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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
02/12/2005 04/02/2005 5 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
105 minuto(s)

Querida Wendy
Dear Wendy

Dirigido por Thomas Vinterberg. Com: Jamie Bell, Mark Webber, Chris Owen, Alison Pill, Michael Angarano, Danso Gordon, Bill Pullman, Novella Nelson.

Co-fundadores do movimento Dogma 95, Lars Von Trier e Thomas Vinterberg são obviamente cineastas talentosos, ainda que nem sempre seus filmes reflitam este fato: depois de dirigir o melhor filme do Dogma, Festa de Família, Vinterberg comandou o fraquíssimo O Dogma do Amor; em contrapartida, Von Trier recuperou-se do pavoroso Os Idiotas com duas obras-primas, Dançando no Escuro e Dogville.

Desta vez, a dupla decidiu somar esforços e realizou este excepcional Dear Wendy, que conta com roteiro de Von Trier e direção de Vinterberg, embora as características autorais do primeiro acabem soando mais presentes do que as do segundo. Aliás, Dear Wendy tem o estilo de Von Trier impresso em cada cena e elemento narrativo: da pequena cidade habitada por tipos característicos à locução feita pelo protagonista, o filme demonstra obsessões que se tornaram verdadeiramente emblemáticas no Cinema feito pelo autor de Dogville – passando, inclusive, por suas constantes tentativas de analisar o comportamento humano diante de situações de confronto e submissão.

Estrelado por Jamie Bell, Dear Wendy gira em torno de Dick Dandelion, um jovem inseguro que não sabe exatamente qual é seu lugar no mundo, mas que tem certeza de uma coisa: jamais seguirá os passos do pai como minerador – uma profissão adotada pela maior parte dos homens de sua cidadezinha (aqueles que assumem outros postos são considerados `fracos`). Certo dia, Dick torna-se dono, de forma acidental, de um revólver – e, apesar de se declarar um pacifista, descobre que se sente muito mais confiante quando carrega a arma no bolso. Ao lado de um amigo que divide o mesmo sentimento, o rapaz funda uma pequena sociedade dedicada à veneração e ao estudo das armas, logo reunindo mais alguns jovens que enxergam, em seus revólveres, autênticos amigos merecedores de respeito e até mesmo amor. Infelizmente, chega um momento em que os `Dândis` (como se intitulam os seguidores de Dick) percebem que talvez seja necessário romper com os ideais pacifistas e utilizar as armas contra outras pessoas.

Instigante e extremamente divertido, Dear Wendy acaba se revelando uma espécie de `primo` do fabuloso Clube da Luta, com o qual divide alguns temas importantes – entre eles, o sentimento de inadequação de uma geração cujos parâmetros de avaliação do `sucesso` passam, necessariamente, pela popularidade e pelo poder de consumo. Excluídos pela sociedade em que vivem, os Dândis querem fazer parte de algo maior, de um grupo que os abrace como são e aceite suas idiossincrasias. Para eles, não há contradição no fato de que pacifistas portem armas; seus revólveres, aliás, assumem justamente a condição de pacificadores, já que estabelecem escudos psicológicos em torno de seus donos. Sentindo-se `fortes`, eles não precisam provar nada a ninguém, e isto é o bastante.

E também é um sofisma, obviamente, já que a mera presença da arma aumenta exponencialmente as chances de que desentendimentos simples se transformem em conflitos com conseqüências trágicas. A arma é, por si só, um fator de risco; acreditar que sirva como inibidora de violência, e não como uma de suas principais causas, é uma falácia que interessa apenas à indústria de armamentos e aos seus lobistas. Compreendendo perfeitamente esta situação, Von Trier ilustra o argumento com a escalada absurda dos incidentes que tomam conta do filme ao longo do terceiro ato justamente em função da simples existência daqueles objetos. Neste sentido, Dear Wendy exibe uma mensagem anti-belicista incrivelmente eficiente.

Explorando com talento o imenso potencial do roteiro bem amarrado do colega, Thomas Vinterberg cria uma narrativa fluida, interessante e bem-humorada, extraindo, no processo, performances fantásticas do elenco encabeçado por Jamie Bell (que, em determinado instante, chega a `mutilar` sua arma, depois de uma crise de ciúmes, para tê-la sob controle – algo não muito distante do que faz o protagonista de Encaixotando Helena, por exemplo).

Contando com uma ótima direção de arte (a cidadezinha vista no filme é genial) e com uma trilha sonora contagiante embalada pelos Zombies, Dear Wendy é um filme tematicamente rico que comprova que, libertados das amarras técnicas e estéticas do Dogma, seus fundadores continuam capazes de criar obras irreverentes, provocadoras e, acima de tudo, inteligentes.
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29 de Agosto de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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