Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
21/09/2012 | 01/01/1970 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Vinny Filmes | |||
Duração do filme | |||
127 minuto(s) |
Dirigido por Maïwenn Le Besco. Com: Karin Viard, Joey Starr, Marina Foïs, Maïwenn Le Besco, Karole Rocher, Nicolas Duvauchelle, Emmanuelle Bercot, Frédéric Pierrot, Arnaud Henriet.
De todas as formas de violência possíveis, talvez aquelas que mais nos afetem sejam as dirigidas contra crianças. É preciso um tipo especial de canalhice para ferir física ou psicologicamente criaturas tão indefesas, ingênuas e confiantes – e mal posso imaginar o peso sentido por aqueles que devotam suas vidas a lidar com crimes desta natureza. São estes profissionais, aliás, que protagonizam este Políssia, cujo roteiro usou como base apenas casos reais observados pela diretora, co-roteirista e atriz Maïwenn Le Besco no tempo que acompanhou os trabalhos da Divisão de Crimes contra Menores da polícia francesa.
Assumindo um tom documental através da câmera sempre na mão que parece observar os acontecimentos sem planejamento, o filme não investe em uma trama específica, preferindo, em vez disso, se concentrar nas relações entre os vários policiais que compõem o departamento e alguns dos casos que caem em suas mãos. Assim, ao longo dos 127 minutos de projeção temos a chance de realmente conhecer aquelas pessoas e seus traços de personalidade, desde o caráter explosivo e impulsivo de Fred (Starr) até o cinismo de Iris (Foïs), passando pela emotividade de Nadine (Viard) e a paixão de Mathieu (Duvauchelle) pela parceira Chrys (Rocher).
Para alcançar este efeito, o roteiro de Maïwenn e Emmanuelle Bercot (ambas também presentes no elenco) enfoca os detetives em diversos momentos isolados de seu cotidiano: em um momento, acompanhamos um interrogatório que denota o tato que devem ter ao questionar testemunhas infantis; em outro, surgem dançando e bebendo numa boate apenas para, em seguida, brigarem raivosamente por causa de uma bobagem qualquer. Da mesma maneira, o filme não se furta de retratar as frustrações profissionais que fazem parte do trabalho, como no instante em que os policiais descobrem que um de seus carros foi requisitado por outro departamento ou aquele em que um suspeito bem relacionado consegue se livrar sem maiores consequências. No entanto, mais importante é perceber como aquelas pessoas acabam atuando como suporte psicológico umas das outras, como, por exemplo, na cena em que uma detetive muçulmana confronta um sujeito da mesma religião que obrigou a filha a se casar e seus colegas se colocam atrás dela para apoiá-la em sua explosão de revolta.
Infelizmente (ou felizmente?), por mais acostumados que estejam com a natureza de seu trabalho, os homens e mulheres retratados em Políssia não conseguem se desvencilhar das barbaridades que testemunham e nem se desligar das tarefas quando chega o momento de ir para casa – e, neste sentido, é comovente perceber como Fred se deixa afetar por um garotinho que deve ser afastado da mãe, moradora de rua, e como todos comemoram felizes a notícia de que um bebê ferido pela mãe drogada irá se recuperar.
Com um elenco homogeneamente soberbo (o que inclui os atores mirins em pequenas e fortes participações), Políssia se revelou, com sua complexidade temática e sua abordagem narrativa fascinante, um dos melhores trabalhos exibidos no Festival do Rio de 2011.
13 de Outubro de 2011
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011.