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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/06/2003 01/01/1970 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
107 minuto(s)

+ Velozes + Furiosos
2 Fast 2 Furious

Dirigido por John Singleton. Com: Paul Walker, Tyrese, Eva Mendes, Cole Hauser, Ludacris, James Remar, Devon Aoki e Mark Boone Junior.

 


Você é apaixonado(a) por carros? É capaz de identificar qualquer marca simplesmente pelo ronco de seu motor? Comprou o DVD com a `edição envenenada` de Velozes e Furiosos? Então ignore o restante desta crítica e corra para o cinema: + Velozes + Furiosos foi feito para você. Particularmente, confesso que minhas respostas para as três perguntas acima são `não`, `não` e `não` – e, como esta continuação nada mais tem a oferecer além de carros possantes em alta velocidade, sou obrigado a classificá-la como um fracasso do ponto de vista cinematográfico. Por outro lado, devo registrar que, na sala em que eu me encontrava, boa parte do público passou toda a projeção apontando para a tela e identificando com entusiasmo os diversos carros vistos ao longo da `história`.

Quando escrevi sobre Velozes e Furiosos, há cerca de dois anos, descrevi o filme como sendo o `paraíso do machão`, já que girava em torno de `carros velozes, mulheres voluptuosas – algumas lésbicas, inclusive -, cerveja e (novamente) carros velozes`. Pois bem: praticamente nada mudou nesta continuação (com exceção do casal de lésbicas, cuja ausência, creio eu, será sentida por muitos homens).Enquanto algumas produções apostam na exposição de mulheres nuas para atrair o público masculino, esta série investe suas forças na exibição despudorada de carros, que muitas vezes são obrigados a aparecer em cena com seus capôs abertos e seus motores à mostra – sendo constantemente vistos ao lado de (oh!) mulheres com roupas apertadas e amplos decotes. Aliás, em vez de + Velozes + Furiosos, este longa deveria se chamar Turbinas & Silicones 2.

Escrito por Michael Brandt e Derek Haas, o roteiro deste filme consegue a proeza de apresentar seus primeiros buracos já nos cinco minutos iniciais: enquanto se prepara para disputar uma corrida, um sujeito é lembrado por sua namorada de que precisa arranjar dinheiro para pagar o aluguel de sua casa, enquanto outro afirma estar `quebrado`. Curiosamente, na tomada seguinte ambos apostam nada menos do que 35 mil dólares na disputa, o que não deixa de ser curioso – principalmente se considerarmos que todos parecem carregar esta exata quantia no bolso (e em dinheiro). E o que dizer da cena em que a `mocinha`, que em nenhum momento havia manifestado interesse pelo `mocinho`, beija o herói sem maiores explicações, simplesmente porque o espectador já deveria estar esperando um envolvimento entre os dois?

Como se não bastasse, a dupla de roteiristas deposita tão pouca fé em seu público-alvo que se vê na obrigação de explicar a trama várias vezes, como se temesse confundir o espectador com sua `complexa` história: em certo momento, por exemplo, um dos protagonistas diz algo como `Deixe-me ver se entendi...`, passando a repetir algo que acabara de acontecer. Já em outra cena, um personagem latino grita a seguinte frase em espanhol: `Você não vai me ultrapassar esta noite, garota!`, complementando, em seguida: `Not tonight, baby!` – ou seja: fazendo uma tradução quase `simultânea` para que os jovens americanos não se sintam confusos em função do idioma estrangeiro. E se você ainda não se convenceu de que os produtores de + Velozes + Furiosos não acreditam muito na inteligência de seu público, como explica o aviso que surge na tela assim que o filme se encerra, e que solicita que o espectador não repita as proezas vistas ao longo da história, já que estas foram realizadas por dublês profissionais?

Sem possuir um roteiro que o ampare, o cineasta John Singleton se compromete terrivelmente ao tentar conferir energia ao projeto: sem saber exatamente como orquestrar as diversas perseguições, o diretor limita-se a mostrar os personagens mudando as marchas de seus carros (pelo número de vezes que isso acontece, calculo que cada veículo possua cerca de 72 marchas) e pisando no acelerador (é curioso como eles sempre conseguem pisar ainda `mais fundo` sem atravessar o chão dos automóveis). Para piorar, Singleton (que decaiu imensamente desde sua promissora estréia em Os Donos da Rua) ainda copia descaradamente uma piada de A Pantera Cor-de-Rosa ao apresentar um sujeito que tenta atravessar a rua enquanto vários carros passam pelo local em alta velocidade – o que é lamentável.

Por outro lado, + Velozes + Furiosos se mostra coerente ao manter o caráter de seu protagonista, o ex-policial Brian O’Conner – que, assim como no original, continua a apresentar a mesma falta de consideração para com a segurança dos pedestres de sua cidade: se no primeiro filme ele disputava um racha com um estranho, arriscando as vidas de várias pessoas, desta vez ele dirige sem olhar para a frente a fim de impressionar uma garota (que herói!). E o que é pior: Velozes e Furiosos contava ao menos com o carisma de Vin Diesel, que desta vez é substituído pelo fraco Tyrese (que, de todo modo, rouba a cena do inexpressivo Paul Walker). Fechando o elenco, vem o vilão Cole Hauser, uma mistura de Steve Guttenberg e Tom Berenger (dois nomes que os jovens espectadores desta continuação certamente não irão reconhecer).

Para que ninguém diga que não gostei de nada em + Velozes + Furiosos, farei uma concessão: a brincadeira com o logotipo da Universal, que se transforma na calota de um carro, é bem interessante. Com relação ao restante do filme, sugiro outras opções: se você gosta de ver emocionantes perseguições de carro, assista a Bullit, Operação França ou a Matrix Reloaded. Porém, se o seu interesse reside em batidas, capotagens e explosões, a melhor opção ainda é Os Irmãos Cara-de-Pau – a não ser, é claro, que você tenha respondido com um `sim` às três perguntas apresentadas no primeiro parágrafo deste artigo. Mas, neste caso, você não deveria ter lido o restante da crítica.

Deixe-me ver se entendi...
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14 de Junho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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