Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
17/07/2001 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
130 minuto(s) |
Dirigido por Kevin Smith. Com: Ben Affleck, Matt Damon, Linda Fiorentino, Alan Rickman, Kevin Smith, Jason Mewes, Chris Rock, Salma Hayek, Jason Lee, Alanis Morissette.
É bem provável que muitos daqueles que protestaram contra o lançamento de Dogma venham a sentir-se realmente ridículos depois que o assistirem. Talvez eles finalmente percebam que foram manipulados por alguns poucos indivíduos que só visavam os próprios interesses. Afinal de contas, não há como negar que o novo trabalho de Kevin Smith é apenas uma comédia despretensiosa cujo ponto forte é o humor rasteiro - principalmente as piadinhas sobre sexo -, mas que, nos momentos em que se volta para questões de religiosidade, acaba fazendo um verdadeiro discurso pró-fé.
O filme conta a história de dois anjos renegados, Loki (Damon) e Bartelby (Affleck), que foram expulsos do Céu por Deus depois que desafiaram a Sua autoridade. Banidos há milhares de anos, eles finalmente descobrem uma forma de retornar ao Paraíso. Porém, caso cumpram seu objetivo, os anjos desfarão toda a existência, pois terão `provado` que Deus errou ao puni-los. Para evitar esta tragédia, um Serafim chamado Metatron incumbe Bethany, uma mulher mortal, de impedi-los. Para cumprir a perigosa tarefa, ela contará com a ajuda de dois `profetas` - ninguém menos do que Jay (Mewes) e Silent Bob, personagens recorrentes na obra do diretor Smith (que, aliás, interpreta este último).
Infelizmente, o roteiro de Dogma funciona muito melhor no papel do que na telona. Quando apenas lidos, os diálogos escritos por Kevin Smith funcionam maravilhosamente bem, mesmo quando repetem pela enésima vez algum fato já plenamente estabelecido. No filme, porém, eles acabam soando cansativos em alguns momentos, quebrando o ritmo ao interromperem a narrativa para desfiar uma ladainha interminável (que geralmente se resume a explicar o que aconteceu - ou irá acontecer - durante a trama). Além disso, se no roteiro o mau humor de Bethany não incomodava, na tela torna-se quase insuportável, o que torna a heroína antipática, dificultando a identificação da platéia com a mesma.
E mais: para reduzir a metragem do filme, Smith cortou páginas e mais páginas de seu roteiro - e, lamentavelmente, suas escolhas nem sempre foram as melhores. O Cardeal Glick, por exemplo, merecia mais destaque, assim como sua campanha `Catolicismo Nota 10` (que no script é explorada mais a fundo, chegando ao ponto de mostrar Glick lançando cereais em formato de hóstia - e que já vêm benzidos de fábrica). Em contrapartida, a personagem de Salma Hayek, a Musa, revela-se completamente dispensável, tendo apenas uma boa piada em toda a história: aquela em que o filme Esqueceram de Mim é mencionado.
As referências a outros filmes, aliás, funcionam extremamente bem em Dogma, como no momento em que Silent Bob atira Loki e Bartelby para fora de um trem em movimento e, percebendo que amedrontou os demais passageiros do vagão, diz: `Não tinham passagens` - exatamente como Harrison Ford fez em Indiana Jones e a Última Cruzada. Outra citação hilária acontece quando Metatron faz uma alusão a Karatê Kid - A Hora da Verdade, comparando o poder de cura divino com os ensinamentos do Sr. Myagi (`Wax on, wax off`).
Mas quem realmente se destaca no filme é Jason Mewes, que interpreta o desbocado Jay. São dele os melhores (e mais engraçados) diálogos, o que leva a platéia a estabelecer uma verdadeira sintonia com o personagem. Matt Damon e Ben Affleck, enquanto isso, conseguem tornar seus personagens mais humanos - o que não deixa de ser um paradoxo -, possibilitando uma certa identificação do espectador com seus dramas particulares. Affleck, em especial, protagoniza algumas cenas realmente intensas, especialmente nos últimos dez minutos de projeção (sua expressão ao ter as asas cortadas é absolutamente perfeita).
Quem esperava descobrir em Dogma os argumentos para desfiar um ataque às religiões organizadas saiu, provavelmente, bastante decepcionado do cinema. Apesar de algumas poucas críticas realmente mordazes (especialmente aquelas que dizem respeito à utilização da fé como arma de guerra), o filme não possui a complexidade - ou a intensidade - de A Última Tentação de Cristo (outra obra pró-fé mal compreendida). Na verdade, poucas vezes uma discussão teológica veio acompanha de tantos palavrões - e de profetas tão atípicos. Como saga religiosa, Dogma é mesmo uma excelente comédia.
22 de Janeiro de 2000