Dirigido por Pierre Coffin e Chris Renaud. Com as vozes de Steve Carell, Jason Segel, Russell Brand, Julie Andrews, Will Arnett, Kristen Wiig, Miranda Cosgrove, Dana Gaier, Elsie Fisher, Mindy Kaling, Ken Jeong.

Sou fã incondicional da trilogia O Poderoso Chefão – e, como tiete da obra de Coppola e Puzo, sempre fico feliz e agradecido quando percebo alguma referência aos filmes da famiglia Corleone em outras obras. Assim, é um verdadeiro atestado da incompetência de Meu Malvado Favorito o fato de que, ao identificar nesta animação uma gag referente à cena envolvendo Jack Woltz e a cabeça do cavalo, senti-me não alegre, mas ofendido por ver um objeto de adoração sendo associado contra sua vontade a um projeto tão estúpido.

Comprovando a teoria de que os custos cada vez menores das animações computadorizadas resultariam num número crescente de produções encabeçadas por realizadores preguiçosos e pouco ambiciosos, o filme dirigido por Pierre Coffin e Chris Renaud a partir do roteiro de Ken Daurio, Sergio Pablos e Cinco Paul apresenta-se apenas razoável do ponto de vista técnico e simplesmente reprovável em seus aspectos criativos, exibindo claramente suas tentativas patéticas de seguir uma cartilha narrativa de sucesso inspirada na magnífica Pixar. Sim, seria até possível conceder créditos ao longa por tentar criar uma história protagonizada por um vilão, mas a verdade é que, de vilão, o Gru dublado no original por Steve Carell não tem nada, surgindo como uma versão água-com-açúcar e suburbana do Dr. Evil de Mike Myers, mas sem o mesmo temperamento divertidamente absurdo. Empenhado em roubar a Lua para se estabelecer como rei da vilania, ele enfrenta o rival Vector (Segel) em seus esforços, decidindo adotar as pequenas órfãs Edith, Margo e Agnes ao julgar que as garotas poderão auxiliá-lo na tarefa de invadir o quartel-general do inimigo. Em vez disso, elas invadem seu coração.

Hein? Soou piegas, a frase anterior? Pois acreditem: ela não chega aos pés da pieguice e do caráter formulaico de Meu Malvado Favorito, que, como se não bastasse, falha com ainda mais estrondo em praticamente todas as suas tentativas de fazer humor. Apostando em gags visuais medíocres e que já nascem datadas (como a referência ao banco Lehman Brothers) ou em piadas que se tornaram antigas já na época do cinema mudo (como a cena em que Gru estaciona seu veículo e destrói os demais carros que ali se encontravam), o roteiro ainda peca por não compreender que as centenas de mini-ajudantes clonados de Gru (os minions) podem até exibir certo potencial para que se tornem a alma do filme e resultem na venda de bonecos, falhando na prática por jamais protagonizarem um único momento genuinamente divertido ou inspirado – e basta dizer que, embora sejam apresentados como o grande chamariz do filme, as criaturas não me levaram a fazer uma única anotação ao seu respeito durante toda a projeção.

Pecando pela falta de imaginação até mesmo em seu design de produção (o QG de Gru surge apenas como uma versão maior e escura das casas que o cercam, o que poderia ser uma boa piada, mas misteriosamente não é), o filme ainda se empenha em criar um tanque de tubarão sob a sala de Vector sem que, como resultado, crie uma única justificativa narrativa para sua presença. Além disso, o projeto claramente se “inspira” (eufemismo para “plagia”) na lógica do design de Wall-E ao trazer a nave de Gru como um pedaço velho de metal ao passo que aquela usada por seu moderno rival surge como uma variação gigante dos produtos da Apple. Este descaramento, diga-se de passagem, também se aplica ao visual de vários personagens, desde o banqueiro Perkins (Arnett), obviamente um clone do chefe de Dilbert, até o cientista Dr. Nefário (Brand), irmão gêmeo do Sloth de Os Goonies, passando pela mãe de Gru, que se parece tanto com a Vovó de Deu a Louca na Chapeuzinho que cheguei a concluir que o filme trazia os mesmos produtores (não traz).

Mas talvez o aspecto mais irritante de Meu Malvado Favorito seja sua natureza cínica ao tentar reproduzir o delicado e equilibrado sentimentalismo das obras da Pixar através de um arco emocional artificialíssimo criado para Gru a partir de sua relação com as órfãs, já que a narrativa jamais nos convence realmente do encantamento que as meninas provocam no “vilão”. Além disso, as seqüências que buscam estabelecer números musicais seguem tão descaradamente o mapa traçado por Shrek (da DreamWorks/PDI) que me lembrei daquelas brincadeiras de “pintando com números” – com a diferença que, mesmo sabendo quais seriam os espaços a preencher com determinadas cores, os realizadores de Meu Malvado Favorito parecem não perceber que são daltônicos. Como se não bastasse, até mesmo os momentos empregados para exibir o recurso (cada vez mais irritante) do 3D parecem ter saído de um verdadeiro livro de clichês, empregando viagens por montanhas-russas e – acreditem ou não – a velhíssima imagem da bola de ping-pong presa à raquete.

Oferecendo ao menos um divertido e irreverente tema musical para acompanhar as ações de Gru (o único ponto inequivocamente positivo da produção), Meu Malvado Favorito só poderia ser pior caso contasse com dublagens pedestres em português.

E – inacreditavelmente – conseguiu.

Observação: há algumas gags adicionais durante os créditos finais, mas são tão ruins quanto o restante do filme.

06 de Agosto de 2010

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