Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
21/06/2013 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Polifilmes/Bitelli Films | |||
Duração do filme | |||
90 minuto(s) |
Dirigido por Lucy Mulloy. Com: Dariel Arrechaga, Anailín de la Rúa de la Torre, Javier Núñez Florián, María Adelaida Méndez Bonet, Greisy del Valle.
Longa de estreia da diretora e roteirista norte-americana Lucy Mulloy, Uma Noite é um filme repleto de energia sobre três jovens cubanos que decidem se arriscar numa viagem sobre uma jangada improvisada rumo a Miami. Mais do que a história de emigrantes ilegais desiludidos e trágicos, porém, o longa é hábil ao estabelecer uma dinâmica intrigante entre os personagens, usando a sexualidade nascente dos adolescentes como motor de uma trama que explora com sensualidade (e tristeza) a realidade de Cuba.
Rodado em Havana com a permissão do governo (que também liberaria os três atores para uma visita aos Estados Unidos para o lançamento do filme, sendo surpreendido pelo sumiço de dois deles justamente em Miami), Uma Noite percorre as ruas da cidade com liberdade absoluta, indo além dos pontos turísticos e retratando também o lado miserável daquela sociedade – e é tocante ver a casa dos irmãos gêmeos Lila e Elio (de la Torre e Florían), cuja condição é invejada pelo amigo Raul (Arrechaga), já que as paredes descascadas e os colchões compostos por espuma furada estão longe de indicar o conforto que o outro tanto admira. Da mesma maneira, a difícil vida de Raul, que luta para conseguir medicamentos para o tratamento da AIDS que corrói sua mãe prostituta, é de certa forma o centro da narrativa, já que, impetuoso, impulsivo e repleto de mágoas, o rapaz move direta e indiretamente os companheiros: Elio, por amá-lo secretamente; Lila, por querer ficar com o irmão e também por demonstrar certo fascínio pelo amigo deste.
Contando com uma fotografia apropriadamente crua que explora o calor de Cuba sem jamais perder os elementos atraentes da cidade ou mesmo romantizá-los, o filme traz imagens emblemáticas como aquela que mostra Raul sentado no parapeito de um prédio com Havana sob seus pés e, claro, todo o terceiro ato, que se passa em alto mar e substitui o equilíbrio entre humor e drama pela tensão absoluta à medida que os jovens percebem o perigo da situação na qual se envolveram.
Com um desfecho corajoso e marcante, Uma Noite é também franco ao lidar com os sentimentos homossexuais de Elio e com a natureza hormonal dos interesses de Raul, utilizando estes elementos como algo orgânico à narrativa em vez de tentar pregar ou fazer drama barato. E mesmo que a narração em off seja dispensável e busque conferir uma estrutura artificial ao filme, isto não impede que a obra marque pela honestidade e sensibilidade com que lida com seus difíceis temas sociais, culturais e políticos.
Observação: Crítica publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2012 – daí sua brevidade.
10 de Outubro de 2012