Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
16/03/2012 | 01/06/2012 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
California | |||
Duração do filme | |||
76 minuto(s) |
Dirigido por Pablo Croce. Com: Anderson Silva.
Eu não sabia praticamente nada sobre o lutador Anderson Silva antes de assistir ao documentário Like Water. Apesar de ter acompanhado sua rápida luta contra Vítor Belfort, na qual derrubou o oponente com um chute ainda no primeiro round, Silva me pareceu apenas mais um brutamontes descerebrado que decidiu transformar em ganha-pão seu interesse em socar estranhos. Pois após a projeção, eu já havia me juntado à legião de admiradores do “Spider”.
Dirigido por Pablo Croce, o filme já surpreende a partir do momento em que Anderson abre a boca pela primeira vez e escutamos a voz calma e ponderada de um homem que, devotado à família e aos amigos, permanece casado com a namorada da adolescência e sofre ao ser obrigado a permanecer longe dos filhos durante os vários meses exigidos por seu árduo treinamento. Demonstrando imenso respeito pelas artes marciais (sua humildade diante de Steven Seagal chega a ser divertida), Silva considera-se um discípulo de Bruce Lee, que, não por acaso, abre a projeção em uma entrevista que explica o título do projeto, sendo seguido por outras imagens de arquivo que, trazendo momentos das lutas do protagonista, pinta rapidamente sua ascensão no Ultimate Fighting até chegar ao combate com Demian Maia, que gerou várias críticas pelo aparente descaso demonstrado pelo lutador.
E é aí que Like Water encontra sua estrutura: focando nos ataques na mídia sofridos por Silva, o documentário concentra-se em sua preparação para a luta seguinte contra Chael Sonnen e que passa a ser encarada não só como grande desafio, mas como a chance do UFC se livrar de um astro que se recusava a promover o evento com a presteza desejada pelo chefe do campeonato, Dana White. Assim, Croce e sua equipe ganham acesso quase irrestrito a treinamento do Aranha, que surge assistindo a lutas antigas do oponente e condicionando seu corpo até mesmo a receber pesados golpes (cuja força o diretor ressalta de forma simples e eficaz ao tremer a câmera a cada soco desferido pelo sparring). Além disso, ao longo dos 60 dias de preparação Anderson tem a chance de discutir vários aspectos de sua formação como lutador e suas preocupações com o futuro e com a família, estabelecendo-se, no processo, como um homem simpático e admirável.
Mas se o propósito do filme é pintar o lutador com as melhores tintas possíveis, isto se torna ainda mais óbvio ao percebermos que Sonnen é retratado como um vilão unidimensional: se Silva treina em um pequeno ginásio cercado pelos amigos, por exemplo, o norte-americano aparece no imenso e luxuoso centro de treinamentos da Nike. No entanto, o próprio desafiante se encarrega de destruir a própria imagem ao insistir em provocações baratas, insultos absurdos (dirigidos a Silva e ao Brasil) e ao não hesitar nem mesmo em criticar o ciclista Lance Armstrong por ter “bancado o coitado” ao anunciar ter câncer – e, desta forma, fica difícil condenar Like Water de maniqueísmo, já que Sonnen é claramente um imbecil.
Fascinante ao revelar os bastidores do UFC e do cotidiano dos lutadores (há uma cena especialmente divertida na qual vemos o cinturão do campeão na esteira de raios-X de um aeroporto), o filme só desaponta ao expor a artificialidade de alguns planos, como, por exemplo, aquele em que a câmera supostamente espia Silva rezando através de uma porta entreaberta – algo obviamente armado (e a narração do lutador nos momentos finais, embora se apresentando como um depoimento espontâneo, também peca pela falsidade). Ainda assim, é impossível manter-se impassível diante da imagem de um homem que, mesmo atacado de maneira baixa por com um adversário, faz questão de ajoelhar-se diante deste, expondo não só um senso esportivo irretocável como um imenso caráter.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival de Tribeca de 2011.
25 de Abril de 2011