Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/10/2008 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
101 minuto(s) |
Dirigido por Jon Avnet. Com: Robert De Niro, Al Pacino, Brian Dennehy, John Leguizamo, Carla Gugino, 50 Cent, Donnie Wahlberg, Trilby Glover, Alan Rosenberg, Melissa Leo, Oleg Taktarov.
Quando Al Pacino e Robert De Niro dividiram os créditos em 1974, no magnífico O Poderoso Chefão Parte 2, a atenção dos cinéfilos estava mais voltada para o que Francis Ford Coppola e Mario Puzo iriam fazer naquela esperada continuação do que propriamente para a reunião daqueles atores que, na época, eram apenas duas grandes revelações de uma época maravilhosamente rica da cinematografia norte-americana. Além disso, num elenco que trazia o mestre Lee Strasberg numa rara atuação no Cinema, seria criminoso mudar o foco para aqueles que, na época, surgiam como promessas, estando longe de se estabelecerem como os ícones que viriam a se tornar. (Além disso, como eles protagonizavam tramas separadas por décadas uma da outra, De Niro e Pacino jamais dividiram a tela naquele filme – a não ser, é claro, que consideremos uma rápida fusão que contrapôs o jovem Vito Corleone ao seu decadente filho Michael.)
Já em 1995, quando Michael Mann reuniu a dupla no jovem clássico Fogo Contra Fogo, a história era bem diferente – e a parceria foi aguardada com imensa expectativa. Ainda assim, o fato é que os dois (agora, sim) ícones surgiam contracenando por pouco tempo, já que a elaborada trama de Mann mantinha a dupla separada durante a maior parte da projeção. Portanto, quando o medíocre diretor Jon Avnet prometeu focar As Duas Faces da Lei num duelo de interpretações entre De Niro e Pacino, muitos (eu, inclusive) preferiram ignorar sua carreira repleta de tropeços e torcer por um filme que fizesse jus à força de seus protagonistas. Infelizmente, Avnet está anos-luz abaixo de Coppola ou Mann e, assim, seu esperado projeto revelou-se um colossal exercício de frustração, já que, além de não exigir nada de seus talentosos atores, o cineasta ainda permitiu que estes surgissem, em cena, como caricaturas de si mesmos, exibindo todos os tiques de interpretação que os imitadores da dupla já cansaram de explorar em suas apresentações.
Exibindo uma fragilidade estética e narrativa que se revela desde os créditos iniciais, quando apresenta os policiais vividos por De Niro e Pacino numa montagem que beira a cafonice justamente por escancarar o deslumbramento do diretor por estar trabalhando com a dupla, As Duas Faces da Lei ainda aposta num roteiro constrangedoramente frágil de Russell Gewirtz (responsável pelo infinitamente superior O Plano Perfeito): iniciando com uma estranha confissão feita por Turk, apelido do personagem de De Niro, o filme passa a acompanhar as investigações em busca de um serial killer que vem vitimando criminosos, cujos corpos são encontrados ao lado de pequenos poemas que revelam o caráter “justiceiro” do assassino. Acompanhados por uma dupla de detetives da “nova geração” (vividos por John Leguizamo e Donnie Wahlberg, irmão de Mark), Turk e Rooster (apelido do personagem de Pacino) enfrentam, também, uma investigação da corregedoria em função de um tiroteio no qual se envolveram, o que torna toda a situação ainda mais instável.
Previsível a ponto de permitir que o espectador perceba a reviravolta final já no primeiro ato, o roteiro de Gewirtz também fracassa em sua psicologia rasteira, já que até mesmo o psicólogo presente na trama se limita a repetir clichês de diversos outros exemplares do gênero. Além disso, comprovando que os fracassos de 88 Minutos e Justiça Vermelha não ocorreram por acaso, Jon Avnet se mostra incapaz de estabelecer um mínimo de tensão em sua narrativa, já que o thriller não é mesmo seu forte (ele tende a se sair um pouco melhor em dramas como a eficiente série de tevê Insurreição). Investindo numa montagem frouxa que fica presa à péssima estrutura concebida por Gewirtz, Avnet ainda falha em seus planos desinteressantes e (ao lado do diretor de fotografia Denis Lenoir) num esquema visual burocrático que não busca compensar as deficiências da trama através da estética.
Enquanto isso, Robert De Niro e Al Pacino oferecem atuações que, embora competentes ao seu próprio modo, nada trazem de novo ao que já estamos acostumados a ver nos projetos da dupla: De Niro soa ameaçador e exagera nas caretas ao passo que Pacino, embora mais contido do que de costume, eventualmente se entrega aos gritos e à carregada gesticulação. Ainda assim, é sempre um prazer ver atores tão emblemáticos dividindo a cena – e, mesmo com todos os problemas, As Duas Faces da Lei se torna um pouco melhor apenas por contar com estes dois ícones. Alem disso, é sempre bom rever Brian Dennehy (mesmo num papel tão esquemático), ao passo que Carla Gugino, uma atriz eficiente que é injusta e continuamente explorada apenas por seu corpo, pouco pode fazer com sua burocrática personagem. Finalmente, John Leguizamo e o ator russo Oleg Taktarov surgem mais como piadas particulares do filme (afinal, vejam o que fizeram com Pacino e De Niro em O Pagamento Final e 15 Minutos, respectivamente) do que como figuras realmente desenvolvidas, o que indica a preocupação de Avnet em usar o projeto mais como uma brincadeira pessoal do que como um exemplar realmente digno do bom Cinema.
Prejudicado ainda por um terceiro ato pavoroso (ao longo da projeção, era fácil apontar até mesmo quais momentos seriam usados no flashback final), As Duas Faces da Lei é uma mancha no conjunto interseção das carreiras de De Niro e Pacino – e mesmo que tenha apreciado vê-los juntos, teria sido melhor se eles tivessem seguido o exemplo de Paul Newman e Robert Redford e interrompido a parceria enquanto esta ainda era trazia um histórico impecável.
10 de Outubro de 2008