ozawa Changchien, Mahershalalhashbaz Ali.

Nunca fui particularmente fã do conceito que move a franquia Predador: embora vistos como vilões icônicos por cinéfilos em todo o mundo, sempre encarei as criaturas-título como personagens desinteressantes, como versões alienígenas dos aristocratas britânicos que, riquinhos e entediados, dedicavam seu tempo à caça às raposas enquanto buscavam se divertir. Da mesma maneira, a comparação entre esta série e aquela originada em Alien, o Oitavo Passageiro me intriga: embora ambas as espécies se dediquem a caçar humanos, ao menos os bichos enfocados por Ridley Scott e James Cameron não dependiam da tecnologia para cumprir seus objetivos, representando a fúria animal em seu máximo – e sua aparente irracionalidade tornava-os ainda mais assustadores e imprevisíveis.

Dito isso, esta revisão produzida por Robert Rodriguez e roteirizada por Alex Litvak e Michael Finch funciona surpreendentemente bem ao descartar qualquer tentativa de se estabelecer como uma ficção científica séria e ao investir, em vez disso, na ação quase contínua. Aliás, o filme já começa atirando o espectador para dentro desta ação ao abrir sua narrativa com o mercenário vivido por Adrien Brody despertando em queda livre: surpreso ao descobrir-se numa selva fechada e sem saber como foi parar ali, ele logo se une a outros combatentes igualmente confusos, formando um grupo multiétnico que, claro, traz o soldado norte-americano como líder. A partir daí, os anti-heróis constatam que estão sendo caçados pelos personagens-títulos e buscam traçar estratégias que aumentem suas chances de sobrevivência.

Reconhecendo os dois primeiros filmes (protagonizados por Schwarzenegger e Danny Glover em 87 e 90, respectivamente) em sua linha temporal, Predadores já se diferencia de várias outras empreitadas recentes do gênero ao não tentar se apresentar como uma “reimaginação” de uma franquia de sucesso, o que é um alívio. Assim, ao mesmo tempo em que respeita a continuidade da série, fazendo várias referências aos dois capítulos iniciais (para todos os efeitos, Alien Vs. Predador e sua pavorosa seqüência não existiram), este longa estabelece sua própria identidade ao substituir, por exemplo, o impossivelmente musculoso Exterminador pelo oscarizado Pianista, que aqui surge malhado e encarnando um tipo frio e durão, comprovando estar seguindo a estratégia de Nicolas Cage ao engavetar o Oscar para aceitar os cheques polpudos de herói de ação. Dividindo a cena com a brasileira Alice Braga, o sujeito estabelece uma dinâmica curiosa com a atriz, parecendo enojá-la e atraí-la ao mesmo tempo, num jogo de sedução/rejeição salientado pelas brigas constantes, mas também pelos insistentes planos nos quais aparecem colados um ao outro enquanto observam algo à distância. (E se Braga não consegue estabelecer um tipo durão como, digamos, Michelle Rodriguez ou a Jenette Goldstein de Aliens, o Resgate, ao menos se mostra suficientemente convincente como uma atiradora de elite que lamenta sua vida de violência, o que, por si só, já a torna a figura mais complexa da narrativa.)

Enquanto isso, o restante do elenco abraça sem reservas a caricatura: há o japonês da Yakuza que, sempre calado, tira os sapatos para sentir misticamente a lama e que, claro, é um mestre com espadas (Changchien; o mexicano durão que trabalha como capanga de um cartel do narcotráfico (Trejo; o fracote que atua como alívio cômico (Grace; o negro gigantesco que aparentemente acredita no sobrenatural (Ali; o russo que quer voltar para os filhos (Taktarov; e o serial killer com cara de Joe Pantoliano (Goggins). Há, ainda, a participação especial de um ator veterano (cuja identidade manterei em segredo), mas, ainda que divirta com sua caracterização excêntrica, ele surge mais como um parênteses do roteiro do que como uma criação bem definida, o que é uma pena.

Como já dito, porém, as caricaturas não comprometem tanto já que, felizmente, o roteiro estabelece de maneira intrigante a situação na qual estas figuras se encontram: como, afinal, todos foram parar ali? Por que foram escolhidos? Há uma maneira de escapar daquele planeta? São perguntas como estas que funcionam como uma âncora narrativa mínima para que a ação mantenha o espectador intrigado – e mesmo que, aqui e ali, os roteiristas se entreguem a filosofadas bestas sobre a natureza predadora dos humanos, é a premissa que evita que descartemos tudo aquilo com uma risada de escárnio. Sim, a cena em que Brody cita Hemingway é estúpida e ridícula, mas antes que nos concentremos nisso, somos distraídos por questões mais intrigantes como “que tipo de criatura se encontrava naquelas jaulas atiradas de pára-quedas na selva???”.

Responsável pelo bom Kontroll e pelo fraco Temos Vagas, o cineasta Nimród Antal faz um trabalho irregular em Predadores: por um lado, acerta ao investir num design de produção que intriga por trazer vários terrenos diferentes em justaposição, alternando rapidamente entre a mata fechada “amazônica”, uma área rochosa e uma floresta mais aberta que remete a uma plantação de eucaliptos, estabelecendo com isso a imprevisibilidade da geografia alienígena. Além disso, há detalhes curiosos como o capacete desgastado de um Predador, que, trazendo apenas duas “tranças”, ilustra o longo tempo em que o tal personagem-surpresa permaneceu naquele planeta. Por outro lado, Antal exagera ao repetir planos nos quais vemos os protagonistas reagindo intensamente a algo apenas para que, segundos depois, descubramos do que se trata – e, da mesma maneira, o clichê da ameaça que só é abatida por um tiro no último segundo acaba se tornando ainda mais previsível ao ser reutilizado à exaustão.

Divertindo ao exibir a coragem (ou seria cara-de-pau?) de fazer referências óbvias a Apocalypse Now, o filme peca também pela falta de coerência em vários momentos: por que, por exemplo, ninguém logo pensa em utilizar a lama para confundir os Predadores embora tenham sido informados de que foi assim que um sujeito conseguiu sobreviver num encontro anterior com os vilões? E como um personagem consegue se mover sem dificuldade no clímax da projeção apesar de ter sofrido um grave ferimento no tornozelo minutos antes?

E por que, Deus misericordioso, Antal decidiu encerrar o filme com “Long Tall Sally”, enfiando a voz de Little Richard nos créditos finais numa das escolhas de canção que - referência ou não ao original - se apresenta como uma das mais equivocadas e absurdas que já testemunhei no cinema? Aliás, ignorem todas as outras perguntas: uma resposta a esta última já me bastaria.

Observação: A legendagem em português não só insiste na pudica – e ridícula - substituição de “bunda” por “traseiro” como ainda comete o equívoco imperdoável de substituir o verbo “estuprar” por “transar” em certo instante, não só alterando completamente o sentido da frase, mas prejudicando o estabelecimento do caráter de determinado personagem.

23 de Julho de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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