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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/12/2014 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Espaço Filmes
Duração do filme
86 minuto(s)

O Segredo dos Diamantes
O Segredo dos Diamantes

Dirigido por Helvécio Ratton. Roteiro de L.G. Bayão. Com: Mattheus Abreu, Rachel Pimentel, Alberto Gouvea, Dira Paes, Rui Rezende, Rodolfo Vaz, Glicério Rosário, Chico Neto, Renato Parara e Manoelita Lustosa.

(Esclarecimento ético: o diretor Helvécio Ratton é um amigo querido.)

O mineiro Helvécio Ratton é um cineasta que gosta de surpreender: depois de iniciar a carreira dirigindo aquele que até hoje é considerado um dos documentários mais importantes do nosso Cinema, tornando-se referência na luta empreendida pelo movimento antimanicomial (estou falando, claro, de Em Nome da Razão), Ratton dirigiu um pequeno clássico infantil, A Dança dos Bonecos, passando a oscilar, desde então, entre projetos adultos (Amor & Cia, Batismo de Sangue) e infantis (O Menino Maluquinho, Pequenas Histórias e, agora, este O Segredo dos Diamantes) – e é notável que o mesmo realizador que recriou momentos bárbaros de tortura nos porões da ditadura demonstre uma leveza tão grande em seus trabalhos voltados para o público infanto-juvenil.

Pois O Segredo dos Diamantes (como o recente O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha) é um filme repleto de energia que diverte ao mesmo tempo em que respeita seus espectadores (crianças e adultos), por vezes flertando com o fabulesco e, em outros instantes, apostando em cenas mais dramáticas, mas jamais piegas ou maniqueístas. Assim, o roteiro de L.G. Bayão inicialmente nos apresenta a uma família que, em uma viagem de carro, exibe uma harmonia e um amor que se tornarão motores do restante da narrativa, aproveitando também para introduzir elementos da trama que posteriormente se revelarão fundamentais, numa estratégia elegante em sua economia. Quando, porém, um acidente interrompe a viagem (algo que Ratton atira sobre o espectador num choque súbito), o jovem Angelo (Abreu) passa a aguardar a recuperação dos pais na casa dividida pela avó e pelo tio – e ao descobrir que o tratamento capaz de salvar a vida do pai é proibitivamente caro, o garoto se une aos amigos Júlia (Pimentel) e Carlinhos (Gouvea) na busca por diamantes que, reza a lenda local, foram escondidos pelo misterioso padre Oliveira.

Inteligente ao assumir um ponto de vista juvenil desde o princípio, Ratton e o veterano diretor de fotografia Lauro Escorel levam o público a perceber a maneira com que o protagonista percebe os incidentes que o cercam e que, claro, representam os pesadelos de qualquer criança: a perda dos pais, a frustração por ser mantido no escuro pelos adultos e, claro, a angústia de perceber que algo assustador está levando os adultos de seu cotidiano a um choro convulsivo e escondido no aposento ao lado (e não é à toa que frequentemente vemos Angelo observando, encostado na parede e posicionado no canto do quadro, a reação de seus parentes mais velhos). Ao mesmo tempo, é fundamental que O Segredo dos Diamantes estabeleça esta conexão entre a plateia e os personagens principais, já que é justamente a imaginação daqueles jovens que torna a aventura plausível em um mundo tão cínico.

No entanto, a aventura que eles vivem é apenas o fio condutor da narrativa, que, no processo de acompanhá-la, resgata outros pequenos prazeres da infância, como a delícia de uma mesa repleta de guloseimas preparadas pela avó carinhosa, a expectativa diante de um mistério (e o medinho gostoso que toda criança parece apreciar até certo ponto) e, claro, o gelo na barriga provocado pela descoberta do primeiro amor. Para retratar esta coleção de memórias afetivas, a produção reúne um elenco coeso que, do trio principal estreante até os experientes Rui Rezende, Dira Paes e Manoelista Lustosa encarnam seus personagens com espontaneidade e sensibilidade.

Embalado por uma trilha que acerta em seus temas que evocam alegria e energia (o que inclui uma boa música-tema composta pelo Skank), O Segredo dos Diamantes não teme investir em um humor ingênuo que constantemente provoca um riso sem culpas e que se mostra acessível ao público mais jovem ao mesmo tempo em que diverte os mais velhos justamente pela inocência – algo cada vez mais incomum no Cinema infanto-juvenil e que O Menino no Espelho também emprega com sucesso.

Trazendo uma direção de arte brilhante de Adrian Cooper (contrastem o escritório do avô, amontado e aconchegante ao mesmo tempo, com o sebo visitado pelas crianças e com a casa inquietante do vilão de Rui Rezende), o filme ainda se beneficia das excelentes locações, que, com suas ruazinhas de pedra, suas casas antigas e sua geografia irregular, conferem um tom atemporal à narrativa, soando nostálgica sem, com isso, parecer datada. E ainda que acertadamente adote um tom mais sombrio em seu terceiro ato (afinal, o que é uma aventura sem riscos?), Ratton não exagera na abordagem para não comprometer a leveza da hora que o precedeu.

Assim, quando chega aos seus ótimos créditos finais, O Segredo dos Diamantes envia os espectadores – pais e filhos – felizes para fora do Cinema. É preciso mais do que isso?

11 de Agosto de 2014

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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