Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/10/2009 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
88 minuto(s) |
Dirigido por Jonathan Mostow. Com: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, James Cromwell, Ving Rhames, Jack Noseworthy.
O sinal inequívoco de uma boa ficção científica surge quando esta transcende sua própria premissa e dispara discussões maiores e mais complexas sobre temas direta e/ou indiretamente relacionados sobre sua trama. Substitutos, escrito por Michael Ferris e John D. Brancato a partir da graphic novel de Robert Venditti e Brett Weldele, quase consegue isso – mas, infelizmente, o apego dos roteiristas a uma trama policial convencional e os esforços para transformarem o material num filme de ação acabam desviando o foco da história a ponto de diluí-la quase irremediavelmente.
Ambientado num futuro próximo, o roteiro aborda um mundo no qual os andróides se tornaram o rosto público da Sociedade. Permanecendo em casa e protegidas contra a violência do mundo exterior ou simplesmente de situações embaraçosas, as pessoas comandam andróides que substituem sua presença, usando-os para trabalhar, para flertar e para qualquer outra atividade pública. É quando um terrorista provavelmente envolvido com um grupo que abomina estes robôs descobre uma maneira de matar os usuários ao destruir suas máquinas, lançando o detetive Tom Greer (Willis) e sua parceira Peters (Mitchell) numa perigosa investigação.
Refletindo uma preocupação já antiga sobre a maneira com que a Internet vem mudando nossos hábitos e nossa dinâmica com o próximo, Substitutos apenas parece expandir um conceito já claramente representado pela simulação Second Life – e se há algum tempo fiquei espantado ao ler a notícia de que um casal se divorciara após a esposa descobrir que o marido a “traíra” com uma mulher digital do jogo/simulação, o fato é que incidentes deste tipo, disparados pelo envolvimento cada vez maior de indivíduos com seus alter egos virtuais, vêm se tornando cada vez mais freqüentes. Assim, o longa busca incluir situações similares, como no instante em que Greer sente-se enciumado ao ver o andróide da esposa flertando com outro robô ou, por exemplo, ao revelar que uma “substituta-fêmea” era controlada, na realidade, por um homem. Além disso, a falta de um contato pessoal mesmo nas relações de trabalho, como podemos observar hoje num mundo ligado pelo Skype e pelo MSN, encontra reflexo na cena em que a parceira do policial vê pela primeira vez o rosto real, envelhecido, do sujeito depois de anos trabalhando juntos.
Estes são, sem dúvida alguma, momentos de grande inspiração do filme – e é frustrante que não sejam mais freqüentes ou mesmo mais aprofundados pela dupla de roteiristas. Em certo instante, por exemplo, descobrimos que o conceito de “guerra” foi incrivelmente modificado em função dos “substitutos”, já que, agora, soldados deitados confortavelmente em uma sala podem comandar versões robóticas de si mesmos nos campos de batalha, substituindo os combatentes destruídos por outros novos em folha em questão de segundos. Porém, o próprio conceito de guerra não se tornaria obsoleto num cenário como esse, já que o confronto se limitaria a exércitos compostos de metal, sem envolver nenhuma baixa real? Se vidas humanas não estão mais em jogo, qual o princípio (ou falta de) moral de uma guerra, num contexto como este? E que tipo de abalo psicológico alguém poderia experimentar ao testemunhar versões virtuais de si mesmo sendo destruídas, já que, teoricamente, aquela tecnologia permite que os usuários sintam o que os andróides sentirem? Como seria esta sensação de “morte”, afinal? Lamentavelmente, questões como estas simplesmente não interessam aos roteiristas, o que nos leva a perguntar por que, então, apresentaram aquelas situações específicas em primeiro lugar já que não tinham qualquer intenção de investigá-las.
Por outro lado, o tratamento visual que o conceito recebe é impecável: retratados como seres cuja aparência humana só é comprometida pelo aspecto obviamente plástico de suas peles, os “substitutos” são simultaneamente tremendamente realistas e estranhamente artificiais, já que seu olhar quase sem expressão os transforma numa criação incômoda como os humanos digitais de Final Fantasy. Aliás, um dos pontos altos do filme é observar justamente a contraposição entre os humanos pálidos, agitados e com as peles cheias de poros e os andróides perfeitamente compostos e contidos. E se é intrigante perceber que o personagem de James Cromwell conta com vários “substitutos” criados a partir das diferentes aparências de seu filho ao longo dos anos, o roteiro volta a nos frustrar ao jamais investigar a psicologia por trás desta atitude do sujeito, preferindo, em vez disso, se concentrar nas explosões e tiroteios.
Competente ao estabelecer as diferenças entre sua versão “rejuvenescida” e o policial envelhecido e amargo por trás desta, Bruce Willis se destaca também ao retratar o desconforto de seu personagem ao pisar na rua pela primeira vez em anos (além, claro, de sempre funcionar muito bem nas seqüências de ação). Em contrapartida, os roteiristas jamais se preocupam em desenvolver bem o herói, optando por moldá-lo como um clichê movido por várias outras convenções: o policial que quebra as regras; que é atormentado por uma tragédia passada; que busca se reconciliar com a amada; que enfrenta uma grande conspiração sem ser apoiado por ninguém; e assim por diante. E se James Cromwell pouco pode fazer com seu personagem desinteressante, Ving Rhames ao menos ganha a oportunidade de brincar com seu igualmente caricato Profeta, ao passo que Radha Mitchell e Rosamund Pike são irremediavelmente limitadas pelo roteiro.
Sabotado por um vilão cujas motivações fazem pouquíssimo ou nenhum sentido, Substitutos poderia ter se transformado numa espécie de Blade Runner contemporâneo caso tivesse despertado um pouquinho mais de ambição criativa em seus realizadores; como ficou, porém, é apenas um filme de ação eficiente.
O que é um tremendo desperdício.
22 de Outubro de 2009
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