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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/01/2000 10/12/1999 1 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
88 minuto(s)

Gigolô por Acidente
Deuce Bigalow: Male Gigolo

Dirigido por Mike Mitchell. Com: Rob Schneider, Oded Fehr, Arija Bareikis, Eddie Griffin, Richard Riehle, William Forsythe.

É preciso tirar o chapéu para a equipe que produziu o trailer de Gigolô por Acidente: além de criar no espectador a impressão de que esta é uma comédia realmente divertida, ele consegue ser infinitamente mais engraçado do que o próprio filme - algo que não é muito difícil, diga-se de passagem.

Co-escrito e protagonizado por Rob Schneider (mais um comediante oriundo do Saturday Night Live), o filme gira em torno de Deuce Bigalow, um limpador de aquários que é contratado para cuidar temporariamente da casa de um bem-sucedido gigolô. Porém, quando acidentalmente destrói um caríssimo tanque na sala do sujeito, ele é obrigado a se tornar um garoto de programa a fim de pagar o estrago - o que o leva a se envolver em diversas situações extremamente constrangedoras e repletas de humor negro.

No entanto, se provocar o riso já é tarefa difícil para qualquer roteirista, o esforço deve ser redobrado sempre que há uma tentativa de se utilizar este tipo de humor, onde é tênue o limite entre o engraçado e o grotesco. Vejamos, por exemplo, a eficácia com que os irmãos Farrelly utilizam este recurso em seus trabalhos: da prótese de Woody Harrelson em Kingpin aos deficientes mentais em Quem Vai Ficar com Mary?, eles percorrem um perigoso caminho sem perder o rumo, provocando risos culpados nos espectadores sem ofender (quase) ninguém. Em Debi & Lóide, os Farrelly chegam mesmo a cometer o `pecado` de vender um periquito sem cabeça para um garoto cego, naquela que é uma das seqüências mais hilárias produzidas nos anos 90. Infelizmente, os dois roteiristas de Gigolô por Acidente não possuem a mesma habilidade, o que faz com que suas piadas gerem momentos de pura bizarrice - e pouca originalidade (a cena em que a garota cega acaricia uma pantufa julgando tratar-se de um gato é uma cópia descarada da piada do periquito sem cabeça).

Para piorar, o estreante diretor Mike Mitchell prova não ter o menor timing cômico, comprometendo os poucos momentos realmente engraçados do filme, como aquele em que Deuce Bigalow tenta se declarar para sua amada depois de ter o rosto anestesiado. Se a princípio o público ri ao vê-lo dizer palavras de amor enquanto baba (sim, confesso que ri), a piada torna-se cansativa depois de alguns minutos. O mesmo vale para a cena em que o rapaz visita sua primeira cliente depois de `profissionalizar-se`: ao invés de guardar a surpresa para o momento em que Deuce vê Jabba the Lady (nome mais do que apropriado para o personagem), Mitchell deixa a platéia ouvir a voz masculina do travesti dizendo `Estou aqui em cima` segundos antes - o que simplesmente arruína a piada.

Aliás, é um grande elogio chamar de `piadas` as pobres tentativas que Schneider faz para provocar gargalhadas no espectador. As referências a Matrix, por exemplo, são meras curiosidades jogadas ao acaso no roteiro, não tendo propósito algum. Completamente fora do contexto, elas foram utilizadas apenas para capitalizar em cima do sucesso do filme dos irmãos Wachowski. A título de comparação, vale dizer que o trailer de Todo Mundo em Pânico exibe este mesmo recurso com muito mais eficácia - no caso, o assassino mascarado sofre terríveis dores nas costas depois de se esquivar para desviar de objetos atirados pela mocinha. Este é um dos princípios básicos da comédia: a piada fica muito mais engraçada quando possui uma `tirada final` - o que nunca acontece em Gigolô por Acidente. Ah, sim: e quando Hollywood vai descobrir que a velha piada do toque retal, que sempre mostra alguém colocando luvas cirúrgicas para examinar um homem em desespero, está completamente desgastada?

Quanto ao elenco, não há muito a dizer, já que a qualidade das atuações é o menos importante em filmes como este. Na verdade, só podemos comentar que é realmente uma pena ver um ator do calibre de William Forsythe interpretando um personagem tão ridículo (no sentido sem graça da palavra) como o que vive aqui: um detetive paranóico que tem verdadeira compulsão de exibir o pênis. E, acreditem, ele é provavelmente a figura menos bizarra da história: basta dizer que entre as clientes de Deuce há uma narcoléptica e uma mulher de pés gigantescos (uma visão assustadora, diga-se de passagem). Nada que seja engraçado, no entanto.

Produzido por Adam Sandler, amigo pessoal de Rob Schneider, Gigolô por Acidente é um equívoco do princípio ao fim (o desfecho da história é especialmente ruim). No entanto, o sucesso do filme nas bilheterias americanas prova que piadas `sofisticadas` como aquelas que envolvem flatos e personagens que tropeçam em tudo ainda têm seu público. Bom para Sandler, pior para o Cinema.
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9 de Abril de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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