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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/10/2007 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora

Resident Evil 3: A Extinção
Resident Evil: Extinction

Dirigido por Russell Mulcahy. Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Oded Fehr, Iain Glen, Ashanti, Mike Epps, Christopher Egan, Spencer Locke.

- Eu sou o futuro!

- Não, é apenas outro babaca.

Sério? “É apenas outro babaca.”? Isto foi o máximo que o roteirista (e diretor) picareta Paul W.S. Anderson conseguiu imaginar como frase de efeito a ser dita pela protagonista de Resident Evil 3? Será que, além de incompetente, Anderson agora também se tornou preguiçoso? Ora, bastaram algumas horas para que os leitores de meu blog Diário de Bordo enviassem sugestões bem mais interessantes, como “Então toma um presente!” (fala imediatamente seguida de disparos certeiros; “E o futuro a Deus pertence!” (dita ao mesmo tempo em que a mocinha enviava o vilão para um encontro com seu Criador; ou até mesmo “Wrong. You’re history!”. E se pensar em alternativas melhores não exigiu tempo algum daqueles que nem mesmo estavam envolvidos criativamente no projeto, nada justifica o pouco caso de alguém que, além de ser pago para escrever o roteiro, ainda assinava a produção do filme.

Infelizmente, o descuido do roteiro de Resident Evil 3: A Extinção não se limitou à pobreza dos diálogos, já que até mesmo o gancho deixado pelo capítulo anterior foi solenemente ignorado: ao final de Resident Evil: Apocalypse, Alice (Jovovich) escapava da corporação Umbrella ao lado de seus companheiros e, então, alguém dizia que “o projeto Alice” fora ativado, numa insinuação clara de que a fuga da heroína fazia parte dos planos dos malignos cientistas da empresa. Pois agora não apenas o vilão Dr. Isaacs (Glen) afirma que o sumiço da garota é prejudicial aos planos da Umbrella como o roteiro nem sequer se dá ao trabalho de tentar explicar o destino da garotinha Angie e da bela Jill Valentine, personagens tão importantes no episódio anterior, mas ausentes no novo longa.

A esta altura, você provavelmente já estranhou a ausência de uma breve sinopse de Resident Evil 3, já que costumo incluir uma descrição da trama logo no início de meus textos. O problema é que, graças ao corpo-mole de Paul W.S. Anderson, este A Extinção não tem realmente uma história a ser resumida: depois de começar com uma recriação do início do longa original (sim, esta produção já assume sua falta de originalidade no primeiro segundo de projeção), o filme continua a abusar de nossa boa vontade ao tentar nos convencer de que em apenas cinco anos o planeta seria capaz de se transformar em um deserto graças ao T-vírus – uma desculpa para que os produtores possam economizar no gasto com cenários ao investirem numa atmosfera de road movie ao estilo Mad Max (perdoe-me George Miller!).

Aliás, por falar em Miller, Resident Evil 3 resgata outro cineasta australiano do limbo das produções para a tevê: Russell Mulcahy, o mago por trás de Highlander, mas também o imbecil por trás de Highlander – A Ressurreição. Infelizmente, o diretor não aproveita a oportunidade para reafirmar seu talento, rodando as seqüências de ação de maneira óbvia e desinteressante (isto quando não apela para a montagem michaelbayniana, na qual nenhum plano pode durar mais de 2 segundos). Demonstrando o mesmo pouco caso de Anderson com relação à inteligência de seu público, Mulcahy ignora a natureza suja e desértica do mundo que criou e retrata seus personagens sempre limpos e asseados. E se isto pode parecer um detalhe insignificante para muitos espectadores, bem mais grave é o ridículo da cena em que dúzias de zumbis saem correndo de um container que, aparentemente, não tem fundo, surgindo como uma verdadeira cornucópia de mortos-vivos. Da mesma maneira, é curioso que algumas poucas criaturas consigam depenar um carro blindado ao passo que outras milhares delas se mostram incapazes de derrubar uma frágil grade de arame.

Roubando (opa, desculpem: “homenageando”) elementos de Os Pássaros e Alien: A Ressurreição (para não mencionar uma referência gratuita aos westerns spaghetti de Sergio Leone), este Resident Evil 3 falha até mesmo na tarefa de levar o público a se importar com seus personagens – e não há uma única baixa entre os mocinhos que realmente faça o espectador sentir um nó na garganta ou simplesmente pensar “Que pena. Era uma boa pessoa.”. Sim, Milla Jovovich exibe agilidade e convence como heroína de ação (e não há como negar a beleza de Ali Larter, cuja marca registrada é sua boca sempre semi-aberta de modo sensual), mas como explicar a estupidez de L.J. (Epps), que, de destaque no filme anterior, aqui se torna capaz de ocultar de todos o fato de ter sido mordido por um zumbi mesmo sabendo perfeitamente o que está em jogo? E será que um ator com formação teatral clássica como Iain Glen não percebe que interpretar um vilão não significa dizer todas as falas de forma cínica e fazendo cara de antipático?

Levando tudo isso em consideração, talvez o diálogo citado no início deste texto não seja tão impensado como imaginei e tenha sido criado por Anderson como uma piada particular – e talvez os “outros babacas” sejamos nós, que continuamos a enriquecer os produtores da franquia Resident Evil.

Observação: as duas primeiras alternativas citadas no início do artigo (“Então toma um presente!” e “O futuro a Deus pertence!”) foram sugeridas, respectivamente, pelos leitores Lucas Paio e Tiago Mallmann Sulzbach.

04 de Outubro de 2007

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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