Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Paramount Pictures |
Dirigido por Jason Reitman. Roteiro de Jason Reitman e Erin Cressida Wilson. Com: Adam Sandler, Jennifer Garner, Rosemarie DeWitt, Dean Norris, Judy Greer, Olivia Crocicchia, Ansel Elgort, J.K. Simmons, Dennis Haysbert, Kaitlyn Dever, Elena Kampouris, Travis Tope e a voz de Emma Thompson.
Homens, Mulheres e Filhos é um filme com grandes ambições, mas visão limitada. É como um adolescente amargurado que tenta escrever sobre o Amor e o Significado da Vida, mas que, por mais sensível e inteligente que seja, viveu apenas 15 anos e não pode realmente oferecer algum grande insight sobre temas tão complexos. No entanto, se ao ler um texto de um jovem assim você pode dizer “ok, um dia você vai escrever algo inesquecível”, o fato é que o novo trabalho de Jason Reitman permanecerá sempre como uma obra menor de um diretor talentoso.
Baseado no livro de Chad Kultgen, o roteiro co-escrito por Reitman ao lado de Erin Cressida Wilson tem início de forma grandiosa ao acompanhar a Voyager por sua jornada pelo universo enquanto a voz elegante de Emma Thompson explica que a sonda foi enviada pela Humanidade com o objetivo de transportar elementos de nossa experiência (sons, obras de arte, cumprimentos em várias línguas) enquanto explora o espaço infinito que nos cerca. Assim, ao cortar desta introdução para a imagem de um Adam Sandler que se masturba ao assistir a vídeos eróticos no computador do filho, a ideia óbvia é estabelecer um contraste ridículo (e, sim, divertido) que encontrará eco no restante da narrativa, que fará esta contraposição entre nossas buscas grandiosas como espécie e os conflitos particulares que tantos nos atormentam.
Concentrando-se no isolamento aparente promovido pela tecnologia, já que hoje somos criaturas que mantêm os olhos sempre baixos e grudados no aparelho de telefone mesmo enquanto caminhamos na rua, Homens, Mulheres & Filhos traz personagens obcecados por seus iPhones, blogs, tumblrs, twitters e facebooks, incluindo um adolescente que só consegue se excitar ao ver vídeos eróticos mesmo quando tem uma jovem linda e cheia de desejo diante de si. Neste aspecto, o filme parece advogar a ideia de que a Internet contribuiu para um isolamento cada vez maior, já que – como é fácil testemunhar em qualquer lugar público – todos parecem mais interessados em conferir seus celulares do que em interagir com as pessoas de carne-e-osso que se encontram a alguns centímetros de distância. Assim, quando uma jovem diz que só consegue se expressar livremente no Tumblr e outra busca apoio em um fórum de anoréxicas para evitar se alimentar, devemos concluir que a interação virtual é algo perfeito para misantropos ou, no mínimo, como incentivador de hábitos destrutivos.
Ou não. Pois, em outros momentos, o filme parece ir na direção contrária ao acompanhar personagens que encontram, em sites, redes sociais e whatsapps, uma forma de comunicação que parece impossível na vida real – e não é à toa que esta, de tão distante e difícil, acaba se convertendo em uma sigla (“VR”) para tantos. Infelizmente, o longa falha justamente ao não enxergar o meio-termo e ao não perceber que o problema não é a tecnologia em si, mas o mau uso desta. Assim, é triste constatar que o projeto prefere investir numa Jennifer Garner terrivelmente caricata (com direito a óculos e franja) que monitora todas as atividades da filha (que, como jovem “madura”, lê livros de papel), num jovem que foge dos conflitos familiares em um MMORPG e numa mulher que posta fotos sedutoras da filha em um site do que em tentar compreender exatamente o que motiva estes indivíduos e o que a Internet traz para cada um deles.
Ora, quando a jovem Hannah (Crocicchia) pergunta sobre seus “fãs”, como percebe este seu status de “celebridade”? Estes anônimos seriam “fãs” por quais motivos, afinal? O que ela fez para merecer admiração? Qual é a natureza da “fama” na Internet? São perguntas relevantes que Homens, Mulheres & Filhos jamais faz, preferindo, em vez disso, julgar a superficialidade da garota que, afinal, não é tão diferente assim da busca do supostamente maduro Tim (Elgort) por sua mãe ou por um apoio emocional em Brandy (Dever). Aliás, o mundo de classe média branco e heterossexual retratado no longa é de uma decepcionante superficialidade: sim, é um alívio ver Adam Sandler capaz de criar um personagem minimamente complexo (embora, seguindo o clichê do comediante-em-papel-dramático, ele surja devidamente barbado, com olhar triste e voz deprimida), mas o roteiro é raso demais mesmo ao lidar com um grupo tão limitado de pessoas, chegando a resolver seus conflitos da maneira mais tola e artificial imaginável (como é fácil perceber na subtrama envolvendo Sandler e a esposa vivida com talento por Rosemarie DeWitt).
Em vez de demonizar ou idealizar as novas formas de comunicação, o filme seria melhor – ou menos tolo - se compreendesse que a necessidade humana de estabelecer ligações com o próximo e as maneiras equivocadas com que tenta fazê-lo são universais e atemporais. Não é à toa que o texto de Carl Sagan recitado pela narradora é tão melhor do que todo o longa, já que, ao contrário do bobo roteiro, o experiente físico percebia algo inquestionável: se tropeçamos em nossos esforços de contato, isto se deve não à tecnologia, mas à nossa própria e confusa natureza.
04 de Dezembro de 2014