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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/01/2005 12/11/2004 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
87 minuto(s)

O Filho de Chucky
Seed of Chucky

Dirigido por Don Mancini. Com: Jennifer Tilly, Redman, Hannah Spearritt, John Waters, Nicholas Rowe, Jason Flemyng e as vozes de Brad Dourif e Billy Boyd.

É quase inevitável: basta uma série cinematográfica durar muito tempo e gerar vários `capítulos` que, mais cedo ou mais tarde, acabará por adotar um tom de auto-paródia. Aconteceu com A Hora do Pesadelo, Sexta-feira 13, Pânico, Superman, Batman e até mesmo com a franquia 007 (especialmente no período Roger Moore). Já com a cinessérie Brinquedo Assassino, a mudança foi tamanha que o próprio gênero dos episódios converteu-se do terror à comédia – uma transformação que se tornou evidente no divertido A Noiva de Chucky. Infelizmente, esta quinta parte, O Filho de Chucky, falha em todos os aspectos: não provoca sustos e muito menos faz rir.


Apostando no humor escrachado desde o início, quando os créditos surgem durante uma corrida de espermatozóides animados digitalmente, o filme apresenta um novo personagem, o boneco Shitface (voz de Billy Boyd, o hobbit Pippin da trilogia O Senhor dos Anéis), que seria o filho de Chucky e Tiffany, os brinquedos assassinos do capítulo anterior. Dócil e humilde, ele vive aterrorizado sob o poder de um sujeito que se passa por ventríloquo em competições pela Europa (o longa retrata estes concursos como se fossem shows de heavy metal, o que me faz acreditar que o diretor-roteirista Don Mancini não saiba muito bem o que é ventriloquismo). Certo dia, ao assistir a uma reportagem sobre as filmagens de uma produção de terror em Hollywood, Shitface descobre que seus pais estão sendo usados no projeto, que gira em torno dos `lendários` crimes cometidos por Chucky – e, é claro, viaja para Los Angeles a fim de se encontrar com o casal de plástico. Em outras palavras: Mancini copia descaradamente a premissa de O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger, que, aliás, já havia sido plagiada recentemente em Pânico 3.

Contando com um visual andrógino curioso (seus pais, na dúvida sobre seu sexo, o chamam alternadamente de Glen e Glenda, numa referência apropriada ao filme de Ed Wood), Shitface poderia ser uma boa adição à história, caso não se revelasse tão aborrecido(a), já que se limita apenas a lamentar a própria sorte e a suspirar, deprimido(a). Enquanto isso, os animatronics (os `robôs` que dão vida aos personagens) são manipulados de maneira apenas correta: fazem o trabalho, mas não revolucionam a técnica.

Por outro lado, O Filho de Chucky se torna suportável (o que já é um avanço, acreditem) sempre que a atriz Jennifer Tilly mergulha no humor auto-depreciativo: fazendo o papel de si mesma, ela demonstra possuir um espírito esportivo colossal, já que não hesita em buscar o riso através de análises brutais (mas corretas) sobre a própria carreira, como na cena em que protesta por jamais ser levada a sério em Hollywood, apesar de já ter sido indicada ao Oscar (por Tiros na Broadway, de Woody Allen). Já em outro momento, é a vez de Chucky fazer um comentário sobre a voz insuportável da atriz (que também dubla Tiffany) – algo que, aproveito para lembrar, eu já havia mencionado ao escrever sobre A Mansão Mal-Assombrada.

Infelizmente, os instantes de maior inspiração do roteiro param por aí, já que, no restante do tempo, somos obrigados a testemunhar piadinhas óbvias envolvendo A Paixão de Cristo, O Iluminado e Britney Spears (na realidade, uma sósia, exatamente como David Zucker fez com Michael Jackson em Todo Mundo em Pânico 3). Aliás, nem mesmo a participação especial do cineasta cult John Waters é capaz de tornar a experiência mais interessante – e nem poderia, já que o roteiro de Mancini é uma bagunça generalizada, incluindo seqüências de sonho (algo que geralmente indica que o roteirista precisava desesperadamente de aumentar a duração do projeto, mas não conseguiu ter idéia melhor) e diálogos pavorosos. Além disso, Mancini sequer tenta explicar como Chucky e seus companheiros conseguem entrar nas casas (ou quartos de hospital) em que suas vítimas se encontram; eles simplesmente aparecem nos lugares apropriados.

Porém, o fracasso de Mancini não se limita ao roteiro. Estreando como diretor, ele prova não ter aprendido nada em seus quase 20 anos em Hollywood – mas, pensando bem, o que ele poderia ter aprendido com `diretores` como Tom Holland, Jack Bender e John Lafia? Assim, o máximo que Mancini consegue fazer é entregar-se ao vício tão comum entre cineastas preguiçosos: a câmera subjetiva. Aliás, ele exagera tanto na utilização do recurso que, em certo momento, exibe o ponto de vista de uma personagem e, ao cortar para o plano seguinte, percebemos que agora estamos enxergando tudo através dos olhos de Chucky, ou seja: dois planos subjetivos relacionados a personagens diferentes surgem em seqüência! Mais amador, impossível.

De todo modo, os fãs da série talvez se contentem com todo o sangue visto na tela, já que, seguindo o padrão dos demais capítulos, O Filho de Chucky é bastante gráfico em sua violência.

Ainda assim, não posso deixar de pensar que seria ótimo se Chuky fosse estéril.

04 de Dezembro de 2004

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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