Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
26/02/2023 | 26/02/2023 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
HBO Max | |||
Duração do filme | |||
55 minuto(s) |
Dirigido por Liza Johnson. Roteiro de Neil Druckmann. Com: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Storm Reid, Terry Chen, Ruby Lybbert, Ian Rozylo.
Left Behind, sétimo episódio desta primeira temporada de The Last of Us, é de certa forma a contrapartida adolescente ao lindo Long, Long Time, que marcou a primeira vez em que a série abandonou o tempo presente de sua narrativa para fazer um mergulho mais extenso no passado de personagens principais ou secundários. Mas se a história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) trazia dois homens maduros em uma relação longa que, como tal, havia atravessado altos e baixos e oferecido a ambos a oportunidade de uma intimidade completa, aqui temos uma versão protagonizada por duas jovens ainda confusas acerca de seus sentimentos e de seu lugar no mundo, resultando numa ligação mais doce, ingênua e – o mais triste – cortada em sua raiz antes que pudessem experimentar qualquer de seus frutos.
(O restante deste texto contém spoilers.)
Primeiro roteiro assinado apenas por Neil Druckmann, responsável pelo game, Left Behind reencontra Ellie (Ramsey) e Joel (Pascal) numa situação desesperadora depois que este foi gravemente ferido nos últimos segundos de Kin: enquanto o sujeito insiste para que a garota o abandone e retorne a Jackson, ela busca alguma maneira de salvá-lo, o que acaba despertando lembranças daquela que parece ter sido sua única ligação afetiva real antes de conhecê-lo. A partir daí, um longo flashback nos conduz ao período em que Ellie ainda era uma cadete da FEDRA e demonstrava uma rebeldia que ocasionava punições frequentes. Preocupada com a melhor amiga Riley (Reid), desaparecida há três semanas depois de fugir dos treinamentos, ela é surpreendida certa noite com o retorno da moça, que a convence a acompanhá-la a fim de viver “a melhor noite de sua vida”: uma visita a um antigo shopping center que, lacrado há anos por supostamente abrigar dezenas de infectados, teve sua eletricidade restabelecida sem que a FEDRA se desse conta disso.
Como já se tornou padrão em The Last of Us, o episódio oferece ao designer de produção John Paino mais uma oportunidade de explorar o universo pós-apocalíptico da obra – e ele não desaponta (se não vencer todos os prêmios da categoria, será uma injustiça irreparável). Imaginando o shopping como um contraponto à escuridão habitual da série, Paino cria vastos corredores amplamente iluminados que trazem fachadas de lojas de ambos os lados; algumas ainda intactas, outras semidestruídas pela multidão em pânico que, nos dias iniciais da pandemia fúngica, pilhou as mercadorias mais úteis em uma situação de emergência – e detalhes como o aviso de “volto em cinco minutos” exposto na bilheteria de um cinema ajudam o espectador a compreender como o colapso se deu de maneira súbita e veloz.
Continuando a exibir inspiração em suas escolhas musicais, os realizadores acertam, por exemplo, na seleção de “Take on Me”, do a-ha, como acompanhamento da sequência inicial no shopping, remetendo às produções adolescentes da década de 80 que encontravam, nestes centros comerciais, um cenário natural para boa parte da ação – e, de modo similar, a letra de “All or None”, do Pearl Jam, pode soar óbvia (“É uma situação sem esperança”), mas funciona como apresentação de uma Ellie pré-infecção. E se a mesma observação poderia ser feita sobre “I Got You Babe” como tema de um jovem casal que finalmente descobre o interesse mútuo em um contexto no qual também há uma responsabilidade pela segurança uma da outra, a versão de “Just Like Heaven” que surge durante a cena no carrossel é inesperada, mas provavelmente a melhor surpresa musical do episódio, evocando um sentimento que fica entre o romântico e o melancólico.
Aliás, a temperatura das luzes nesta passagem, que projeta um calor agradável ausente na maior parte da série, gera um interlúdio de paz importante para o equilíbrio da narrativa, servindo para desarmar o espectador ao mesmo tempo em que o faz temer pelo instante em que a calmaria chegará ao fim. Além disso, é tocante perceber o encantamento de Ellie diante de ambientes e objetos que deveriam ser prosaicos para uma adolescente - e Bella Ramsey mais uma vez merece créditos por sua habilidade de nos fazer acreditar na fascinação da personagem diante das luzes neon de um fliperama ou de escadas rolantes (e é significativo como tanto ali quanto no carrossel Ellie logo tenta caminhar no sentido contrário ao do movimento automático, demonstrando seu espírito contestador).
Primeiro episódio a se dedicar quase exclusivamente à garota, Left Behind é carregado por Ramsey com uma presença notável que traz, em seus detalhes de composição, elementos reveladores sobre sua personalidade: observem, por exemplo, como ela imediatamente tira os pés de cima da cadeira quando o capitão Kwong (Chen) entra na sala, sugerindo que, mesmo rebelde, Ellie é inteligente o bastante para reconhecer certos limites. (Vale apontar que a voz calma do oficial e sua crença na virtude de sua missão servem para expor uma faceta benigna da FEDRA até então inédita.) Da mesma maneira, a decoração de seu quarto (novamente créditos ao design de produção) nos faz lembrar de sua juventude, expressando suas obsessões adolescentes, sua curiosidade pelo passado que não viveu e, no vazio da cama posicionada no canto oposto à sua, a lacuna deixada pela ausência de Riley.
Beneficiado pela ótima química entre Ramsey e Storm Reid, que tornam palpável o afeto entre as duas jovens (bem como um interesse romântico crescente), Left Behind é comandado por Liza Johnson com a compreensão de que, em função de diálogos ocorridos em capítulos anteriores, já sabemos que não há muita promessa no futuro do casal – e, assim, a diretora é sábia ao criar composições que, mesmo nos planos mais fechados, ainda deixam espaços expostos ao fundo, gerando inquietação no espectador através da expectativa de que alguma ameaça surgirá subitamente. Por outro lado, as referências visuais ao game (como na cena em que a dupla salta entre vários edifícios) são um pouco decepcionantes, mas, creio, inevitáveis, sendo compensadas pela urgência com que o confronto com um infectado é retratado nos minutos derradeiros do episódio. (Já que mencionei o jogo, é fascinante notar como a escolha de Ramsey no instante em que Ellie descobre ter sido mordida é radicalmente diferente daquela feita por Ashley Johnson no original: enquanto esta evocava medo e pânico, aquela opta pela raiva e frustração, marcando um importante contraste entre as duas composições.)
Situando Ellie entre duas escolhas tanto no início quanto no desfecho da narrativa – uma rima elegante -, Left Behind pode não estar entre os melhores desta temporada (principalmente por retratar incidentes já revelados nos anteriores), mas é eficaz o bastante para comprovar como The Last of Us é instigante até em seus momentos mais previsíveis.
07 de Março de 2023
Os textos sobre os demais episódios de The Last of Us podem ser lidos aqui.
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