Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1970 | 01/01/1970 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
112 minuto(s) |
Dirigido por Sebastian Dehnhardt. Com: Vitali Klitschko, Wladimir Klitschko, Lennox Lewis, Chris Byrd.
Não sou um fã de esportes que têm a violência como base – e, desta maneira, foi com certa surpresa que me vi fascinado pelo já discutido Like Water, que girava em torno da carreira do lutador brasileiro Anderson Silva. Ainda assim, eu não esperava que Klitschko, documentário sobre os irmãos boxeadores Vitali e Wladimir, fosse além e me intrigasse não apenas em função de seus personagens, mas também do próprio boxe, que aqui surge como um esporte que envolve não só a força bruta e uma disciplina torturante, mas também estratégias das mais sutis.
Acompanhando a trajetória dos irmãos desde a infância até os tempos atuais, Klitschko parece não deixar lacunas a preencher em sua narrativa, indo até mesmo ao extremo de incluir imagens de arquivos do desastre em Chernobyl para ilustrar uma passagem da vida dos boxeadores, quando, ainda pré-adolescentes, moravam relativamente perto da usina, vendo o pai militar ser destacado para atuar no controle da tragédia (anos depois, ele desenvolveria câncer em função da exposição à radiação). De forma similar, o longa traz vídeos do início da carreira de Vitali, ainda quando praticava kickboxing, e que se contrapõem em sua precariedade aos vídeos em alta definição de seus embates mais recentes.
Repleto de entrevistas reveladoras sobre a dupla, incluindo depoimentos de antigos adversários como Lennox Lewis e Chris Byrd, o documentário ainda traz um cirurgião que, trabalhando à beira do ringue, explica como os lutadores usam os laços das luvas para abrir os ferimentos dos oponentes, provocando estragos que ficam óbvios, por exemplo, quando o diretor Sebastian Dehnhardt choca o espectador com closes que expõem a profundidade de um corte no supercílio de Vitali (“Dava para ver o algodão sumindo dentro da ferida”, comenta alguém).
Aliás, um dos pontos fortes de Klitschko reside em sua excelente fotografia, que, capturando momentos de lutas recentes dos irmãos, cria imagens belas e poderosas através de cores fortes e de câmeras lentas que, escancarando os estragos provocados por cada golpe, ilustram a violência dos combates (e, neste sentido, o design de som também se destaca). Mas, mais do que isto, estes instantes capturados pelos realizadores também servem como didática ilustração dos estilos diferenciados de Vitali e Wladimir – e é notável que consigamos perceber, através da câmera lenta e das explicações de especialistas, como o primeiro se mostra impulsivo e imprevisível enquanto o segundo, sempre em controle de sua técnica, usa a disciplina tática para ganhar vantagem nas lutas.
Porém, nada disso importaria caso os irmãos Klitschko não fossem figuras profundamente carismáticas e intrigantes: obviamente inteligentes (ambos foram bem-sucedidos em suas carreiras acadêmicas), eles se tornaram boxeadores não por falta de opções (como aponta um de seus adversários, com admiração), mas por amor ao esporte. E se a força física que exibem naturalmente poderia criar a impressão de estarmos diante de brutamontes, isto se desfaz com poucos minutos de projeção quando ouvimos as falas ponderadas e tranqüilas da dupla e testemunhamos o cuidado que exibem, por exemplo, ao ligarem para a mãe depois de cada combate.
Beneficiado ainda por uma trilha que ressalta a dramaticidade das lutas, Klitschko é provavelmente o melhor dos quatorze longas aos quais assisti durante o Festival de Tribeca 2011 – e com a vantagem de que, como leigo em boxe, ainda pude acompanhar cada embate com total incerteza sobre seus resultados. E confesso que, justamente por ter sido conquistado pelo carisma e pela história dos personagens, pela primeira vez encontro-me ansioso para acompanhar uma luta ao vivo.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival de Tribeca de 2011.
27 de Abril de 2011