Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/01/2012 | 01/01/1970 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Imovision | |||
Duração do filme | |||
123 minuto(s) |
Dirigido por Asghar Farhadi. Com: Peyman Moaadi, Leila Hatami, Sareh Bayat, Shahab Hosseini, Sarina Farhadi, Ali-Asghar Shahbazi.
Em 2009, o cineasta iraniano Asghar Farhadi realizou uma pequena obra-prima com seu À Procura de Elly, que, selecionado por seu país como representante no Oscar, não chegou a figurar sequer entre os finalistas, num terrível sinal do falho sistema de seleção da Academia. Pois talvez esta possa se redimir em 2012, já que o filme seguinte de Farhadi, este A Separação, não apenas continua a comprovar seu imenso talento como ainda acabou sendo escolhido pelo Irã como seu concorrente à estatueta dourada.
Construído mais a partir da observação cuidadosa dos personagens do que de uma trama específica (embora esta exista), o longa lida com o casal Naader (Moaadi) e Simin (Hatami), que se divorcia quando o marido desiste de uma mudança para o exterior com a família por julgar que estaria abandonando o pai, vítima de Alzheimer em estágio avançado. Vendo-se obrigado a contratar uma diarista, Razieh (Bayat), que possa cuidar da casa em sua ausência, Naader é surpreendido ao retornar do trabalho, certo dia, e descobrir o apartamento trancado e seu pai amarrado à cabeceira da cama. Nervoso, ele discute com Razieh e acaba empurrando-a. Quando esta perde o bebê que esperava, no entanto, o sujeito é processado, sendo atormentado também pelo assédio agressivo do marido da diarista, o estourado Hodjat (Hosseini).
Sem jamais reduzir seus personagens a estereótipos ou a situação que enfrentam a um antagonismo maniqueísta, o roteiro do próprio Farhadi cria figuras tridimensionais e, por isto mesmo, imprevisíveis. Embora colocados uns contra os outros em uma disputa hostil, não há, entre eles, alguém que seja de fato uma má pessoa: Hodjat pode se mostrar descontrolado, mas quem não ficaria assim diante de alguém que supostamente teria agredido sua esposa grávida, levando-a a perder a criança? E mesmo tendo atado as mãos de um velho doente, Razieh argumenta de forma convincente que o fez para evitar que ele se machucasse enquanto ela corria ao médico (uma visita plenamente justificada, por sinal). Já Simin, mesmo colocando-se contra o marido em diversas ocasiões, claramente o ama, demonstrando ressentimento apenas por sentir-se por ele rejeitada.
O que nos traz a Naader, vivido de maneira espetacular por Peyman Moaadi apenas em seu segundo filme como ator (sua estreia foi justamente em À Procura de Elly): dono de um pensamento progressista em uma nação conhecida por seu machismo, ele não hesita em conceder o divórcio à esposa por julgar que ela pretende mesmo partir e demonstra um cuidado especial na criação da filha pré-adolescente (Sarina Farhadi, filha do diretor), esforçando-se para torná-la independente. Carinhoso e dedicado, Naader ainda assim acaba levando a garota ao sofrimento em função de seu orgulho diante do processo movido pela diarista, pecando também ao atirar sobre a filha a responsabilidade de decisões que não caberiam a ela – algo que ele faz aparentemente por boas intenções (“Se você quiser que eu confesse que menti, confessarei”), mas que ainda assim joga sobre a garota um dilema impossível: dizer a verdade ou mentir para proteger o pai?
Com uma câmera sempre em movimento, na mão, que confere imediatismo e realismo aos acontecimentos, A Separação retrata o cotidiano dos personagens e os detalhes do processo judicial com tamanho naturalismo que, em certos momentos, a impressão que temos é a de estarmos assistindo a um documentário. Ainda assim, logo fica claro que não há nada de improviso na abordagem de Farhadi, já que a fabulosa montagem se beneficia da decupagem obviamente cuidadosa do diretor.
Encerrando com um plano magnífico que traz dois personagens parados em lados opostos do quadro e também de uma porta de vidro, este A Separação estabelece definitivamente Asghar Farhadi como um dos diretores mais consistentes e fascinantes do Cinema contemporâneo.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011.
22 de Outubro de 2011