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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/02/1998 03/10/1997 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
125 minuto(s)

Reviravolta
U Turn

Dirigido por Oliver Stone. Com Sean Penn, Jennifer Lopez, Nick Nolte, Powers Boothe, Jon Voight, Billy Bob Thornton, Claire Danes, Joaquin Phoenix.

Oliver Stone tem um estilo inconfundível. Se você entrar em um cinema no meio da projeção, sem saber que filme está sendo exibido, será fácil perceber que, no mínimo, ele foi dirigido por Stone. Os enquadramentos, a direção, o ritmo da narrativa... é cinema de autor, sem dúvida.


Em Reviravolta (ou, numa tradução literal, Retorno), ele pratica mais uma vez seu jeito de fazer cinema. Estão ali todas as técnicas que o diretor vem desenvolvendo ao longo dos anos (em sua maioria, pequenos `truques` ensinados em qualquer bom curso de cinema, mas que Stone eleva a uma outra categoria). E, no entanto, o resultado não é um filme típico do cineasta que criou Assassinos por Natureza, Platoon ou The Doors. Aqui, Stone cria uma pequena pérola de humor negro, com seqüências do mais puro suspense intercaladas.

A história: Bobby Cooper (Penn) está indo para Las Vegas a fim de pagar um gângster a quem deve 13 mil dólares. Sua dívida já lhe custou 2 dedos (e, conseqüentemente, sua carreira como tenista). No caminho para Vegas, contudo, seu carro ferve e ele é obrigado a parar em uma cidadezinha chamada Superior. Porém, lá o rapaz se vê envolvido por uma série de situações bizarras que impedem sua partida e - o que é pior - podem envolvê-lo em um (ou mais) assassinatos.

O clima - por vezes `absurdo` - deste filme lembrou-me, e muito, um dos melhores trabalhos de Scorsese, Depois de Horas. Enquanto no filme de Scorsese Griffin Dunne tentava desesperadamente voltar para casa, em Reviravolta Sean Penn tenta sair da maldita cidadezinha que insiste em enredá-lo em seus segredos mais terríveis.

A cidade de `Superior`, habitada por uma galeria de personagens bizarros e cercada por montanhas, é clássica desde já. O calor (mais escaldante do que o de Faça a Coisa Certa) torna o filme ainda mais tenso do que o esperado. Esta tensão é ainda mais acentuada pela montagem de Hank Corwin e Thomas J. Nordberg (obviamente inspecionados por Stone), que intercalam imagens desfocadas, mal enquadradas e em preto-e-branco para atingirem este objetivo.

Aliás, é impressionante a inteligência - e importância - da montagem neste filme. Para ilustrar a calmaria que cerca `Superior`, Stone nos mostra várias tomadas enfocando o cotidiano de uma cidadezinha do interior: cães e gatos deitados preguiçosamente sob o batente de uma porta, uma criança no colo de sua mãe, um homem cochilando em um banco... e, de repente, o horizonte é desfocado, dando lugar a uma imagem `fantasma` de um dos personagens principais do filme - e, assim, lembrando ao espectador que há uma vida intensa sob a placidez do lugarejo.

Outro toque de gênio é a trilha sonora de Ennio Morricone. No começo do filme, confesso que achei que Morricone estava `pisando na bola` pela primeira vez em sua carreira. A música continha algo de cômico, de `brejeiro` - em nada combinando com o que estava sendo apresentado na tela. No entanto, com o correr do filme fica mais e mais óbvio que a trilha sonora reflete o `tom` do filme, quase farsesco.

As interpretações são ótimas: Penn está perfeito como o homem que se vê envolvido por uma série de situações que o envolvem além do que ele desejaria. Nick Nolte (com uma prótese dentária e cabelos curtíssimos que o deixam ainda maior) também cria um Jack McKenna ameaçador e, curiosamente, digno de dó. Mas não posso deixar de mencionar o fantástico trabalho de Billy Bob Thornton neste filme. O mecânico Darrell é, sem dúvida, o habitante mais interessante de `Superior`. Já Jennifer Lopez, Jon Voight e Claire Danes fazem um trabalho `burocrático`, sem nada demais. Estes dois últimos, inclusive, em papéis absolutamente dispensáveis. Curiosidade: observe Julie Hagerty, a heróina de Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu no papel de Flo, uma garçonete do lugarejo.

Reviravolta é, em suma, um filme inteligente, divertido, angustiante e - por que não? - ótimo para aqueles que se interessam pela técnica cinematográfica. Observar os `truques` de Stone é, por si só, diversão mais do que suficiente e que já valeria o preço do ingresso. Não deixe de enveredar por este `Retorno`. Vai valer a pena.
``

25 de Fevereiro de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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