Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Danis Tanovic. Com: Miki Manojlovic, Boris Ler, Mira Furlan, Jelena Stupljanin, Mario Knezovic.
“Nossas guerras nunca são curtas”.
Certamente não é fácil viver num país que inspire seus habitantes a fazerem afirmações como esta – e de todas as nações que fazem jus a este tipo de observação, obviamente o território hoje chamado de Bósnie e Herzegovina é um dos que mais fizeram por merecê-la (e não é à toa que o estopim da Primeira Guerra foi aceso em Sarajevo).
Ambientado nos dias que antecederam o brutal confronto que tomou conta do país a partir de 1992, quando este mergulhou numa guerra civil de dimensões assustadoras, Cirkus Columbia, escrito e dirigido por Danis Tanovic (Terra de Ninguém) a partir do livro de Ivica Djikic, aborda de maneira inteligente este importante período de históricas (e trágicas) mudanças em sua nação a partir da relação entre o jovem Martin (Ler), sua mãe Lucija (Furlan) e o pai Divko (Manojlovic), que retorna vinte anos depois de ter fugido para a Alemanha para evitar as retaliações do regime comunista ao qual se opunha. Orgulhoso de si mesmo por ter se tornado financeiramente bem-sucedido e trazendo uma jovem e bela esposa-troféu a tiracolo, Divko logo usa seu dinheiro para comprar prestígio e favores junto à corrompida administração de sua cidade, providenciando, já de imediato, o despejo da ex-esposa. Machista e acostumado a tratar as mulheres como servas, o sujeito é vivido por Miki Manojlovic com total ausência de humor, o que, paradoxalmente, torna suas explosões e sua mesquinhez divertidas em vários momentos (e a semelhança física do ator com Walter Matthau não atrapalha neste sentido). No entanto, à medida que conhecemos mais o personagem e compreendemos um pouco melhor suas motivações, sua postura diante do mundo acaba fazendo mais sentido – e se isto não justifica a crueldade e a frieza com que ele age em vários instantes, ao menos serve para torná-lo uma figura mais complexa e distanciá-lo de uma caracterização de antagonista unidimensional.
Enquanto isso, Mira Furlan (a Danielle Rousseau de Lost) compõe Lucija como uma mulher de personalidade forte que, mesmo diante de desesperadoras adversidades, não demora a se colocar de pé, enfrentando-as com uma dignidade comovente. E se seu filho Martin surge como um rapaz frágil e inseguro que responde às frustrações com uma imensa infantilidade, isto logo começa a mudar quando ele conhece a nova esposa do pai (a bela Jelena Stupljanin), uma mulher que parece aceitar se submeter ao marido graças a uma mistura de gratidão e falta de perspectivas melhores.
Retratando com habilidade a instabilidade política de um país à beira da guerra civil, Tanovic usa de maneira brilhante seus personagens para ilustrar, de forma indireta, a gênese do conflito – como no instante, por exemplo, em que Lucija é presa pelo prefeito da cidade, que, anti-comunista, é confrontado por um major do exército que traz em seu quepe a mesma estrela vermelha que o outro mandou tirar do uniforme dos policiais civis que o defendem.
Mas é mesmo em seus segundos finais que este candidato da Bósnia ao Oscar 2011 alcança seu momento máximo ao revelar a origem do seu título - um aparelho que, à sua própria maneira, acaba simbolizando de maneira tocante os últimos momentos de paz e doçura de uma nação que só conheceria a dor e a violência nos anos seguintes.
25 de Outubro de 2010
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.
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