Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/2011 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
138 minuto(s) |
Dirigido por Rachid Bouchareb. Com: Jamel Debbouze, Roschdy Zem, Sami Bouajila, Chafia Boudraa, Bernard Blancan.
Nascido em Paris e descendente de argelinos, o cineasta Rachid Bouchareb parece ter encontrado, no passado traumático e doloroso da França e suas colônias, um tema que busca exorcizar através de narrativas políticas com tons épicos que investem em personagens multifacetados e profundamente comprometidos com suas causas e seus ideais. Repetindo a parceria feita no excepcional Dias de Glória com os atores Jamel Debbouze, Roschdy Zem e Sami Bouajila (que aqui vivem personagens que, mesmo diferentes, têm os mesmos nomes daqueles vistos no longa de 2006), o diretor também deixou sua marca política no triste London River, que abordava as conseqüências do terrorismo a partir do ponto de vista das famílias dos civis mortos no fogo cruzado – uma tragédia que neste Fora da Lei encontra eco na reencenação do massacre de Sétif, ocorrido em 1945.
Escrito pelo próprio Bouchareb, o roteiro deste pré-candidato da Argélia ao Oscar 2011 traz o trio principal como irmãos que, expulsos de suas terras na Argélia, se entregam a jornadas diversas: enquanto Messaoud (Zem), o mais velho, se alista para enfrentar os alemães na Segunda Guerra, o caçula Saïd (Debbouze) investe no treinamento de jovens boxeadores, ao passo que o intelectual Abdelkader (Bouajila) é aprisionado depois de participar de manifestações pela independência do país logo que a guerra chega ao fim (e que resultou no massacre citado anteriormente). Anos depois, eles voltam a se encontrar na França, onde Saïd se tornou um pequeno trapaceiro e Messaoud, ferido no confronto com o Eixo, se uniu a Abdelkader num partido que aposta na luta armada para convencer o governo francês a abrir mão da colônia argelina.
Contando uma história que atravessa quase 40 anos, Fora da Lei faz constantes saltos no tempo enquanto desenvolve sua trama essencialmente política através da dinâmica entre os três irmãos: dono de uma determinação assustadora que eventualmente o condena ao isolamento emocional absoluto, Abdelkader, inicialmente chocado pela violência que testemunha, acaba se entregando com cada vez mais intensidade aos atos extremos que julga necessários para defender sua causa – e é com certa crueldade que delega ao irmão mais velho, talvez por já enxergá-lo como um assassino em função de sua participação na guerra, a execução de suas ordens implacáveis, ignorando (ou fingindo ignorar) os efeitos devastadores que aquilo provoca em Messaoud. E se Saïd é curiosamente o único dos irmãos visto com desgosto pela matriarca da família (que prefere fechar os olhos para a violência dos mais velhos enquanto aponta o dedo, impiedosa, para os pequenos crimes do caçula), é também aquele que se entrega sem reservas à paixão pela vida e pela família, tentando manter a proximidade com os demais mesmo que estes (Abdelkader, em particular) insistam em enxergá-lo com desapontamento.
Com uma fotografia escura e sufocante que reflete a natureza dos personagens, Fora da Lei é incrivelmente ambicioso em sua escala, mas é justamente por se deter em vários detalhes desnecessários da trajetória daqueles homens (como, por exemplo, o primeiro encontro entre o coronel Faivre e Abdelkader, que é bem encenado, mas dispensável no arco geral da narrativa) que acaba sendo prejudicado ao exibir um ritmo irregular que muitas vezes o leva a perder o foco.
Ainda assim, como não admirar um filme que traz, de maneira orgânica, duas passagens claramente inspiradas na trilogia O Poderoso Chefão (as mortes de Don Ciccio e de Apolonia, primeira esposa de Michael)? Pode não ser o suficiente para ignorar os claros problemas estruturais do longa de Bouchareb, que também peca por soar episódico demais, mas já é um bom começo.
24 de Outubro de 2010
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010.
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