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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
29/10/2004 02/04/2004 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
86 minuto(s)

Com as Próprias Mãos
Walking Tall

Dirigido por Kevin Bray. Com: Dwayne Johnson (The Rock), Johnny Knoxville, Neal McDonough, John Beasley, Barbara Tarbuck, Kristen Wilson, Khleo Thomas, Ashley Scott, Michael Bowen, Kevin Durand.

Semanas atrás, alguns leitores comentaram nos fóruns do Cinema em Cena que, aparentemente, eu não gosto de Angelina Jolie, já que `sempre falo mal` de seus filmes. Confesso que a observação me deixou curioso, pois tornei-me admirador da atriz desde que a vi no ótimo Alto Controle, de 1999 – e foi com surpresa, portanto, que constatei que os leitores tinham razão em um aspecto: nos artigos que publiquei, jamais dei mais de duas estrelas para os longas estrelados por Jolie (O Colecionador de Ossos, 60 Segundos, Pecado Original, Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida, Amor Sem Fronteiras e Roubando Vidas). Ainda assim, me defendo: por que devo ser culpado pelas más escolhas da garota? Prometo que, assim que ela participar de uma boa produção, escreverei uma análise elogiosa. Até lá, nada feito – por mais que aprecie a atriz.


E é assim que chegamos a Com as Próprias Mãos, protagonizado por The Rock, cujo carisma já podia ser observado nos fracos O Escorpião Rei e Bem-vindo à Selva. Em outras palavras: aí está mais um astro de Hollywood que admiro, mas que, infelizmente, não sabe selecionar seus projetos – como comprova este filme, no qual ele interpreta Chris Vaughn, um militar veterano que retorna à sua cidade natal depois de oito anos de ausência. Para sua surpresa, porém, ele descobre que um antigo colega de juventude passou a dominar o lugar depois de abrir um cassino que funciona como ponto de prostituição e de venda de drogas. Em pouco tempo, Chris declara guerra ao sujeito, usando, como arma de escolha, uma tábua imensa com a qual ataca seus inimigos.

Esperem um momento: um pedaço de madeira contra metralhadoras e facas? Sim, parece implausível, mas aí é que vem a surpresa: Com as Próprias Mãos é inspirado em fatos reais. Entre 1964 e 1970, um certo xerife Buford Pusser combateu o crime organizado em sua região e tornou-se conhecido justamente por seu hábito de carregar um bastão de madeira a fim de `punir` seus desafetos. Aliás, a fama de Pusser tornou-se tão grande que gerou três filmes ao longo da década de 70 (o primeiro sendo protagonizado por Joe Don Baker) e, acreditem, uma série de televisão. Assim, creio ser necessário considerar o absurdo da `arma` como algo verossímil.

Pena que o longa tenha outros problemas - como seu péssimo diretor. Sem conseguir sequer criar cenas de ação minimamente interessantes (um pecado mortal para o gênero), Kevin Bray jamais permite que o espectador tenha uma noção precisa da passagem de tempo ao longo da história: em certo momento, por exemplo, a narrativa `salta` um ano e impede que vejamos como uma importante eleição foi vencida pelo protagonista – o que é um absurdo, considerando-se que a campanha deve ter sido árdua e repleta de confrontos com os perigosos adversários. Mas não é só isso: a falta de senso estético do cineasta é tamanha que, em determinado instante, ele inicia um plano com o close das nádegas de The Rock e Johnny Knoxville, que então caminham para longe da câmera.

Enquanto isso, o roteiro apresenta seus próprios (e diversos) defeitos – que provavelmente só foram agravados pelo fato de nada menos do que cinco roteiristas terem feito suas revisões particulares, levando a trama a saltar de um tom para outro de maneira descontrolada: em uma cena, o humor domina os acontecimentos; logo em seguida, vem um diálogo dramático; e, pouco depois, uma seqüência de ação. Considerando-se que Com as Próprias Mãos tem míseros 85 minutos de duração, o resultado é confuso e nada eficaz, já que jamais descobrimos qual é o verdadeiro estilo da narrativa (durante uma luta, por exemplo, o herói subitamente faz uma gracinha que nada tem a ver com sua personalidade e que foge completamente da `realidade` inicialmente apresentada pelo filme). Além disso, nem mesmo cinco roteiristas conseguiram contornar furos básicos na história, como na cena em que vários bandidos invadem uma casa e rendem todos os seus ocupantes – menos o ajudante do herói, que estava dormindo no sofá da sala.

Assim, é incrível que The Rock consiga conferir certo grau de realismo ao seu personagem, como na cena em que Chris resolve enfrentar alguns bandidos e, ansioso, mostra-se ofegante ao descer do carro. Aliás, nesta mesma cena ele toma a inteligente decisão de trocar a espingarda que carregava pelo tradicional bastão de madeira, demonstrando ter consciência de que utilizar uma arma de fogo poderia causar problemas irreversíveis e arruinar sua vida (e também podemos interpretar sua preferência pela tábua como um símbolo de sua personalidade, já que Chris é um homem devotado às suas raízes e, de certa forma, à Natureza em si. Afinal, ele combate a degradação representada pelo `progresso` de sua cidade...).

Tentando livrar-se do estigma deixado por Jackass, Johnny Knoxville assume o papel de parceiro do herói, demonstrando possuir boa presença e ser capaz de interpretar tipos mais sérios. Em contrapartida, o vilão vivido por Neal McDonough (uma versão oxigenada de Ray Liotta) é simplesmente patético, chegando ao ponto de pronunciar falas ridículas (e mais do que batidas) como `Esta é minha cidade!` – e a insistência do filme em culpá-lo por todas as mudanças sofridas pela cidadezinha do herói chega a lembrar a versão alternativa do `presente` visto em De Volta para o Futuro 2, como se o personagem de McDonough fosse uma espécie de Biff Tannen pronto para ser soterrado por um carregamento de esterco.

Não foi desta vez, portanto, que um filme estrelado por The Rock mereceu aplausos. Espero apenas que não me acusem de `pegar no pé` do sujeito, já que o fato de simpatizar ou não com um artista não é, para mim, justificativa para condenar seus esforços profissionais. Basta dizer que, apesar de minha antipatia por Russell Crowe (com seu jeitão grosseiro e pouco educado) e Quentin Tarantino (com sua arrogância e seu egocentrismo), escrevi análises extremamente elogiosas sobre seus trabalhos mais recentes, Mestre dos Mares e Kill Bill Volume 1.

Hum... talvez a solução seja passar a odiar Angelina Jolie e The Rock – o que não deve ser muito difícil, já que é este sentimento que seus filmes têm despertado em mim.

17 de Maio de 2004

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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