Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/08/2004 | 23/04/2004 | 2 / 5 | 1 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Dirigido por Gary Winick. Com: Jennifer Garner, Mark Ruffalo, Judy Greer, Andy Serkis, Kathy Baker, Christa B. Allen, Alexandra Kyle, Sean Marquette.
É incrível que a Fox não tenha processado a Revolution e a Columbia, responsáveis por este De Repente 30, pelo plágio descarado envolvendo o divertido Quero Ser Grande, estrelado por Tom Hanks em 1988. Não apenas a trama principal daquele filme foi obviamente utilizada como `inspiração`, como também boa parte das piadinhas vistas ao longo da projeção. Na realidade, a grande diferença entre os dois projetos é o fato de que, no mais recente, todos os personagens envelhecem – porém, como a protagonista é a única pessoa que cresce `da noite para o dia`, isto não altera muito o desenvolvimento da narrativa. Ah, sim: e é claro que, desta vez, é uma garota que se torna subitamente adulta, e não um rapaz.
Frustrada por não ser tão popular como suas colegas de escola, a jovem Jenna Rink sonha em ter 30 anos de idade e ser bem-sucedida profissionalmente – algo que se torna realidade graças a um pó mágico que seu melhor amigo Matt comprou em algum lugar (tudo bem: a `máquina de desejos` de Quero Ser Grande também não fazia muito sentido). Inicialmente chocada por descobrir que 17 anos se passaram instantaneamente (apenas para ela; como eu disse antes, os demais personagens vivenciaram este período), Jenna constata com alegria que é uma das editoras de sua revista favorita (trabalhando sob a tutela de Richard, vivido por Andy `Gollum` Serkis). O único problema é que, aos poucos, a moça percebe que se transformou em uma pessoa fútil e desagradável, e que seu antigo melhor amigo tornou-se um estranho.
A partir daí, as principais situações e gags de Quero Ser Grande (cujo roteiro foi escrito por Gary Ross e Anne Spielberg, irmã de Steven) são incorporadas sem embaraço pelo filme: durante uma reunião, Jenna levanta o braço para pedir autorização para falar; em uma festa, ela cospe algo que havia experimentado; seu único confidente é o melhor amigo de infância; e, em certo momento, ela sente falta da juventude perdida ao ver um grupo de crianças brincando. Além disso, da mesma forma que o personagem de Tom Hanks conseguia se destacar no emprego graças à visão inocente que tinha do mundo e à sinceridade com que se expressava, Jenna é aplaudida pelos colegas da revista ao propor uma nova (e ingênua) linha editorial. A diferença é que, enquanto as idéias de Hanks faziam sentido naquele contexto, os projetos de Jenna são simplesmente horrorosos – e é ridículo que o filme tente nos convencer de que estes seriam aceitos por qualquer adulto com o mínimo de bom senso.
Adotando um tom nostálgico, com inúmeras referências aos anos 80, De Repente 30 se sai bem melhor ao fazer graça com o estilo cafona daquela década, com seus penteados repletos de laquê e as roupas excessivamente coloridas. E, como sou fã incondicional daquele período (sim, eu sei. Também me envergonho disso.), confesso que gostei imensamente da cena em que dezenas de pessoas recriam a coreografia do clipe Thriller, de Michael Jackson (por outro lado, a falta de inspiração dos roteiristas Josh Goldsmith e Cathy Yuspa fica patente pela falta de uma única piada sequer envolvendo o choque que Jenna sentiria caso soubesse das acusações de pedofilia contra o ex-rei do pop).
O roteiro também se enfraquece ao incluir as lições de moral rasteiras que os projetos de Hollywood tentam pregar sempre que percebem a fragilidade da história com a qual estão lidando. Assim, mais uma vez somos presenteados com a velha máxima de que `ser popular não é tão importante quanto ser uma pessoa legal`, e por aí afora. Aliás, com o objetivo de ilustrar para o público a crueldade da Jenna adulta, a dupla de roteiristas introduz uma menina que, ao ser cumprimentada pela protagonista em um elevador, diz: `Por que está falando comigo? Você sempre me ignora!` – uma fala artificial que jamais seria dita por alguém em situação semelhante (é óbvio que a garota está falando para o espectador, e não para Jenna). Mas o pior erro de De Repente 30 é ignorar o objetivo do projeto: por que contar a história de uma menina que se torna adulta se isto não será explorado pelo filme? Na maior parte do tempo, Jenna age como mulher, não como pré-adolescente (ao contrário do que ocorria em Quero Ser Grande, no qual Tom Hanks comportava-se como um garoto mesmo quando fazia tarefas de adulto).
Parte da responsabilidade por este problema também deve ser atribuída a Jennifer Garner, cujo trabalho nesta produção é tristemente irregular: já em sua primeira cena, aliás, ela mostra-se excessivamente exagerada ao tentar retratar o choque de sua personagem ao ver-se como uma mulher de 30 anos – e, mais tarde, ela parece se esquecer de que supostamente deveria agir como uma menina de 13 anos (ou, se age, não convence). Enquanto isso, Mark Ruffalo mais uma vez faz o que pode com um papel ingrato (como no fraco Em Carne Viva) e não causa forte impressão. Em contrapartida, o ator-mirim Sean Marquette merece destaque por viver de forma marcante a versão jovem de Ruffalo.
Para finalizar, creio ser interessante observar que, ao longo de De Repente 30, todas as mulheres bem-sucedidas profissionalmente são retratadas como pessoas frias, maldosas e traiçoeiras, enquanto aquelas que se mostram mais `caseiras` ganham imediatamente a simpatia da história. Por si só, esta visão machista e preconceituosa do papel feminino na sociedade moderna já deveria chamar a atenção – porém, a coisa fica ainda pior quando constatamos que o casal de roteiristas Josh Goldsmith e Cathy Yuspa também escreveu o igualmente chauvinista Do Que as Mulheres Gostam. Se a coisa continuar neste ritmo, não duvido nada de que, em algum tempo, os dois venham a escrever um filme de terror adolescente no qual o assassino mascarado seja uma executiva de sucesso chamada Frida Krueger ou Jasmine Voorhees.
17 de Maio de 2004