Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
11/10/2013 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Europa Filmes e Mares Filmes | |||
Duração do filme | |||
109 minuto(s) |
Dirigido por Cate Shortland. Com: Saskia Rosendahl, Nele Trebs, André Frid, Mika Seidel, Kai-Peter Malina.
Selecionado pela Austrália como representante do país na corrida ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Lore conta a história de uma jovem alemã que, após a derrota do Terceiro Reich, perde a companhia do pai, oficial nazista, e da mãe, colaboradora do Partido, sendo obrigada a conduzir os quatro irmãos menores numa jornada de centenas de quilômetros até Hamburgo a fim de encontrarem a avó.
Escrito pela diretora Cate Shortland e por Robin Mukherjee a partir de um livro de Rachel Seiffert, o longa assume, portanto, a estrutura de um road movie que enfocará o choque de realidade experimentado pela jovem protagonista, que, de adolescente segura dos ideais inquestionáveis de Hitler, é obrigada a confrontar a barbárie promovida pelos nazistas durante a guerra. Vivida pela excelente Saskia Rosendahl, que não tenta suavizar as crenças repulsivas da personagem e sua agressividade diante do mundo, Lore demonstra carregar o peso do mundo nas costas – e não é para menos, já que se vê, de um dia para o outro, responsável por quatro crianças, incluindo um recém-nascido, em um país destruído pela guerra e no qual a fome e a falta de serviços de infraestrutura básicos eram cotidianas.
Ainda assim, a ótima fotografia de Adam Arkapaw é inteligente ao explorar a beleza das locações percorridas pelas crianças sem, com isso, deixar de ressaltar o isolamento e a dificuldade enfrentados pelos jovens – e é particularmente eficiente o momento em que, durante uma brincadeira em um bosque de intenso verde, Lore e a irmã percebem a chuva das cinzas oriundas da destruição de documentos e fotos comprometedores por parte dos nazistas. A partir daí, o longa acompanha a degradação física dos irmãos, que, cobertos por picadas de insetos e consumidos pela desnutrição, dependem da caridade de estranhos, formando uma aliança inesperada com um jovem que, portando documentos que o identificam como judeu, se torna fundamental para a sobrevivência da família.
O interessante na abordagem de Shortland, porém, é sua insistência em enxergar o mundo sempre a partir do ponto de vista de Lore – que, claro, vê os soldados norte-americanos como criminosos dispostos a matar seus irmãos e Thomas (Malina), o jovem judeu, como um traidor em potencial que quer apenas usar o bebê para inspirar a simpatia de estranhos. Além disso, em vez de simplesmente seguir o caminho mais óbvio e ilustrar a mudança gradual da protagonista, a cineasta opta por retratar a perda da inocência (política e sexual) experimentada pela garota, que, mesmo jamais renegando claramente o Führer, parece compreender, ao final do filme, que seu mundo não era tão preto-e-branco quanto imaginava.
E, neste aspecto, Lore funciona ao usar a moça como um retrato de toda uma geração de alemães que, no pós-guerra, finalmente percebe que seu líder estava longe de ser o anjo que julgavam e que, afinal, estavam do lado errado do conflito. É só lamentável que, para isso, o filme tenha que se mostrar tão repetitivo e prolixo em sua abordagem.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2012, daí sua menor extensão.
10 de Outubro de 2012