Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
15/02/2013 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Fox | |||
Duração do filme | |||
95 minuto(s) |
Dirigido por Ben Lewin. Com: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, W. Earl Brown, Adam Arkin, Ming Lo, Rhea Perlman.
Graças às religiões, a mais natural, comum e necessária atividade envolvendo adultos que se sentem atraídos um pelo outro se tornou um tabu pavoroso. Basta observar que um filme pode conter pessoas sendo dilaceradas por balas e executadas a sangue frio para receber uma classificação indicativa “16 anos”; inclua um pênis em cena ou uma franca simulação de sexo, porém, e apenas maiores de 18 anos poderão entrar no cinema. A lógica deturpada parece ser a de que é mais aceitável provocar dor do que prazer em outro ser humano.
Isto nos traz a este As Sessões e à história (real) do poeta Mark O’Brien (Hawkes): vitimado pela poliomielite e preso a um pulmão de ferro por décadas, o sujeito levava uma existência miserável e solitária por natureza, observando o mundo sempre de lado a partir de sua maca enquanto datilografava seus textos com o auxílio de assistentes ou de um pedaço de madeira preso pelos dentes. Sem jamais ter experimentado o sexo, O’Brien finalmente decidiu que poderia fazer algo a respeito quando se viu chegando aos 40 anos de idade e percebeu que seu “prazo de expiração” se aproximava – mas mesmo então (ao menos, segundo o belo roteiro do diretor Ben Lewin) precisou primeiro lidar com sua própria culpa católica antes de permitir que seu debilitado corpo sentisse algum prazer.
Envergonhado por perceber o próprio tesão, o sujeito inicia sua trajetória escrevendo um artigo sobre deficientes físicos que encontraram maneiras de explorar as possibilidades sexuais que muitos julgavam fora de seu alcance, sendo admirável a maneira franca e adulta com que o filme lida com estas questões, evitando o sensacionalismo sem, contudo, fugir da realidade de seus personagens (chegando a incluir deficientes reais na narrativa, o que é admirável por fugir da tendência de Hollywood de maquiar as histórias que aborda através da fantasia).
Assim, quando Mark procura o padre local para pedir permissão para suas “aventuras”, é comovente reparar como o pároco coloca sua humanidade à frente do dogma, buscando oferecer conselhos que realmente ajudem o rapaz em vez de confundi-lo ainda mais através da culpa ditada pelo credo. Vivido com imensa sensibilidade por William H. Macy, o padre Brendan é um homem essencialmente bondoso que se vê numa situação difícil: por um lado, não quer proibir Mark de pagar pelo sexo; por outro, sente que a religião que professa não poderia permitir tal “pecado” – e sua resposta é tocante justamente por representar um sacrifício tão patente diante de sua formação e de suas crenças.
Enquanto isso, John Hawkes, tão habituado a viver tipos ameaçadores ou simplesmente bizarros, aqui compõe um personagem absolutamente frágil e vulnerável: sibilando ao respirar, conversando com a voz sempre sufocada e mantendo o corpo imóvel em uma posição arqueada de paralisia, o ator evoca com talento a insegurança, o medo, o desejo e a curiosidade de Mark, estabelecendo uma química eficiente com Helen Hunt, que aqui vive a “terapeuta sexual” Cheryl Cohen. Hunt, aliás, demonstra coragem e entrega em um papel que exige sua nudez bela e madura, sendo notável como sua postura em cena, repleta de segurança e carinho, afasta do espectador qualquer impressão equivocada de que sua personagem seja uma prostituta mesmo sendo paga para fazer sexo com um cliente.
E é motivo de alegria perceber como um homem como Mark O’Brien conseguiu explorar a própria sexualidade mesmo enfrentando a mais brutal e cruel das amarras: não sua doença, mas a crença religiosa.
6 de Outubro de 2012
Crítica originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2012.