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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/10/2008 01/01/1970 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
110 minuto(s)

Espelhos do Medo
Mirrors

Dirigido por Alexandre Aja. Com: Kiefer Sutherland, Paula Patton, Cameron Boyce, Erica Gluck, Amy Smart, Mary Beth Peil, Jason Flemyng.

Ao escrever sobre Uma Chamada Perdida, manifestei a esperança de que os filmes rasteiros sobre fantasmas vingativos desaparecessem temporariamente das telas em função do esgotamento dos “mecanismos” empregados pelos espectros em seus ataques, que já utilizaram de celulares a máquinas fotográficas, passando por fitas de VHS e até mesmo infiltrações nas paredes (neste caso, em vez de chamar um bombeiro, a vítima deveria convocar o dr. Peter Venkman). Infelizmente, meu otimismo não se mostrou justificado, já que, neste novo longa do francês Alejandro Aja, um novo “portal” foi encontrado pelos vilões – o que eventualmente leva ao inacreditável instante em que Kiefer Sutherland, usando toda sua experiência como ator para não cair na gargalhada, pergunta com expressão desesperada: “Por que os espelhos estão desesperados para achar você?”.


Refilmagem do (fraquíssimo) sul-coreano Espelho, esta versão escrita por Aja e Grégory Levasseur praticamente abandona toda a trama do original, retendo apenas o conceito dos fantasmas nos espelhos, o trauma do protagonista e, claro, o interessante (mas ilógico) plano final. No lugar das gêmeas idênticas que guardavam a chave daquele filme, o roteiro traz uma irmã de caridade (“Gêmeas”. “Irmã”. Percebem o raciocínio da dupla? Uau.) que, ao entrar no terceiro ato, acaba de condenar o projeto ao fracasso com suas explicações absurdas e ações estúpidas. Enquanto isso, Sutherland, como o ex-policial Ben Carson, acaba encarnando uma espécie de Ben Stiller em Uma Noite no Museu ao passar as noites enfrentando as criaturas fantásticas de uma desativada loja de departamentos – criaturas estas que supostamente o atacam para obrigá-lo a realizar uma tarefa, mas que depois mantêm as ameaças à família do herói mesmo depois que ele se mostra disposto a fazer o que os fantasmas exigem, o que indica que: a) os espectros não são muito inteligentes ou honrados; ou b) eles passaram a achar divertido torturar os Carson. Mas o que poderíamos esperar de seres “colhedores de almas”?

Adotando uma estrutura formulaica desde o princípio, Espelhos do Medo começa com o básico ao apresentar um quase figurante em pânico cuja morte tem, como único objetivo, apresentar o modus operandi dos vilões para os espectadores que, por algum motivo, não leram o título do filme. A partir daí, conhecemos o “herói com problemas no passado” que, ao se deparar com espelhos possuídos, praticamente não hesita um segundo antes de começar a investigar o mistério – afinal, ele é um ex-policial! Curiosamente, apesar desta postura racional, Ben não parece perceber que seus discursos trôpegos sobre os “espelhos amaldiçoados” o fazem soar como um louco – e para alguém que demonstrou tanta tristeza em função da morte da irmã, ele se recupera surpreendentemente rápido, esquecendo a tragédia e voltando a agir como um herói de filme de ação em questão de minutos, como se nada tivesse acontecido.

E já que mencionei a irmã de Ben (vivida por Amy Smart), devo apontar que jamais imaginei que a forma de suicídio tantas vezes tentada por Didi Mocó eventualmente seria levada a sério por... qualquer um – mas o resultado é igualmente hilário, especialmente em função da péssima atuação de Smart em sua “grande” cena. Já Kiefer Sutherland parece simplesmente encarnar uma versão menos radical de Jack Bauer, surgindo embaraçosamente ruim no instante em que seu personagem acreditar estar em chamas (no restante do tempo, ele basicamente repete os trejeitos e até mesmo algumas das frases típicas de Bauer, (anti-)herói da série 24 Horas). Finalmente, Paula Patton, que interpreta a esposa do protagonista, demonstra ser incapaz de oferecer um único momento de atuação convincente, revelando-se apenas como uma sub-Halle Berry cujo único propósito parece ser o de tentar excitar os espectadores masculinos ao surgir com uma blusa branca e justa que logo é encharcada, tornando-se parcialmente transparente.

Sem exibir a energia ou a inteligência de seu surpreendente trabalho em Viagem Maldita, o diretor Alexandre Aja conduz Espelhos do Medo de maneira frouxa e previsível: quando Sutherland se abaixa para lavar o rosto em seu banheiro, por exemplo, já sabemos que algo surgirá no espelho quando ele voltar a se levantar – e este é apenas um exemplo entre tantos presentes ao longo da projeção. E se a direção de arte merece destaque pela ampla e sombria loja de departamentos queimada, isto não é o bastante para salvar um filme que não tem um segundo de originalidade em toda sua duração. Ainda assim, é um alívio que esta nova versão não tenha aproveitado a terrível explicação fornecida por um “especialista” no original e que incluía a pérola: “Alguns acreditam que Leonardo Da Vinci saiu de um espelho e que, por isso, ele não conseguia enxergar o próprio reflexo”.

Por outro lado, não há como desculpar o instante em que Kiefer Sutherland, com um tom de hilária urgência, avisa a esposa pelo telefone: “Você tem que ter cuidado com a água! Ela cria reflexos!”.

E você tem que ter cuidado com este filme. Ele foi criado por indivíduos com insanidade temporária. 

16 de Outubro de 2008

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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