Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/01/2014 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Europa Filmes | |||
Duração do filme | |||
88 minuto(s) |
Dirigido por Francis Ford Coppola. Com: Val Kilmer, Bruce Dern, Elle Fanning, Ben Chaplin, Joanne Whalley, Bruce A. Miroglio, Anthony Fusco, David Paymer, Alden Ehrenreich e a voz de Tom Waits.
Por um lado, é admirável que um cineasta como Francis Ford Coppola, aos 74 anos de idade e dono de uma longa e invejável carreira, tenha decidido se dedicar a trabalhos mais experimentais justamente quando a maioria de seus contemporâneos está basicamente se repetindo ou, no mínimo, evitando grandes riscos; por outro, é lamentável que estas experiências estéticas e narrativas estejam se revelando dignas de um adolescente que não só está segurando uma câmera pela primeira vez como ainda sabe pouquíssimo sobre os gêneros nos quais tenta investir. Depois de assistir a Velha Juventude, por exemplo, tive que lavar os olhos com a trilogia O Poderoso Chefão – tática que terei que repetir depois de conferir este Virgínia. Não que isto represente sacrifício, mas prefiro ver a saga dos Corleone por prazer, não como procedimento médico.
O triste é que, ao contrário do que acontecia em Velha Juventude (ainda não tive coragem de ver Tetro), que já começava desastroso, este mais recente longa de Coppola tem um início promissor ao nos apresentar a imagens de uma cidadezinha que, mesmo prosaica, contém uma aura de ameaça que nos remete aos subúrbios retratados por David Lynch (não foi a única vez que pensei no diretor de Veludo Azul ao assistir a Virgínia). Apresentada pela voz marcante de Tom Waits – um narrador que simplesmente desaparece posteriormente, na primeira falha estrutural do roteiro -, Swan Valley é um lugar habitado “pelos que querem ser deixados em paz” e que é palco de uma série de assassinatos brutais que envolvem vítimas com estacas no coração. É justamente aí que chega o medíocre escritor Hall Baltimore (Kilmer), que, tentando vender alguns livros de sua série protagonizada por bruxas, parece ansioso para ir para o hotel se embriagar. Aos poucos, porém, ele se interessa pelos crimes e também por um mistério antigo que envolve a morte de doze crianças – e enquanto cogita a possibilidade de transformar tudo aquilo em um novo livro, o sujeito se aproxima do estranho xerife Bobby LaGrange (Dern) e passa a ter sonhos com Edgar Allan Poe (Chaplin) e com uma adolescente fantasmagórica (Fanning).
Aparentemente confuso com relação ao tom da própria narrativa, Coppola (trabalhando a partir do próprio roteiro) inicialmente sugere um flerte com a comédia através de planos divertidos como aquele que traz uma seta de “em promoção” apontando para o protagonista e da cena em que o xerife revela de maneira estranhamente casual o fato de haver um serial killer na cidade. No entanto, estes toques cômicos logo passam a soar inapropriados à medida que os elementos mais pesados da história são revelados – e torna-se difícil conciliar tentativas cômicas com uma trama que envolve crianças com pescoços retalhados e uma adolescente que pode ou não ter sido vítima de violência sexual.
Pecando também pela obviedade que atravessa a projeção, o veterano cineasta não hesita em incluir o grasnado de um corvo ao exibir o hotel no qual Edgar Allan Poe supostamente dormiu e em inclinar ostensivamente a câmera quando Hall Baltimore observa elementos estranhos da cidade. Além disso, os diálogos constantemente surgem embaraçosos, o que, somado a elementos narrativos duvidosos como telas divididas e quadros com composição desajeitada, parece sugerir uma amnésia completa por parte de Coppola no que diz respeito aos princípios da Arte que tanto dominava.
Sim, aqui e ali há elementos dignos de nota: o contêiner dentro do necrotério é uma opção curiosa da direção de arte e os mattes que revelam o céu estrelado de Swan Valley são ao mesmo tempo belos e evocativos, contendo uma artificialidade que contribui para o clima de pesadelo do filme. Além disso, as sequências em preto-e-branco (que apropriadamente trazem vários elementos pontuais de cor vermelha) são exploradas com talento pelo diretor de fotografia Mihai Malaimare (O Mestre), ao passo que o interior da torre do relógio surge ao mesmo tempo como uma versão quase de brinquedo das escadarias de Um Corpo que Cai e como um ambiente claustrofóbico e ameaçador.
Mas as virtudes de Virgínia param por aí, já que os efeitos visuais são amadores, o green screen jamais soa convincente e, para grande embaraço não só de Coppola, mas dos cinéfilos de todo o mundo, as duas breves cenas que empregam 3D são introduzidas por um gráfico vergonhoso de óculos sendo colocados diante da câmera (e por que o diretor julgou que aquelas cenas específicas exigiam três dimensões é algo que nem mesmo os envolvidos no projeto saberiam explicar). Em contrapartida, ao menos Val Kilmer parece se divertir, mesmo que isto acabe resultando num momento absurdo no qual oferece uma ótima, mas inexplicável, imitação de Marlon Brando.
Trazendo elementos autobiográficos que sugerem uma tentativa de usar o projeto como catarse, Coppola (que, como o escritor de Kilmer, perdeu mesmo um filho em um acidente de barco) obviamente emprega Virgínia como uma discussão particular sobre o processo criativo – mas como isto se encaixa numa trama envolvendo fantasmas ou vampiros (ou fantasmas de vampiros), confesso não saber explicar.
O que fica claro ao longo dos 88 minutos de projeção é o esforço do cineasta para empregar novas tecnologias (da fotografia digital às conversas via Skype) em seu trabalho. E, assim, aproveitarei esta aproximação entre o veterano diretor e as gerações atuais para fazer a pergunta que me atravessou a mente durante praticamente todo o longa: “WTF, Coppola? WTF?”
10 de Janeiro de 2014