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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
02/04/2004 26/09/2003 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
104 minuto(s)

Bem-vindo à Selva
The Rundown

Dirigido por Peter Berg. Com: The Rock, Seann William Scott, Rosario Dawson, Christopher Walken, Jon Gries, Arnold Schwarzenegger.

Ao assistir a um filme de ação, você deve estar preparado para testemunhar alguns lapsos de lógica e afrontas às leis da física. Porém, há limite para tudo: uma coisa é ver o imenso Dwayne Johnson (vulgo The Rock) derrotando, sozinho, dezenas de inimigos em uma luta; outra é vê-lo voar entre dois prédios e quebrar uma coluna de concreto com apenas um soco. No primeiro caso, o absurdo já tornou-se lugar-comum nas produções do gênero; no segundo, o disparate torna-se inaceitável – a menos que o herói em questão chame-se Clark Kent ou Neo.

O estranho é que, a princípio, Bem-vindo à Selva parece interessado em criar um protagonista `humano` - não chego a dizer `verossímil`, mas, no mínimo, com traços de vulnerabilidade: em sua cena inicial, The Rock (que aqui interpreta Beck, capanga de um milionário sem escrúpulos) entra em uma boate a fim de cobrar uma dívida de um jogador de futebol americano. Disposto a evitar uma briga, ele mantém a calma mesmo depois de ser humilhado pelo tal sujeito, que lhe atira uma bebida no rosto. Finalmente, Beck é obrigado a agir e, como não poderia deixar de ser, derruba meia dúzia de adversários sem muito esforço. Ainda assim, ele sai da boate ofegando e demonstrando certo alívio por ter escapado ileso – o que já o diferencia de boa parte dos heróis de Hollywood, que encaram suas próprias façanhas de forma absolutamente natural.

Pena que esta abordagem dure apenas cerca de 10 minutos, sendo abandonada a partir do momento em que Beck é enviado para a Amazônia com o objetivo de buscar Travis, filho de seu patrão. É então que o roteiro escrito pela dupla R.J. Stewart e James Vanderbilt começa a se desintegrar, apelando para o velho clichê dos `parceiros que se odeiam` e se transformando em uma espécie de mistura de Fuga à Meia-Noite e Tudo por uma Esmeralda – embora jamais consiga recriar o bom humor presente naquelas produções. Para compensar a mediocridade das piadas, o diretor Peter Berg (do horroroso Uma Loucura de Casamento) cria algumas boas seqüências de ação (como aquela que envolve cipós e capoeira) – somente para ser novamente derrotado quando o roteiro se concentra novamente no humor.

A boa notícia é que The Rock (como o ator, que começou sua carreira na luta-livre, prefere ser chamado) demonstra possuir o carisma necessário para se tornar um astro do gênero, já que, além de não se levar a sério, possui um físico imponente e mostra-se bem mais expressivo do que o ícone Arnold Schwarzenegger – que, aliás, utiliza sua pequena participação em Bem-vindo à Selva para demonstrar apoio ao seu `sucessor`. Por outro lado, Seann William Scott (como Travis) jamais faz jus à fama conquistada graças às suas divertidas performances na trilogia American Pie, o que é decepcionante. Mas o maior embaraço deste longa reside mesmo na ridícula participação de Christopher Walken, que atinge o fundo do poço na seqüência em que aparece, em um close fechadíssimo, reagindo às proezas do protagonista.

Como se não bastassem as deficiências da trama, o público brasileiro ainda tem mais um motivo para se irritar com Bem-vindo à Selva: embora o filme tenha acertado ao mostrar a população local falando português (e não espanhol, como Hollywood costuma fazer), o forte sotaque dos atores e as estranhas pausas demonstram que estes aprenderam suas falas foneticamente, sem compreender direito o que diziam (aí vai uma idéia revolucionária: ao escalar o elenco para viver personagens brasileiros, que tal dar prioridade a artistas desta nacionalidade?). Há, é claro, outros tropeços menos graves: um dos guerrilheiros (Hein? Guerrilheiros?) se chama `Manito` e a cidade na qual boa parte da ação se passa é uma certa `El Dorado`, mas podemos relevar estes fatos. Já a caracterização `primitiva` dos habitantes da vila, com seus `ancestrais` e superstições, é algo mais difícil de perdoar.

Bem fotografado por Tobias A. Schliessler, que explora bem as locações, Bem-vindo à Selva foi rodado no Havaí, já que o diretor Peter Berg e sua equipe foram assaltados quando estiveram no Brasil à procura de locais adequados para as filmagens. Pois bem: eles se vingaram – e este longa é a prova disto.
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18 de Março de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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