Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/02/2004 | 16/01/2004 | 2 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por John Hamburg. Com: Ben Stiller, Jennifer Aniston, Philip Seymour Hoffman, Debra Messing, Hank Azaria, Bryan Brown, Jsu Garcia e Alec Baldwin.
Ben Stiller é um cara talentoso: como eu já havia observado em minha análise sobre Zoolander, o ator é hábil ao compor seus personagens, desenvolvendo caracterizações que, de uma forma ou de outra, diferenciam suas criações entre si. Por outro lado, seus filmes têm se tornado cada vez mais parecidos, estabelecendo premissas nas quais Stiller deve enfrentar situações embaraçosas. Até há algum tempo, o comediante conseguia superar estas limitações dos roteiros e explorar bem seus personagens, como no ótimo Entrando Numa Fria, mas, em Quero Ficar com Polly, ele parece estar no piloto automático – e como o texto de John Hamburg também fica no lugar-comum, o resultado final é simplesmente inócuo.
Desta vez, Stiller interpreta Reuben Feffer, um funcionário de uma grande empresa de seguros que desenvolveu um sistema para avaliar os riscos potenciais de seus prováveis clientes. Assim, quando o multimilionário Leland Van Lew decide fazer um gigantesco seguro de vida, cabe a Feffer decidir se a apólice deverá ser efetivada ou não, já que Van Lew é adepto dos esportes radicais. Ao mesmo tempo, o rapaz enfrenta um terrível golpe ao flagrar a esposa com outro homem durante a lua-de-mel. Abalado, ele aceita o convite de seu melhor amigo, que foi astro de cinema quando criança, para uma festa, onde acaba reencontrando Polly Prince, uma antiga colega de infância – e os dois logo começam a sair juntos. Porém, Feffer é um homem conservador que odeia correr qualquer tipo de risco (o que inclui comer em restaurantes exóticos), enquanto Polly quer apenas `curtir a vida`.
O principal problema de Quero Ficar com Polly (além do ridículo título brasileiro, que procura explorar descaradamente o sucesso de Quem Vai Ficar com Mary?) é o fato de que o filme não é dos mais engraçados. Há, é claro, uma ou outra situação que provoca o riso, como a cena do banheiro ou a hilária tomada em que vemos um homem suado e sem camisa esfregar o corpo no enojado Feffer, durante uma partida de basquete (não é à toa que as duas gags estavam no trailer do longa). No entanto, de modo geral, Quero Ficar com Polly é pouco inspirado – e um bom exemplo reside no bichinho de estimação de Polly, um furão cego: depois de preparar o público para boas piadas envolvendo o animal, o roteiro simplesmente se limita a mostrá-lo trombando em móveis e postes. Ora, para constatar como o filme desperdiçou boas oportunidades, basta assistir a Memória Curta, no qual o personagem de Dana Carvey possuía um cãozinho (também com problemas de visão) que rendia vários dos melhores momentos da projeção, como, por exemplo, ao errar o alvo durante o ataque a alguns bandidos.
Mas se Ben Stiller rende-se ao óbvio, o mesmo não pode ser dito sobre Jennifer Aniston, que continua a provar ser a mais talentosa integrante do elenco de Friends: encarnando Polly com grande naturalidade, a atriz retrata com eficiência o estilo relaxado da personagem ao mesmo tempo em que é hábil ao ilustrar, de forma sutil, a insegurança da moça e seu medo de rejeição (observe o recado de sua secretária eletrônica). É uma pena, portanto, que depois de participar de boas produções como Rock Star, Como Enlouquecer Seu Chefe e, principalmente, O Gigante de Ferro e Por um Sentido na Vida, Aniston tenha se contentado em atuar em comédias bobinhas como Todo Poderoso e este Quero Ficar com Polly – que, inclusive, chega a reutilizar uma situação que já havia aparecido em Friends, quando Feffer faz uma lista de prós e contras de seu relacionamento com Polly, que encontra o texto (na série – da qual sou fã, diga-se de passagem -, era Ross quem fazia a lista sendo surpreendido por Rachel, vivida justamente por Aniston).
Completando o elenco, vêm Debra Messing (da série Will & Grace), que não faz nada de especial; Hank Azaria, que mais uma vez se mostra engraçado ao assumir um sotaque estranho (apesar do recurso ter falhado em Os Queridinhos da América, ele estava excelente como o Agador da refilmagem de A Gaiola das Loucas); Alec Baldwin, que cria um tipo grosseiro e interessante; e, finalmente, Philip Seymour Hoffman, como um ex-ator infantil que, já adulto, mostra-se frustrado com sua vida. Aliás, Hoffman se transforma, ao lado de Aniston, no melhor elemento de Quero Ficar com Polly, e suas cenas são o ponto alto do filme. É uma pena, portanto, que ele apareça tão pouco.
Entregando-se aos velhos clichês das comédias românticas, o terceiro ato da história ainda reserva as `reviravoltas` (tosses) de sempre: alguém decide `abandonar a cidade`, obrigando o(a) namorado(a) a correr contra o relógio para impedi-lo(a). Hum-hum. Ainda assim, sou obrigado a admitir que torci pelo casal Feffer-Polly, o que comprova que, se a parte cômica da produção falha terrivelmente, ao menos o aspecto romântico tem um sucesso moderado.
Seja como for, é melhor que Ben Stiller procure novos estilos de projeto com urgência, sob pena de esgotar sua imagem como comediante. E uma das medidas que ele deveria tomar imediatamente seria romper os laços profissionais com o diretor e roteirista John Hamburg, cujo currículo praticamente se resume a suas parcerias com Stiller. Não que Hamburg seja o responsável direto pela mesmice dos últimos trabalhos do amigo, mas o fato é que ele parece ter se acostumado com a persona `embaraçada` do ator, não se preocupando em explorá-lo melhor. E Ben Stiller merece mais do que interpretar variações de Ted Stroehmann (seu personagem de Quem Vai Ficar com Mary?) pelo resto de sua carreira.
4 de Fevereiro de 2004