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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/02/2023 05/02/2023 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
HBO Max
Duração do filme
45 minuto(s)

The Last of Us - S01E04: Please Hold to My Hand
The Last of Us - S01E04: Please Hold to My Hand

Dirigido por Jeremy Webb. Roteiro de Craig Mazin. Com: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Melanie Lynskey, Lamar Johnson, Keivonn Montreal Woodard, Jeffrey Pierce, Juan Magana, John Getz.

Como Bill e Frank demonstraram no terceiro episódio de The Last of Us, viver em relativa harmonia não é algo impossível no universo pós-apocalíptico da série. Há solidão, há escassez de recursos e vez por outra um grupo de humanos surgirá para tentar destruir esta paz, mas os zumbis (leia-se: “infectados”) não costumam explorar áreas remotas, quase permitindo que os sobreviventes que ocupam estes territórios se esqueçam de que uma pandemia praticamente destruiu a civilização. No entanto, depois daquele respiro idílico, Neil Druckmann e Craig Mazin devolvem o espectador ao horror que se tornou a realidade da maior parte da humanidade – algo que pode ser sintetizado nas imagens-irmãs que amarram as pontas de Please Hold to My Hand e trazem, numa rima narrativa triste, duas pessoas jovens portando e apontando armas de fogo.


(O restante deste texto contém spoilers.)

Uma destas pessoas é Ellie (Ramsey), que emula Travis Bickle diante de um espelho partido enquanto faz uma sonoplastia infantil que acompanha as balas imaginárias em inocentes “pew-pew-pew!” que salientam sua juventude e sua imaturidade. Servindo de navegadora para Joel (Pascal), que comanda a caminhonete deixada por Bill através de estradas em ruínas e paisagens deprimentes, a garota aproveita o tempo para tentar descobrir um pouco mais sobre seu guia/protetor, que, depois da resistência esperada, aos poucos começa a revelar um ou outro detalhe sobre sua jornada nas décadas anteriores. Porém, a calma logo é quebrada quando a dupla cai numa emboscada armada nas ruas de uma cidade abandonada e é obrigada a buscar abrigo enquanto é perseguida por uma milícia que pouco antes havia expulsado os soldados da FEDRA dali, numa prova de competência bélica preocupante para o futuro dos heróis.

Primeiro episódio a se concentrar totalmente no presente, abandonando os flashbacks que haviam ajudado a expandir a narrativa da série, Please Hold to My Hand investe seus esforços no desenvolvimento da relação entre Joel e Ellie: apesar de insistir em tratar a jovem como “carga”, o sujeito estabelece pontualmente uma dinâmica de pai-e-filha com a menina, acalmando-a quando esta se mostra apreensiva, protegendo-a quando há algum perigo e acolhendo-a (desajeitadamente) quando uma experiência com potencial traumático ocorre – e Pedro Pascal realiza uma tarefa difícil ao conferir rigidez e doçura simultâneas ao personagem. Enquanto isso, Bella Ramsey segue solidificando a imagem de Ellie como uma adolescente cuja inocência convive de forma conflituosa com os horrores que testemunha – e gosto particularmente do modo como ela começa a falar de modo acelerado ao temer que Joel a repreenda em determinado instante, agindo como uma criança que tenta mudar de assunto e despistar um adulto prestes a puni-la por uma travessura.

Procurando equilibrar o tom intimista de Long, Long Time com um capítulo que traz a ação para o centro da história, Please Hold to My Hand é dirigido por Jeremy Webb, veterano da tevê, com eficiência, imprimindo tensão à sequência de tiroteio ao mesmo tempo em que mantém os inimigos à distância, ressaltando sua impessoalidade ao trazê-los como ameaças cujos rostos não conseguimos distinguir com clareza – até que um rapaz surpreende Joel e quase o mata, sendo impedido pelo disparo da arma que Ellie mantinha escondida. Ferido e desesperado para sobreviver, o jovem suplica por clemência e, acreditando que suas chances aumentarão caso faça seus adversários o enxergarem como indivíduo, diz o próprio nome – Bryan (Magana) -, resultando numa cena difícil que, como já observado com Sarah e Tess, comprova que aquele é um mundo de mortes feias e impiedosas (e que Joel o execute com um golpe de faca nos traz à mente a passagem do segundo episódio em que Tess diz para Ellie que ela e o companheiro não são “boas pessoas”).

Não é à toa que Joel demonstra ter mais receio de outros sobreviventes do que dos infectados, já que conhece a própria capacidade de cometer atos cruéis e sabe que uma leve mudança de perspectiva o converteria de herói a vilão. Dito isso, é claro que nosso ponto de vista é firmemente ancorado pela dupla, o que significa que, por mais que a talentosa Melanie Lynskey tente humanizar sua personagem (Kathleen, líder do grupo ao qual os desconhecidos pertenciam), suas chances de conquistar nossa simpatia são limitadas – mesmo que testemunhemos o efeito que as palavras de prisioneiro (Getz) provocam na mulher ao lembrá-la de tempos menos bárbaros.

Mais uma vez impressionando com seu design de produção, que aproveita a jornada dos heróis para nos apresentar a um mundo tomado por ervas daninhas, folhas secas e corpos carbonizados, Please Hold to My Hand é também o primeiro episódio da série a chegar ao fim com uma sensação de incompletude, de cliffhanger – o que é menos um defeito do que uma propriedade típica da mídia. (Que os anteriores tenham conseguido criar expectativa para o que viria mesmo contando histórias que de certa maneira pareciam chegar a um desfecho definido é algo notável.)

Isto, contudo, não significa um declínio da série, que continua a fazer um belo trabalho ao levar o espectador a se importar com seus personagens – e a utilização do livro de trocadilhos (e as reações de Joel ao que ouve) como indicativo da proximidade emocional da dupla é inspirada, sendo surpreendente testemunhar o rosto sempre tão sombrio de Joel se entregando ao riso.

O que não elimina a tragédia de constatarmos que o momento mais intimista entre o adulto e a adolescente foi aquele no qual ele a ensinava a segurar uma arma com firmeza.

6 de Fevereiro de 2023

Os textos sobre os demais episódios de The Last of Us podem ser lidos aqui.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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