Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/05/2013 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Paris Filmes
Duração do filme
111 minuto(s)

A Datilógrafa
Populaire

Dirigido por Régis Roinsard. Com: Romain Duris, Déborah François, Bérénice Bejo, Shaun Benson, Mélanie Bernier, Nicolas Bedos, Miou-Miou, Eddy Mitchell, Frédéric Pierrot, Féodor Atkine.

Assim como fracassado Abaixo o Amor, protagonizado há alguns anos por Ewan McGregor e Renée Zellweger (lembram dela?), este A Datilógrafa vai buscar sua inspiração nas comédias românticas das décadas de 50 e 60 – especialmente aquelas protagonizadas por Doris Day e Rock Hudson. Com isso, o longa francês até consegue conferir certo charme à sua historinha formulaica, embora no final acabe falhando por se esquecer de que uma comédia deve também ter graça.

Escrito a seis mãos pelo diretor Régis Roinsard ao lado de Daniel Presley e Romain Compingt, o filme gira em torno da bela jovem Rose Pamphyle (François), que, morando com o pai em uma vilarejo, sonha em se mudar para uma cidade maior e iniciar uma carreira que a torne independente – e, na década de 50, isto ainda significava, na maioria das vezes, tornar-se secretária de algum homem. Logo, Rose encontra-se trabalhando para o mal-humorado Louis (Duris), que a contrata apenas por se impressionar com a rapidez com que a moça consegue datilografar usando apenas dois dedos, o que o leva a inscrevê-la em uma competição nacional de datilografia.

Como não poderia deixar de ser – considerando o gênero e o período que o longa quer homenagear -, um dos pontos fortes de A Datilógrafa reside mesmo em seu belo design de produção, que se diverte com as cores fortes e chapadas características daquelas comédias especialmente ao enfocar a ascensão de Rose (e vê-la, loira e sorridente, diante de um cenário completamente rosa traz memórias nostálgicas da vivacidade de Doris Day). Da mesma maneira, os figurinos e a maquiagem investem numa recriação cuidadosa não exatamente do período, mas do gênero cinematográfico, transformando as unhas multicoloridas da protagonista em um símbolo não só de sua natureza e de seu esforço profissional, mas do próprio conceito da produção.

Este mergulho no passado do Cinema, aliás, confere ao diretor Régis Roinsard certa liberdade para empregar recursos hoje considerados anacrônicos (como o fast forward como instrumento cômico), permitindo também que ele invista em cores fortes que o ajudem a expressar os sentimentos dos personagens – e a cena, mergulhada em um neon que alterna entre o vermelho quente de Rose e o azul frio de Louis, representa um dos melhores momentos do longa. Além disso, o cineasta é hábil ao conseguir conferir alguma energia às naturalmente pouco cinematográficas competições, movimentando sua câmera ao redor das máquinas de escrever e apostando em rápidos planos-detalhe de folhas sendo arrancadas, de dedos batendo furiosamente nas teclas e do carregador sendo empurrado de volta a cada nova linha completada.

No entanto, por mais que se esforce, Roinsard sucumbe à fragilidade de seu próprio roteiro, que parece confundir homenagem e clichê. Assim, em vez de utilizar as convenções do gênero sob uma nova luz, o filme simplesmente se entrega ao que estas têm de pior, a começar pelo clichê dos amantes que agem como se tivessem ódio um pelo outro, mas que obviamente se amam, e terminando com a crise absolutamente artificial disparada pela recusa de Louis de assumir seu amor por Rose em função de alguma lógica deturpada e estúpida. Para piorar, o longa ainda inclui subtramas que lidam com os problemas enfrentados por Rose e Louis com seus pais, o que, em vez de criar uma rima dramática interessante, apenas parece desperdiçar um bom tempo de projeção.

De todo modo, A Datilógrafa se beneficia do charme da dupla principal (e de Bérénice Bejo, num papel secundário ingrato): negando-se a suavizar seu personagem, que soa antipático durante boa parte do tempo, Romain Duris cria um tipo curioso cuja natureza pode ser resumida pelo descaso com que permite que Rose carregue a pesada máquina antes de uma competição – e, assim, vê-lo passar a se importar com a moça é algo que, embora previsível, não deixa de ser agradável. Porém, o centro da narrativa é mesmo a linda Déborah François, que os irmãos Dardenne apresentaram ao mundo no excepcional A Criança e que aqui comprova ser uma atriz incrivelmente carismática (e linda, já falei?).

Sem fazer pregações desnecessárias sobre o machismo da época (algo que já fica transparente na maneira desrespeitosa com que o próprio Louis trata a secretária, insistindo em chamá-la de “fofinha”), A Datilógrafa é inofensivo demais para merecer desprezo como obra cinematográfica, mas tampouco é ambicioso o bastante para merecer aplausos. Em seu centro, há duas performances charmosas, claro, mas que são sabotadas por servirem a indivíduos que não são seres humanos, mas apenas personagens destinados a se apaixonarem em função da imposição de um roteiro medíocre.

Mas Déborah François é linda.

24 de Maio de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

Você também pode gostar de...

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!