Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
11/10/2013 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Imovision | |||
Duração do filme | |||
94 minuto(s) |
Dirigido por Marion Vernoux. Com: Fanny Ardant, Patrick Chesnais, Laurent Lafitte.
Aos 64 anos de idade, a musa francesa Fanny Ardant permanece belíssima e jovial – e, assim, não deixa de soar estranho vê-la, em Os Belos Dias, interpretar uma dentista aposentada que ganha como presente das filhas um vale para frequentar um clube que oferece cursos e atividades para indivíduos da terceira idade. Infelizmente, se este estranhamento poderia resultar em um filme curioso ao explorar os limites e ansiedades que todos atravessaremos (mesmo aqueles que se parecem com Ardant), esta possibilidade logo é abandonada em prol de uma história tola que parece não compreender sequer a verdadeira natureza das ações de sua protagonista.
Baseado em um livro de Fanny Chesnel e adaptado pela autora ao lado da diretora Marion Vernoux, Os Belos Dias faz parte da recente onda de longas estrelados por personagens idosos que tentam reencontrar, no ato final da vida, algumas das mesmas paixões que os incendiaram na juventude – e é lamentável que, na maior parte, estas produções tenham se mostrado tão decepcionantes (vide O Exótico Hotel Marigold e E Se Vivêssemos Todos Juntos?). No caso desta produção francesa, o problema gira em torno de sua hesitação em abraçar a idade da personagem de Ardant: se por um lado ela tem 60 anos, por outro é uma mulher ativa e saudável que só se aposenta por ter se envolvido em um incidente no trabalho disparado pelo luto que experimentava em função da morte da melhor amiga. Assim, o filme quer se beneficiar da sensualidade de sua estrela enquanto tenta fingir que esta é uma “senhora”, resultando numa imagem conflitante que enfraquece a narrativa.
Mas não é só: desenvolvendo a história a partir do envolvimento entre Caroline (Ardant) e o professor de informática do clube (Lafitte), bem mais jovem que ela, Os Belos Dias inicialmente acerta ao mostrar a mulher insegura quanto aos próprios atrativos físicos, insistindo sempre em manter a luz apagada durante o sexo (por mais que seja difícil acreditar que uma mulher como aquela se envergonharia de sua forma física), mas eventualmente os papéis se invertem e é Julien quem parece temer o julgamento da outra. Para piorar, o roteiro jamais se decide quanto à maneira com que pretende tratar aquele romance, ora enxergando-o como algo belo, ora como um mero problema.
No entanto, o maior equívoco do projeto é sua cegueira diante do egoísmo de Caroline, cujas ações claramente machucam o marido, vivido com simpatia e energia por Patrick Chesnais – o que não a impede de, mesmo ciente disto, tomar atitudes que aos poucos levam o espectador a abandonar a celebração por sua ressuscitada paixão pela vida e a condenar o sofrimento que impõe ao companheiro de tantas décadas.
Não que Fanny Ardant pudesse fazer qualquer coisa a respeito, já que o problema se encontra no roteiro (e, na medida do possível, ela se mostra contagiante em sua alegria), mas é uma pena que um filme com potencial para se transformar num bom estudo de personagem tropece justamente por não conhecê-lo.
Divertido e envolvente especialmente em sua primeira metade, Os Bons Dias não é um fracasso, mas é certamente o desperdício de uma boa oportunidade.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2013, daí sua menor extensão.
06 de Outubro de 2013