Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Jim Hubbard.
Quando a AIDS passou a aterrorizar o mundo, no meio da década de 80, a expectativa de vida pós-diagnóstico era de apenas dois anos para cerca de 80% dos pacientes. Inspirando pânico a ponto de mais da metade da população norte-americana defender que os doentes deveriam ser colocados em quarentena, identificados ou tatuados, a AIDS sequer era mencionada por nome pelo então presidente Reagan – e quando uma importante revista realizou uma matéria sobre a epidemia, afirmou sem hesitações que as mulheres não contraíam a doença por vias sexuais. Para complicar ainda mais o quadro, o FDA, órgão responsável por testar e liberar as drogas usadas para tratar a síndrome, demorava um longo tempo para realizar seu trabalho, o que apenas dificultava ainda mais o tratamento de pacientes que eram obrigados a gastar mais de dez mil dólares por ano apenas com o AZT.
Foi neste contexto conturbado que surgiu o ACT UP, grupo ativista que, ao longo dos anos seguintes, orquestraria uma série de ações fundamentais para facilitar a vida das vítimas da síndrome e para esclarecer o restante da população a respeito da AIDS – e é a trajetória desta organização que o diretor Jim Hubbard conta neste documentário beneficiado pelo fato de que a ACT UP, ciente do poder da mídia ao manipular informações, se encarregava de registrar todas as suas ações em vídeo, distribuindo cópias em VHS para grupos de todo o país.
Combatendo a igreja em sua visão sempre machista, obtusa e perigosa sobre a sexualidade alheia, o ACT UP ainda se mostrou um parceiro importante para grupos defensores dos direitos das mulheres, já que várias de suas causas eram similares, o que culminou em uma ação memorável contra um cardeal de Nova York que combatia o uso da camisinha e sugeria que a AIDS era um castigo divino. Além disso, através de suas estratégias publicitárias, o ACT UP viria a influenciar diversas outras ONGs ao longo das décadas, o que o tornou seminal também neste aspecto.
Não há, portanto, qualquer dúvida sobre a relevância do grupo, que conseguiu acelerar o processo de liberação de drogas pelo FDA, forçou uma mudança na definição da AIDS para que esta não incluísse apenas homossexuais como “grupos de risco” (expressão depois alterada para “atividade de risco”) e, consequentemente, ampliou consideravelmente a sobrevida dos pacientes. Infelizmente, o documentário, embora exponha todos estes fatos, revela-se aborrecido em sua abordagem excessivamente convencional, exagerando na quantidade de entrevistas, que, inclusive, se tornam repetitivas ao trazerem basicamente dezenas de pessoas dizendo as mesmas coisas. Da mesma forma, ainda que as imagens de arquivo sejam importantes para honrar a memória dos vários ativistas já mortos pela síndrome, o excesso de discursos exibidos ao longo da projeção acaba tornando a experiência maçante.
Que o ACT UP foi essencial ao desmistificar a AIDS e melhorar as condições de suas vítimas é algo inquestionável. Mas Unidos pela Raiva não precisava repetir isso por 90 minutos para provar o argumento.
Texto publicado originalmente como parte da cobertura do Festival do Rio 2012.
5 de Outubro de 2012