Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
06/09/2013 | 01/01/1970 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Vitrine Filmes | |||
Duração do filme | |||
85 minuto(s) |
Dirigido por Pablo Giorgelli. Com: Germán de Silva, Hebe Duarte, Nayra Calle Mamani.
Produzido em 2011 e marcando a estreia do roteirista e diretor Pablo Giorgelli, Las Acacias é o longa que os irmãos Dardenne falharam em realizar naquele ano, quando lançaram o fraco O Garoto da Bicicleta. Construído basicamente através da observação do comportamento de seus três personagens principais em planos nos quais os diálogos jamais têm a mesma importância que as mais corriqueiras ações, este é um trabalho admirável que já estabelece Giorgelli como uma das grandes revelações dos últimos anos, sendo lamentável que, desde então, ele não tenha voltado para trás das câmeras.
Sem contar com um único diálogo em seus dez primeiros minutos, Las Acacias emprega esta introdução para nos apresentar de forma eficiente ao protagonista, o caminhoneiro Rubén (Silva, fantástico), enquanto este inicia sua viagem, faz uma parada em um posto a fim de banhar-se em uma pia e aguarda a chegada da paraguaia Jacinta (Duarte), que concordou em levar a Buenos Aires a pedido do patrão. Surpreso ao constatar que a moça traz consigo um bebê, o sujeito se mostra visivelmente contrariado – e é justamente por termos passado aqueles minutos iniciais ao seu lado que compreendemos perfeitamente por que aquela intrusão representa um aborrecimento em seu silencioso cotidiano.
Buscando o naturalismo absoluto (um termo que prefiro em vez do inalcançável “realismo”), Giorgelli descarta, entre outras coisas, qualquer tipo de recurso mais artificial de montagem, como fades, fusões ou elipses muito bruscas, optando também por investir exclusivamente em sons diegéticos para compor sua narrativa (leia-se: tudo que ouvimos ao longo do filme tem origem naquele universo; não há trilha sonora, por exemplo). Desta forma, sentimos a passagem do tempo ao lado dos personagens – e quando Rubén finalmente pergunta a Jacinta qual é seu nome, nos surpreendemos ao constatar que praticamente um dia inteiro de viagem se passou sem que ele demonstrasse a mais básica das cortesias.
Desenvolvendo o relacionamento entre aquelas pessoas de maneira delicada, o filme é tão sensível em seu olhar que, quando o caminhoneiro joga fora o cigarro que acabara de acender por perceber que a fumaça seria danosa ao bebê, imediatamente enxergarmos naquela atitude aparentemente tão corriqueira uma colossal mudança de comportamento e, a partir deste instante, de fato o homem parece se abrir levemente para suas passageiras.
Não que Rubén se torne outro personagem – e é admirável perceber como, mesmo tornando-se mais simpático, o sujeito mantém seus modos reservados, demonstrando coesão em sua composição. Por outro lado, Giorgelli não precisa de muito para revelar detalhes importantes ao espectador: quando Jacinta pergunta ao motorista se este tem filhos, por exemplo, sua resposta de duas palavras (“Não. (pausa) Tenho.”) é o suficiente para que percebamos um mundo de tristeza e arrependimentos.
Mas se os atores adultos merecem aplausos por seus trabalhos, é mesmo a bebê Anahi (Mamani) quem rouba a cena do início ao fim, já que, além de absolutamente adorável, teve suas ações observadas com tamanha paciência pelo diretor que chega a dar a impressão de ter sido ensaiada, já que brinca, boceja, sorri e fecha os olhos para dormir nos momentos exatos exigidos pela narrativa – e posso apenas imaginar a quantidade de material que a montadora Maria Astrauskas teve que analisar para chegar àqueles planos tão perfeitos.
Permitindo que o espectador apreenda elementos importantes da história dos personagens através de um número reduzido de informações, Las Acacias aproxima o público daquelas pessoas de maneira tão eficiente que, ao final, apenas a respiração mais pesada de Rubén já nos comove profundamente. E, neste aspecto, a inteligência do diretor estreante é também demonstrada quando o sujeito revela não ter visto seu único filho nos últimos oito anos e Jacinta não se preocupa em perguntar o motivo – e nem precisaria, já que sabe que aquela não será uma história feliz.
E daquele conjunto de tristezas e desilusões nasce um filme sensível, tocante e admirável.
29 de Outubro de 2011