Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
26/08/2005 | 02/08/2005 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Dirigido por Iain Softley. Com: Kate Hudson, Gena Rowlands, John Hurt, Peter Sarsgaard, Joy Bryant, Ronald McCall, Jeryl Prescott.
A Chave Mestra narra uma história ambientada no mesmo universo bizarro e repleto de superstições visto no excepcional Coração Satânico, dirigido por Alan Parker em 1987 – e, embora não chegue aos pés daquele filme, consegue estabelecer um correto clima de estranheza ao confrontar a mentalidade racional de sua protagonista com a extravagância das crenças em magia negra dos demais personagens. E o mero fato de conseguir levar o espectador a se lembrar de Coração Satânico já confere pontos importantes ao longa.
Escrito por Ehren Kruger (cuja carreira é cheia de altos e baixos), A Chave Mestra traz Kate Hudson como Caroline Ellis, uma jovem enfermeira que aceita cuidar de um homem idoso paralisado e emudecido por um grave derrame. Porém, depois de se mudar para o velho casarão dos Devereaux, a moça passa a desconfiar que o velho Ben (John Hurt) está tentando pedir sua ajuda por recear a própria esposa, a enigmática Violet (Gena Rowlands). Enquanto investiga as verdadeiras causas da doença de seu paciente, Caroline descobre o passado trágico do casarão e resolve solicitar o auxílio do jovem advogado do casal, Luke (Peter Sarsgaard).
Apesar da campanha publicitária que tentava vendê-lo como um filme de terror, A Chave Mestra não é tenso ou amedrontador. Na realidade, seus ocasionais elementos sobrenaturais nem sequer assumem características particularmente sombrias, já que o roteiro encara o vodu (ou, no caso, `hoodoo`) como algo quase prosaico, utilizado – ou, no mínimo, conhecido – por praticamente todos os habitantes daquela estranha região. Assim, em vez de investir no medo, o longa opta por um clima de inquietação, empregando uma fotografia escura e planos inesperados, como plongées (câmera apontada verticalmente para baixo) sobre Caroline e travellings que acompanham apenas seus pés, como se a garota estivesse sendo constantemente observada e seguida.
Adotando uma postura firme, bastante diferente das mocinhas habituais do gênero, Kate Hudson encarna Caroline como uma jovem corajosa e inteligente que não costuma gritar sempre que é surpreendida por algo ou alguém – o que já representa um alívio para todos que estão cansados dos berros histéricos das discípulas de Jamie Lee Curtis (aliás, neste aspecto, a abordagem de Hudson aproxima-se daquela adotada por Jennifer Connelly no superior Água Negra). Profundamente cética, Caroline não aceita facilmente as explicações fantásticas que lhe são dadas – e, antes de qualquer coisa, A Chave Mestra preocupa-se principalmente em acompanhar a trajetória da protagonista rumo à aceitação do sobrenatural, o que não deixa de ser interessante. Enquanto isso, o elenco secundário cumpre seu papel: John Hurt transforma um papel sem falas em um bom retrato de um homem tomado pelo medo; Peter Sarsgaard faz o que pode com um personagem criado com fins específicos; e Gena Rowlands abandona a doçura de sua personagem anterior (do ótimo Diário de uma Paixão) e assume um tipo ambíguo que incomoda o espectador.
De modo geral, no entanto, A Chave Mestra é um filme que se desenrola de forma discreta, sem exibir defeitos graves, mas também sem contar com grandes momentos. Aliás, nem mesmo os tropeços ocasionais do cineasta britânico Iain Softley comprometem o longa - como ao subestimar a inteligência do espectador e insistir em estabelecer um paralelo entre a dor de Caroline por não ter tido a oportunidade de ajudar o pai doente e sua dedicação exagerada a Ben Devereaux – algo que já havia ficado claro bem antes de Softley forçar a mão e incluir um plano no qual a moça vê uma foto do pai e, em seguida, olha para o fragilizado Ben na varanda.
O que me leva a recomendar esta produção, no final das contas, é seu desfecho – uma conclusão que respeita a lógica interna da trama, surpreendendo não pela reviravolta em si (que é previsível), mas pela coragem de Ehren Kruger em manter-se fiel à sua idéia original (algo que também fez no interessante O Suspeito da Rua Arlington). E, muitas vezes, basta um bom final para engrandecer um projeto que, de modo geral, não tinha grandes méritos.
25 de Agosto de 2005